Escrito por: CUT-RS
Após privatização e sem acordo coletivo renovado, trabalhadores da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) estão paralisados há 23 dias contra o corte do abono alimentação e do plano de saúde
A greve dos trabalhadores e trabalhadoras da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), contra a retirada de direitos históricos e as demissões, nesta quinta-feira (6), que completa 23 diascontou com o apoio e solidariedade da CUT-RS.
O movimento acontece após o leilão de privatização da CEEE-Distribuidora, em 31 de março, adquirida em lance único pelo Grupo Equatorial Energia por apenas R$ 100 mil.
Ao participar no início da tarde do “piquete virtual”, promovido pelo Sindicato dos Eletricitários do Rio Grande do Sul (Senergisul) e o Sindicato dos Técnicos Industriais de Nível Médio (Sintec-RS), o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, ressaltou a importância da resistência e da organização dos trabalhadores.
“Nós apoiamos a greve irrestritamente. E nos colocamos à disposição para estarmos juntos, auxiliando no que for necessário. Também assumimos o compromisso de divulgar e informar a população sobre o que está acontecendo”, disse.
O piquete é realizado diariamente, através de uma plataforma on-line para debater o andamento da mobilização com o conjunto da categoria.
Retirar direitos para baratear a privatização
A paralisação teve início em 15 de abril pela manutenção do acordo coletivo, cuja vigência terminou em 28 de fevereiro.
Em vez de renovar o instrumento, a atual direção da CEEE nomeada pelo governador Eduardo Leite (PSDB) cortou em março o pagamento do bônus alimentação, reduzindo a renda de cada trabalhador, e a contrapartida da empresa no plano de saúde de cada funcionário, em meio à pandemia do coronavírus, prejudicando o atendimento de saúde. “Querem humilhar os eletricitários após a doação da CEEE-Distribuidora”, protestou a presidenta do Senergisul, Ana Spadari.
Outra preocupação dos trabalhadores é a cláusula proposta pela empresa que estabelece demissões em massa. Para os sindicatos, isso significaria que os desligamentos estariam autorizados pelo acordo coletivo, o que representaria a perda de diversas verbas rescisórias, como a multa sobre o FGTS, além da renúncia ao seguro-desemprego e da quitação de direitos.
Na proposta que apresentou à categoria, a direção da CEEE retira também os seis meses de estabilidade no emprego que o governador assegurou aos deputados após a troca do controle acionário da empresa.
Além disso, os empregados lutam por reposição salarial. “Desde o governo Sartori (MDB), os eletricitários da CEEE estão sem reajuste nos salários e em nenhuma das cláusulas econômicas. Ao contrário, viemos amargando retiradas de conquistas”, denunciou a dirigente do Senergisul.
“Entramos em greve com a expectativa de que no julgamento de dissídio coletivo instaurado no Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4), ainda sem data marcada, haja um equilíbrio entre as partes. Até agora, após meses de tentativas frustradas, a diretoria da CEEE e o governo tucano estão irredutíveis na retirada de avanços sociais históricos”, destacou Spadari.
Ele contou que o TRT4, na mediação junto com o Ministério Público do Trabalho (MPT), chegou a propor uma prorrogação do Acordo Coletivo, tendo em vista que a CEEE-Distribuidora já foi leiloada. Em poucos dias já estará sob o comando dos gestores da iniciativa privada. No entanto, a direção da CEEE e a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) não aceitaram a proposta.
“Salientamos que o discurso de crise econômica da CEEE-D, usada pelo governo e a mídia para defender a privatização, caiu por terra, pois o Grupo Equatorial Energia tem como maior acionista o bilionário Jorge Paulo Lemann”, observou a dirigente sindical.
Conforme os sindicatos, as tentativas de acabar com direitos, reduzir os valores gastos com cada funcionário e facilitar as demissões estão no bojo do processo de privatização. O objetivo é baratear o custo da empresa para os novos donos do setor privado.
Privatização piora serviços e encarece preços
Mesmo em greve, os trabalhadores da CEEE estão respeitando o percentual de 75% de funcionamento da empresa, definido pela Justiça. Isso para não prejudicar o fornecimento de energia elétrica para gaúchos e gaúchas neste tempo de pandemia. Por isso, a sociedade não enfrentou nenhum apagão, ao contrário de outros estados, como o Amapá, que já tiveram as suas empresas privatizadas.
Para Amarildo, a entrega da CEEE, que começou com o ex-governador Antonio Britto (PMDB), é mais um golpe no patrimônio do povo gaúcho. “Essa lógica tem sido adotada pela gestão do governador Eduardo Leite. Sabemos que a privatização piora os serviços, representa demissões, desvaloriza os trabalhadores e encarece o preço da energia para a população“, destacou.
Também está em andamento a venda das empresas de transmissão e de geração de energia da CEEE, após aprovação de uma emenda constitucional pelos deputados governistas na Assembleia Legislativa, que acabou com o plebiscito para a privatização da CEEE, CRM e Sulgás.
Agora, o governador e a sua base aliada querem aprovar a PEC 280 para evitar igualmente a consulta popular para a venda da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), o Banrisul e a Companhia de Processamento de Dados (Procergs).
“O governador não apresenta projetos para o desenvolvimento do Estado e ele prefere vender o patrimônio dos gaúchos no auge da pandemia do coronavírus. Sabemos que o sucateamento das estatais faz parte do plano de privatização”, explicou o presidente da CUT-RS.
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