Trabalhadores da Bomix (BA) entram em greve contra conduta abusiva da empresa
Funcionários resolveram dar um basta até que empresa negocie. Eles reclamam de assédio moral, demissões injustas, atrasos e não pagamento de horas extras, vales transporte e refeição
Publicado: 04 Fevereiro, 2019 - 17h14
Escrito por: Andre Accarini
Todos os cerca de 400 trabalhadores e trabalhadoras da Bomix, que fabrica produtos plásticos, na região metropolitana de Salvador, entraram em greve às 5h da manhã desta segunda-feira (4), em protesto contra a má-conduta da empresa.
Segundo o secretário de Imprensa do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Química, Petroquímica, Plástica e Farmacêutica do Estado da Bahia (Sindiquímica-BA), Alfredo Santos Júnior, os trabalhadores não estão recebendo benefícios como vale-transporte e refeição e horas extras. Além de práticas antissindicais e demissões injustas.
Mobilizados e dispostos a dar um basta na situação, que Alfredo chama de “opressora e coronelista” da empresa que “trata seus funcionários, quase como escravos, humilhando-os frequentemente”, os trabalhadores resolveram cruzar os braços até que a direção negocie os direitos devidos e as relações de trabalho. Até lá, “máquinas paradas”.
A Bomix, em seu portal, se anuncia como uma “empresa comprometida com a sociedade, que participa de projetos sociais em incentivo ao desenvolvimento de indivíduos”. Mas a realidade dos trabalhadores no chão de fábrica é de assédio moral e arbitrariedades.
Alfredo, que também é secretário de Administração e Finanças da CUT Bahia, conta que um dos trabalhadores que não recebeu vale-transporte teve de faltar ao serviço por não ter dinheiro para pagar a condução e, por isso, foi demitido por justa causa.
Veja que absurdo. O cara foi demitido por justa causa, sem nenhum direito, porque faltou um dia no trabalho. Faltou porque não tinha dinheiro para a condução e a empresa, que tinha que dar o vale-transporte, não deu
De acordo com Alfredo, muitos trabalhadores batem ponto às 5h da manhã e têm que sair de casa ainda de madrugada, já que o centro Industrial de Aratú, onde fica a fábrica, é afastado do centro urbano, mas esperam duas horas e meia pelo café da manhã. E se ousarem comer algo neste intervalo são punidos.
“Eles têm que sair às 3h da manhã de casa para chegar 15 minutos antes no trabalho e só vão ter a primeira pausa para lanche às 7h30. Um que estava com fome, e comia uma fruta, foi demitido por justa causa. É nesse nível de absurdo”.
Práticas desse nível são recorrentes na Bomix e o Sindiquímica-BA já vinha denunciando a empresa. De acordo com Alfredo, “havia até um processo de mediação na Superintendência Regional do Trabalho, a partir das denúncias das irregularidades, relatadas por um representante do sindicato, Octacilio dos Santos, que é trabalhador da fábrica e, por isso, foi demitido”.
Prática Antissindical
Mesmo com estabilidade por ser sindicalista, Octacilio foi dispensado por justa causa. Ele é diretor do Sindquímica-BA e já exerce há dois anos a função de delegado sindical na empresa.
Ele conta que, por ser sindicalista, sempre sofreu perseguições e assédio moral, como ser alocado em espaços onde não há condições mínimas de trabalho, ser isolado dos demais companheiros, sem ajuda de ninguém, além de receber advertências aleatórias. Até os trabalhadores que se alinham à filosofia do dirigente, de defesa dos direitos, também acabam sofrendo na mão dos chefes.
Hoje eu ‘tô’ aqui, demitido pelo fato de lutar pelos direitos dos trabalhadores
A greve
Os funcionários não têm data prevista para voltar ao trabalho. Exigem uma posição da empresa e o pagamento dos direitos, não apenas dos vales transporte e alimentação e das horas-extras, mas também a revisão da Participação nos Lucros e Resultados (PLR). “Recebemos um valor mínimo. A empresa lucra muito, triplicou a produção e a gente ganhou só R$ 700 de PLR”.
Segundo Alfredo Santos, todos eles “se cansaram de ver as injustiças e pararam a produção, voluntariamente”.
Eles exigem também a reintegração do sindicalista ao quadro. Octacílio, caso não volte ao trabalho, terá de processar a empresa pela prática antissindical que resultou em sua demissão. O parágrafo terceiro do artigo 543 Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ainda garante estabilidade aos trabalhadores que são dirigentes sindicais.
Tá difícil ser empresário?
A empresa, ainda segundo o delegado sindical Octacílio dos Santos, não passa por dificuldades financeiras, pelo contrário, o ritmo da produção é acelerado e tem crescido ao longo dos tempos. “Balde vende que nem água. Eles não estão em complicação financeira”.
Tanto Octacílio quanto Alfredo consideram que a conduta da empresa tem um objetivo maior, que é o de pressionar e demitir e então recontratar nos moldes da reforma Trabalhista, suprimido direitos. Um trabalhador da empresa ganha, em média, R$ 1.080,00 por mês.
Outro lado
O Portal CUT tentou ouvir a Bomix. Em um primeiro contato, a pessoa que atendeu ao telefone disse que a assessoria de imprensa falaria às 13h30 desta segunda. No horário marcado, a reportagem do Portal CUT ligou várias vezes, mas ninguém atendeu ao telefone.