Escrito por: Luiz R Cabral
Confederação, Federação e Sindicato do setor aeronáutico contestam as normas sobre a jornada de trabalho que obriga pilotos e tripulação a se submeterem a jornadas exaustivas
Toda vez que existe um acidente aéreo como o do voo 2283 da Voepass em Vinhedo (SP), que deixou 62 mortos, na semana passada, vem à pauta a questão da precarização da mão de obra dos trabalhadores e trabalhadoras da aviação civil (é preciso ressaltar que as causas do acidente ainda estão sendo investigadas e, que, portanto, não podemos afirmar que a tragédia ocorreu por este motivo). Mas, o fato de Guilherme Baccar, amigo do piloto Danilo Santos Romano, que estava no comando do avião que caiu, ter tido que ele foi escalado na última hora para trabalhar reforça a necessidade de se debater o assunto.
Segundo Patrícia Luzia Gomes, Coordenadora Geral para o Setor Aéreo na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), essa situação de ser chamado de última hora para assumir algum voo é comum quando o piloto está de sobreaviso, podendo mesmo sem ter voo definido para realizar, ele pode ser chamado, a qualquer momento, para trabalhar.
Mas Patrícia avisa: “o que tem acontecido é que como não se tem tido profissionais para assumir essas escalas, elas [as empresas] têm chamado os profissionais para trabalharem nas folgas”.
Trabalhadores e trabalhadoras do setor da Aviação Civil há tempos vem contestando as normas sobre a jornada de trabalho que obriga pilotos e tripulação a se submeterem a jornadas exaustivas, deixando frágeis a saúde dos mesmos, a segurança do voo e dos passageiros.
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Segundo Marcelo Tavares, para tentar amainar os problemas no setor aéreo se faz urgente a formação de um Fórum permanente com a participação dos trabalhadores da categoria para discutir essas questões. “Já foi encaminhado ao ministro Sílvio Costa, no começo do ano, o pedido de criação desse Fórum, mas até agora nada”, afirmou o presidente do Sina.
Na nota assinada em conjunto pelo presidente em exercício da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), e pelo presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil (FENTAC-CUT), Eduardo Guterra, as entidades também reforçaram, junto ao governo federal, a ativação “o mais rápido possível do Fórum Permanente dos Trabalhadores da Aviação Civil” para garantir a saúde e a segurança desses profissionais no exercício da profissão.
Atualização do desastre aéreo
Até o momento o Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo confirmou que todas as vítimas (62 pessoas) do acidente faleceram em decorrência de politraumatismo.
O IML conseguiu identificar 27 dos corpos, sendo 23 por impressões digitais e quatro por meio da análise da arcada dentária. As famílias de 15 vítimas já receberam o atestado de óbito e podem prosseguir com os preparativos para os enterros.
Ainda não há uma estimativa para a conclusão da identificação de todos os corpos envolvidos no trágico acidente.