Escrito por: Érica Aragão e Vanessa Ramos
Atos fazem parte da luta para reverter fechamento da empresa e manter direitos da categoria. Metalúrgicos de Canoas fizeram ato de solidariedade. Entidades já organizam as próximas mobilizações
Como parte da luta para manter empregos, os trabalhadores e as trabalhadoras da Ford Taubaté, no interior do estado de São Paulo, e Camaçari, na Bahia, fizeram atos e assembleias para dialogar com a categoria e com a sociedade sobre os impactos do fim da fábrica no país, nesta quinta-feira (21).
Eles protestam também pelo descaso do governo federal e da Ford, que mesmo num momento intenso da crise sanitária do país, viraram as costas para a categoria.
Na cidade de Taubaté, na região do Vale do Paraíba, os trabalhadores protestaram em frente à concessionária Econorte, na Avenida Dom Pedro I. Com faixas em defesa do emprego e contra o fechamento da fábrica, participaram do ato professores, estudantes, sindicatos e movimentos sociais.
Na cidade, os trabalhadores da Ford completam 10 dias de vigília, acampados em diferentes turnos em frente às duas portarias da fábrica. A vigília e novos protestos seguirão ocorrendo na região, afirma o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região (Sindmetau), Cláudio Batista.
"O ato de hoje fortalece e realinha a organização dos trabalhadores. Temos três propostas para o país diante da decisão da empresa: nacionalizar, estatizar ou a garantir a manutenção da Ford. Não há outro caminho além desses para garantir os empregos", reforça o dirigente.
Os trabalhadores realizarão assembleia nesta sexta-feira (22), na porta da fábrica, às 8h, para avaliar o que foi feito até o momento e definir as novas mobilizações para a próxima semana.
Na Bahia
CUT BANa Bahia, a assembleia dos trabalhadores aconteceu no Complexo Industrial de Camaçari, onde a Ford está instalada. O ato, convocado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, além de informar a categoria sobre as negociações com a montadora norte-americana e discutir o futuro dos trabalhadores , se tornou um protesto por empregos.
“A Ford não quer negociar. A empresa só fala em indenização, mas a gente quer emprego, direitos e a volta da nossa dignidade. Queremos nossos empregos”, afirmou o presidente do sindicato, Júlio Bonfim, aos manifestantes.
Parlamentares e lideranças de movimentos sindicais estiveram presentes ao ato para prestar solidariedade às milhares de famílias que serão impactadas com a decisão unilateral da multinacional americana.
O ato foi transmitido ao vivo pela página do Facebook da CUT Bahia e conduzido pela diretora executiva da Central, Celi Neuza Taffarel. Ela lembrou que a Ford, além de sair de uma hora para outra do país, ainda deixou milhares de famílias sem direitos do dia para a noite.
CUT BA
Segundo ela, a categoria abriu mão de diversos direitos para contribuir com a continuidade da produção da Ford e nem a estabilidade que foi garantida à eles vai ser cumprida.
“Não podemos permitir que aconteça nenhuma demissão. A Ford precisa cumprir o acordo que fez com os trabalhadores e garantir a estabilidade deles até 2024. O que está em jogo é toda uma cadeia produtiva e não podemos permitir que milhares de pessoas fiquem sem amparo e dignidade”, conta.
Celi também frisou a insensibilidade da multinacional com os trabalhadores e as trabalhadoras com deficiência, que só na fábrica da Camaçari eram quase 200.
“A CUT não vai abandonar estes trabalhadores, como fez Bolsonaro. A gente tem que apoiá-los em uma auto-organização ou alguma outra forma para manter a dignidade da categoria. A Ford precisa cumprir com sua responsabilidade financeira e social e não sair do jeito que saiu”, ressalta.
Representantes de diversas religiões participaram da atividade e realizaram um ato ecumênico.
Ato em Canoas reforça solidariedade
CUT RSUm ato simbólico em solidariedade aos trabalhadores e as trabalhadoras demitidos da Ford aconteceu nesta quinta-feira (21), no Rio Grande do Sul, em Canoas. A mobilização ocorreu em frente à concessionária Montreal Ford e foi convocada pelo Sindicato dos Metalúrgicos da cidade.
“Nós, enquanto classe trabalhadora, temos que ficar atentos aos nossos empregos. Não podemos achar que é um problema só dos trabalhadores da Ford, porque quando fecha uma grande empresa, muitas sistemistas que prestam serviços são afetadas”, destacou Paulo Chitolina, presidente dos Metalúrgicos de Canoas e Nova Santa Rita.
O secretário geral da CNM, Loricardo de Oliveira, fez um chamado para a necessidade de fortalecer a indústria nacional a partir de um plano de industrialização acordado em conjunto com os representantes dos trabalhadores e com os empresários. Para ele, é inadmissível que empresas multinacionais venham ao país e ganhem isenções fiscais do governo para lucrar em cima da mão de obra dos trabalhadores sem qualquer compromisso com a permanência e a manutenção dos postos de trabalho.
“É preciso nacionalizar a produção da Ford. Tudo que foi produzido no Brasil tem que ficar no Brasil. Precisamos que o Governo Federal se posicione e diga que essa produção é nossa”, afirmou.
*Edição: Rosely Rocha