Trabalhadores conquistam abertura de negociação e suspendem greve na Dataprev
Depois de mediação no TST, trabalhadores da estatal voltam ao trabalho organizados e mobilizados, prontos para lutar contra demissões e privatização
Publicado: 05 Fevereiro, 2020 - 17h51 | Última modificação: 05 Fevereiro, 2020 - 18h05
Escrito por: Érica Aragão
Depois de 14 dias de greve contra as 493 demissões anunciadas na Dataprev e a decisão do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) de privatizar a estatal, os trabalhadores e as trabalhadoras da empresa retornaram aos seus postos de trabalho nesta quarta-feira (5).
A decisão de suspender a greve foi aprovada em assembleia realizada na manhã desta quarta, quando os sindicalistas informaram aos trabalhadores o resultado da audiência realizada nesta terça-feira (4) no Tribunal Superior do Trabalho (TST).
A ministra Kátia Magalhães Arruda, do TST, sugeriu a suspensão da greve, das demissões e o não desconto dos dias parados até que as partes cheguem a um acordo mediado pela vice-presidência do Tribunal.
Os sindicalistas comemoram a abertura de negociação e a suspensão das medidas que a empresa havia anunciado, mas alertam a categoria que a luta é muito maior e vai exigir muita organização e mobilização de todos e todas. Segundo eles, o governo de Jair Bolsonaro já indicou que quer privatizar unidades da Dataprev em todo o Brasil. Antes disso, alertaram, querem fechar, precarizar, demitir.
"Vencemos a batalha, mas não a guerra”, afirmou o presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Processamento de Dados (Fenadados), Carlos Gandola.
Segundo ele, a ideia do governo é centralizar atividades da Dataprev nos estados do Ceará, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo, além do Distrito Federal, onde estão situadas as Unidades de Desenvolvimento (UDs) e os Datacenters.
“Imagina a Dataprev privatizada e a empresa multinacional querer renegociar os benefícios dos aposentados e pensionistas e ameaçar suspender os benefícios por entender que o valor está inadequado”, questionou Carlos que alertou também sobre a vulnerabilidade dos dados pessoais dos brasileiros.
Segundo o presidente da Fenadados, a Federação tem se mantido firme junto com os trabalhadores. Todos sabem que a entidade não vai negociar a demissão em massa. O objetivo da entidade e dos sindicatos filiados é a recolocação dos trabalhadores e trabalhadoras da Dataprev no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).
“São trabalhadores que podem contribuir para diminuir a fila de mais de 2 milhões de pessoas que estão aguardando benefícios do INSS. Eles são capacitados, já trabalharam internamente no INSS e têm total condição de ajudar a minimizar a situação de milhares de brasileiros”, destacou Carlos.
O dirigente contou que a mediação no âmbito da vice-presidência do TST acontece ainda essa semana, mas não tem data marcada.
“Provavelmente vamos começar a negociar nesta sexta-feira (7). A confirmação sai ainda hoje”, destacou o presidente da Fenadados.
Clima entre os trabalhadores
O Portal CUT conversou sobre o clima na empresa e no movimento grevista com um trabalhador da Dataprev que não quis se identificar com medo de represálias.
Segundo ele, o clima é de vitória, mas os trabalhadores e as trabalhadoras sabem que a luta continua.
“Eu trabalho nesta empresa desde 1984 e nunca vi uma greve tão forte e unificada desta, mas mesmo assim a gente continua apreensivo porque entende que é uma trégua e que o problema continua”, disse o trabalhador se referindo a luta pela realocação dos trabalhadores da Dataprev em 20 estados.
O trabalhador afirmou que os colegas da Dataprev estão muito confiantes nos sindicatos e na federação. “Nós trabalhadores sabemos a importância da instituição de classe em batalhas como essa. Estamos construindo uma história de vitória e de fortalecimento da luta porque sabemos que a guerra continua”, destacou.
Ele também fez questão de dizer que os trabalhadores e as trabalhadoras da Dataprev estão muito indignados e com raiva do secretário especial de Desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar, que acusou abertamente os trabalhadores do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e da Dataprev de venderem os dados da população.
“Nós iremos entrar com uma ação na justiça contra esta calúnia. O governo com ajuda deste ministro quer demonstrar para a população que a estatal não funciona para justificar a privatização. Isto é uma mentira. A Dataprev é uma empresa premiada até entre empresas privadas e superavitária, com cerca de 3,6 mil empregados de reconhecida qualificação profissional”, finalizou.
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