Escrito por: Redação RBA
Com 400 famílias, Quilombo Campo Grande, no sul de Minas, resiste a ordem de despejo que deveria estar suspensa durante a pandemia
Na madrugada desta quarta-feira (12), a pacata cidade de Campo do Meio (MG) se transfigurou em cenário de guerra. Viaturas e policiais de outras cidades chegaram ao município para realizar o despejo de 400 famílias da área de 52 hectares. A área fica no entorno da sede da antiga Usina Ariadnópolis e na Escola Popular Eduardo Galeano. A ação de despejo dos acampados no Quilombo Campo Grande foi precedida da presença de viaturas e drones, que atormentam desde o dia 30 de julho a paz das famílias que vivem e trabalham no local.
Nesse dia, a polícia invadiu casas e levou um sem-terra preso. A ação foi realizada sem mandado. O MST denunciou o objetivo de coagir e incriminar os trabalhadores. Isso foi confirmado com a soltura do sem terra Celso Augusto no mesmo dia, e pela nota publicada pela Polícia Civil. “Um facão e fogos de artifícios foram apreendidos no local, e um indivíduo preso por resistência”, dizia a nota.
Os dias seguiram tumultuados, com a intensificação da denúncia do despejo iminente no Quilombo Campo Grande, a busca de saídas jurídicas junto ao Ministério Público e a organização do acampamento para a resistência. Em meio à corrida contra o tempo, circularam áudios das famílias denunciando as ações autoritárias, as rondas de viaturas aceleradas, as blitze nas estradas de acesso à pequena cidade.
Em contraponto, também circularam nas redes dezenas os vídeos em apoio aos trabalhadores rurais. Manifestações em cartas enviadas ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) e na moção on-line envolveram representantes de mais de 20 países e de 32 entidades internacionais e nacionais, 98 coletivos e representações acadêmicas.
O Conselho Estadual de Direitos Humanos (CONEDH), a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Minas Gerais, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e a Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDESE) alertaram, sem obter respostas, o Tribunal de Justiça para os riscos de uma ação de despejo diante da pandemia.
O documento afirma que “diante da iminência de uma lesão irreparável e grave aos Direitos Humanos e ao direito à saúde, solicita-se a suspensão da ordem de cumprimento da liminar possessória para desocupação do imóvel”.
Sem amparo do governo Zema, aliado dos estelionatários, ex-proprietários das terras, as famílias foram abrigadas pelo MST no assentamento próximo ao local. “Essa é a realidade quando se coloca fascistas no governo. Mesmo sendo de conhecimento de todos a manobra corrupta feita com um juizeco local, nenhum órgão público conseguiu interceder para que as famílias ficassem em suas casas, mesmo no meio da pandemia. Mas nós aprendemos sempre a voltar mais fortes. E eles podem esperar, vai ter retorno. Essa terra é nossa por direito e não abrimos mão de nenhum centímetro dela”, alerta Tuíra Tule, da direção estadual do MST.
São 22 anos de conflito e resistência no território, lidando com pistoleiros e ameaças, a mando de Jovane de Souza Moreira. Após enfrentar cinco despejos, as famílias do MST conhecem o caminho para retornar com mais força e conquistar a terra. O movimento reafirma que naquela área, será construído um polo de conhecimento e tecnologia em agroecologia.