TJ-SP condena Bolsonaro por ofensas a repórter da Folha
Além de manter condenação da primeira instância, Tribunal elevou indenização a ser paga pelo presidente à jornalista Patrícia Campos Mello
Publicado: 29 Junho, 2022 - 11h20 | Última modificação: 29 Junho, 2022 - 11h25
Escrito por: Redação CUT | Editado por: Marize Muniz
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) manteve nesta quarta-feira (29) a condenação do presidente Jair Bolsonaro (PL) por ofensas à honra da jornalista Patrícia Campos Mello, repórter da Folha de S Paulo. Além disso, quatros dos cinco desembargadores decidiram aumentar a indenização que Bolsonaro pagará à trabalhadora para R$ 35 mil.
Votaram a favor a relatora Clara Maria Araújo Xavier e os desembargadores Pedro de Alcântara, Silvério da Silva e Theodureto Camargo. O único a acolher a tese da defesa, de que o presidente não usou a expressão "furo" no sentido sexual, foi o desembargador Salles Rossi.
Em uma postagem no Twitter, Patrícia disse que a decisão do TJ é também uma vitória das mulheres. "Por 4x1, o TJ de SP decidiu que não é aceitável um presidente da República ofender, usando insinuação sexual, uma jornalista. Uma vitória de todas nós mulheres."
Ganhamos!!!! Por 4x1, o TJ de SP decidiu que não é aceitável um presidente da República ofender, usando insinuação sexual, uma jornalista. Uma vitória de todas nós mulheres. Agradeço à brilhante @taisgasparian e a todos vocês pela mobilização, sem vcs não seria possível.
— Patricia Campos Mello (@camposmello) June 29, 2022
Entenda o caso
Em fevereiro de 2020, no cercadinho onde costuma parar para falar com seus apoiadores, Bolsonaro usou o termo "dar o furo" (um jargão jornalístico) para sugerir que a jornalista teria se insinuado sexualmente para obter informações.
O presidente estava furioso porque a jornalista fez uma série de reportagens revelando o esquema de disparos em massa e uma rede de empresas contratadas para enviar lotes de mensagens que favoreciam Bolsonaro durante as eleições de 2018. O esquema fez uso fraudulento de nomes e CPFs de idosos.
Ao falar com os apoiadores, ele citou o depoimento do ex-funcionário de uma agência de disparo de mensagens em massa por WhatsApp, Hans River do Nascimento, que mentiu à CPMI das Fake News dizendo que a jornalista queria "um determinado tipo de matéria a troco de sexo".
"Olha a jornalista da Folha de S.Paulo. Tem mais um vídeo dela aí. Não vou falar aqui porque tem senhoras aqui do lado. Ela falando: 'Eu sou (...) do PT', certo? O depoimento do Hans River foi final de 2018 para o Ministério Público, ele diz do assédio da jornalista em cima dele", disse o presidente, para em seguida, aos risos, fazer o insulto com insinuação sexual.
"Ela [repórter] queria um furo." Na sequência, Bolsonaro muda de tom e arregala os olhos e diz: "Ela queria dar o furo [risos dele e dos demais]". Após uma pausa durante os risos, Bolsonaro concluiu: "A qualquer preço contra mim".