Escrito por: Eduardo Maretti, da RBA
Revista britânica diz que presidente brasileiro “semeia a divisão”, trata críticas como “notícias falsas” e tem “instintos tão autoritários quanto Trump”
A revista britânica The Economist publica esta semana uma matéria sobre a sucessão presidencial brasileira prevendo que, “vença ou perca, Jair Bolsonaro representa uma ameaça à democracia brasileira”. Na tarde de hoje (8), o texto no site da publicação, uma das mais importantes da Europa, só era mais acessado que a notícia da morte da rainha Elizabeth.
“Joe Biden estava falando sobre os Estados Unidos quando alertou, em 1º de setembro, que ‘a democracia não pode sobreviver quando um lado acredita que há apenas dois resultados em uma eleição: ou vencem ou foram enganados’”, diz a matéria, observando em seguida que o chefe de governo dos Estados Unidos “poderia muito bem estar falando sobre o Brasil”.
Segundo a revista, no dia 2 de outubro Jair Bolsonaro vai enfrentar “uma eleição que todas as pesquisas dizem que ele provavelmente perderá”. Depois de explicar que “o sistema de votação eletrônica do Brasil é bem administrado”, a análise afirma ser “exatamente aqui que está o problema”. Isso porque Bolsonaro “continua insinuando que a eleição pode de alguma forma ser manipulada contra ele”.
Embora não ofereça nenhuma prova, prossegue The Economist, muitos de seus apoiadores acreditam em suas insinuações. “Ele parece estar lançando as bases retóricas para denunciar ‘fraude eleitoral’ e negar o veredicto dos eleitores”. Esse ambiente produz nos brasileiros o temor de que ele “possa incitar uma insurreição, talvez como a que a América sofreu quando uma multidão de apoiadores de Donald Trump invadiu o Capitólio em 6 de janeiro de 2021 – ou talvez até pior”.
A revista do Reino Unido diz ainda que, em seus ataques contra a democracia, Bolsonaro “semeia a divisão” no país, “descarta as críticas como ‘notícias falsas'” e acrescenta que os “instintos” do presidente brasileiro “são tão autoritários quanto os de Trump: ele se mostra nostálgico sobre os dias do regime militar no Brasil.”
A edição afirma que o mandatário brasileiro convenceu seus apoiadores de que, “se ele perder, é prova de que o voto foi injusto” e, em segundo lugar, de que “uma vitória de seu principal adversário, Luiz Inácio Lula da Silva, entregaria o Brasil ao diabo”.
Outros veículos repercutiram a “celebração” por Bolsonaro do 7 de Setembro, sequestrado pelos seus interesses eleitorais. O The New York Times citou o termo “imbrochável”, usado pelo presidente brasileiro, qualificando a expressão como “um pouco vulgar” e explicando que quer dizer “never limp” (‘nunca falha’, em tradução livre).
O jornal nova-iorquino disse também que Bolsonaro desta vez adotou postura “mais suave” contra as instituições da democracia do país do que em ocasiões anteriores. Porém, a constação não corresponde à verdade. Em seu ato de campanha com uso de recursos públicos, o presidente não foi só vulgar, mas também repetiu ameaças e incentivou o ódio e a violência.
Referiu-se, por exemplo, a Lula com termos que não condizem com sua posição de presidente e deu outra vez o tom de incentivo inequívoco à violência: “Esse tipo de gente tem que ser extirpada da vida pública”, disse reafirmando o ódio como arma política. Sentimento que se espalha pelo continente e que motivou, por exemplo, o assassinato do dirigente do PT em Foz do Iguaçu (PR) Marcelo Arruda, em julho, ou mesmo quase matou a vice-presidente argentina Cristina Kirchner, na semana passada.
Por sua vez, o francês Le Monde destacou o “imenso comício eleitoral” do 7 de Setembro e citou os caminhões de som bolsonaristas conclamando seguidores a desligar as TVs, alegando que “imprensa e pesquisas mentem”. “Neste ano, o presidente se privou de pedir ruptura institucional ou contestar a urna eletrônica. Mas seus apoiadores fizeram isso por ele”, escreveu o principal jornal daquele país.