TJ-MG coloca polícia para agir com truculência em acampamento do MST
Com 400 famílias, Quilombo Campo Grande, no sul de Minas, resiste a ordem de despejo que deveria estar suspensa durante a pandemia
Publicado: 12 Agosto, 2020 - 14h53
Escrito por: Redação RBA
Na madrugada desta quarta-feira (12), a pacata cidade de Campo do Meio (MG) se transfigurou em cenário de guerra. Viaturas e policiais de outras cidades chegaram ao município para realizar o despejo de 400 famílias da área de 52 hectares. A área fica no entorno da sede da antiga Usina Ariadnópolis e na Escola Popular Eduardo Galeano. A ação de despejo dos acampados no Quilombo Campo Grande foi precedida da presença de viaturas e drones, que atormentam desde o dia 30 de julho a paz das famílias que vivem e trabalham no local.
Nesse dia, a polícia invadiu casas e levou um sem-terra preso. A ação foi realizada sem mandado. O MST denunciou o objetivo de coagir e incriminar os trabalhadores. Isso foi confirmado com a soltura do sem terra Celso Augusto no mesmo dia, e pela nota publicada pela Polícia Civil. “Um facão e fogos de artifícios foram apreendidos no local, e um indivíduo preso por resistência”, dizia a nota.
Os dias seguiram tumultuados, com a intensificação da denúncia do despejo iminente no Quilombo Campo Grande, a busca de saídas jurídicas junto ao Ministério Público e a organização do acampamento para a resistência. Em meio à corrida contra o tempo, circularam áudios das famílias denunciando as ações autoritárias, as rondas de viaturas aceleradas, as blitze nas estradas de acesso à pequena cidade.
Manifestações de apoio
Em contraponto, também circularam nas redes dezenas os vídeos em apoio aos trabalhadores rurais. Manifestações em cartas enviadas ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) e na moção on-line envolveram representantes de mais de 20 países e de 32 entidades internacionais e nacionais, 98 coletivos e representações acadêmicas.
O Conselho Estadual de Direitos Humanos (CONEDH), a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Minas Gerais, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e a Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDESE) alertaram, sem obter respostas, o Tribunal de Justiça para os riscos de uma ação de despejo diante da pandemia.
O documento afirma que “diante da iminência de uma lesão irreparável e grave aos Direitos Humanos e ao direito à saúde, solicita-se a suspensão da ordem de cumprimento da liminar possessória para desocupação do imóvel”.
Aliado de estelionatários
Sem amparo do governo Zema, aliado dos estelionatários, ex-proprietários das terras, as famílias foram abrigadas pelo MST no assentamento próximo ao local. “Essa é a realidade quando se coloca fascistas no governo. Mesmo sendo de conhecimento de todos a manobra corrupta feita com um juizeco local, nenhum órgão público conseguiu interceder para que as famílias ficassem em suas casas, mesmo no meio da pandemia. Mas nós aprendemos sempre a voltar mais fortes. E eles podem esperar, vai ter retorno. Essa terra é nossa por direito e não abrimos mão de nenhum centímetro dela”, alerta Tuíra Tule, da direção estadual do MST.
São 22 anos de conflito e resistência no território, lidando com pistoleiros e ameaças, a mando de Jovane de Souza Moreira. Após enfrentar cinco despejos, as famílias do MST conhecem o caminho para retornar com mais força e conquistar a terra. O movimento reafirma que naquela área, será construído um polo de conhecimento e tecnologia em agroecologia.