Trabalhadores da Ceitec têm esperança na revogação do decreto de extinção da empresa
Manutenção da Ceitec pelo futuro governo Lula é uma decisão acertadíssima, pois ela é essencial para o aproveitamento das riquezas do país, além da geração de empregos qualificados”, diz sindicalista
Publicado: 28 Dezembro, 2022 - 15h14 | Última modificação: 28 Dezembro, 2022 - 15h35
Escrito por: CUT-RS | Editado por: Rosely Rocha
Os trabalhadores e trabalhadoras do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), alimentam grandes expectativas com a aguardada suspensão pelo futuro governo Lula (PT), do processo de liquidação da única fabricante de semicondutores e de chips eletrônicos na América Latina.
O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre, e trabalhador da Ceitec, Edvaldo Muniz, afirma que “a manutenção da empresa pelo futuro governo Lula é uma decisão acertadíssima, pois ela é essencial para o aproveitamento das riquezas do país, além da geração de empregos qualificados”.
“Lula sempre acreditou na área de ciência e tecnologia, não apenas no discurso, mas na prática como é possível ver nos governos anteriores do PT”, aponta Muniz.
Ele destaca que “a futura ministra de Ciência, Tecnologia e Inovações, Luciana Santos, já anunciou, pela imprensa, que a revogação ocorrerá nos primeiros dias do novo governo Lula, e que a pasta vai ‘resgatar’ o Ceitec, o que já demonstra uma diferente visão de projeto em relação ao governo Bolsonaro, que desmantelou a área tecnológica do Brasil”.
Bolsonaro tentou acabar com o Ceitec
Criada em 2010 durante o segundo mandato de Lula, com sede na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, a empresa foi incluída de forma irresponsável pelo governo Bolsonaro (PL) no Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), inicialmente para ser privatizada.
No entanto, sem compradores, o governo entreguista resolveu em 2020 pela extinção da companhia. Porém, diante da resistência dos seus trabalhadores e trabalhadoras e das denúncias de parlamentares da oposição, o processo de liquidação foi paralisado em 2021 pelo Tribunal de Contas da União (TCU), sem data ainda para julgamento
“Os trabalhadores da Ceitec foram a resistência nesse período, conseguiram manter a empresa de pé e aguardam com expectativa a revogação do decreto de extinção da empresa, para que a empresa volte a seguir o seu rumo de crescimento”, salienta o dirigente sindical.
Ceitec perdeu vários profissionais
O presidente da Associação dos Colaboradores da Ceitec (ACCEITEC), Silvio Luis Santos Júnior, ressalta que a entidade trabalhou junto com o grupo de transição do governo Lula para produzir os documentos que deram base à decisão.
“A expectativa de um recomeço é grande, mas teremos que lidar com a perda de parte sensível do RH que dificilmente retornará”, comentou em entrevista ao jornal Zero Hora, referindo-se aos profissionais que deixaram a estatal.
Para Sílvio, será preciso fazer um novo planejamento estratégico e outro plano de negócios com gestões técnicas. “Esperamos que nos ouçam e criem um conselho com pessoas da área de microeletrônica e semicondutores para de fato compreenderem as oportunidades do negócio”, projetou, defendendo ainda políticas de microeletrônica nacional, estadual e municipal.
“Produtos como os tags RFID sempre foram competitivos e de alta qualidade”, explicou o presidente da associação. Ele acredita que o foco inicial seria em sensores para as áreas da saúde, agrícola, industrial e automotiva, mesmo com uma necessidade de uma complexa certificação.
Atualmente, são 67 funcionários de carreira divididos em áreas administrativas e fabril, que ficaram para manter uma operação mínima.
Professor defende Ceitec e investimentos em microeletrônica
O professor de Microeletrônica da UFRGS, Ricardo Reis, é também defensor da manutenção da Ceitec. “Não será apenas uma empresa que vai solucionar os problemas de desenvolvimento da área de semicondutores. É preciso criar um programa de micro/nanoeletrônica, para que o Brasil seja um ator no cenário internacional. É preciso investimento importante na formação de recursos humanos qualificados”, disse.
Conforme o professor, o prejuízo da Ceitec decorre do fato de a linha de chips CMOs, prevista, nunca ter sido implantada: “É como dizer que uma padaria dá prejuízo antes de os fornos começarem a produzir pães. Os recursos humanos da Ceitec motivaram a vinda de duas empresas para Porto Alegre, a Ensilica e a Impinj”, observou.
Reis espera que os recursos que venham a ser investidos na área sejam significativos. “É importante que a Ceitec tenha uma presidência com conhecimento do negócio microeletrônica. Hoje, a microeletrônica é fundamental não só para as tecnologias de informação, mas para a maioria dos ecossistemas, como agronegócio, transporte, saúde e medicina. Quase todos os setores precisam de chips”, enfatizou.
RS como polo nacional de microeletrônica
O Rio Grande do Sul, segundo o especialista, é um polo nacional de microeletrônica atualmente. Ele torce para que o ex-governador reeleito Eduardo Leite (PSDB) reforce o segmento, uma vez que se omitiu e nada fez para defender a Ceitec diante do processo de liquidação.
“Espero que, desta vez, o governo do Estado reconheça a importância da área para a economia gaúcha e também invista no setor. O Estado tem as bases para se consolidar como polo latino-americano em microeletrônica”, concluiu Reis.