Escrito por: Érica Aragão
Em Taubaté e em Camaçari, trabalhadores estão acampados e em vigília para proteger direitos. Na Bahia, governador articula substituto para o parque industrial
Trabalhadores e trabalhadoras da Ford em Camaçari (BA) e em Taubaté (SP) viram seus planos e projetos irem por água abaixo ao saberem do fechamento da montadora norte-americana no país, de um dia para o outro.
Alguns estão aflitos e com medo, por terem filhos, esposas e maridos no grupo de risco para a Covid-19. Além da insegurança financeira com o fim do recebimento de salários, agora estão sem plano de saúde e sem proteção.
Apesar da insegurança e ansiedade que este momento traz para a categoria, os trabalhadores da Ford no Brasil continuam apostando numa saída para restabelecer o emprego ou seus direitos e melhores indenizações, com luta e apoio da CUT, seus sindicatos e demais centrais sindicais, dos três poderes e principalmente da sociedade.
“Nada fácil o que estamos vivendo, não temos muitas informações de como se dará este fechamento e se nossos direitos serão pagos pela empresa. Porque do mesmo modo que a gente teria estabilidade até 2024 e a empresa quer rever este acordo, isso nos assusta muito, pois não teremos convênio médico em plena pandemia. Eu tenho filho do grupo de risco. Estamos em choque pois jamais esperávamos o fechamento da fábrica no país”, afirmou um trabalhador da Ford em Taubaté que não quis ser identificado.
Com nove anos de trabalho na montadora, o metalúrgico diz que está lutando todos os dias pelos empregos, dele e de milhares de colegas que vivem esta situação. Segundo o trabalhador, a decisão unilateral da empresa vai afetar toda a região e os comércios locais. Se não tem salário e nem emprego como é que vai comprar, questiona.
“Abrimos mão do aumento de salários, reduzimos salários, aceitamos coparticipação no plano de saúde e várias mudanças nas cláusulas sociais para conseguirmos nos manter empregados e o que a empresa nos deu em troca? Um pé na bunda na calada da noite”, desabafa.
Outro trabalhador, que também não quis se identificar, disse que é arrimo de família e que não sabe como será a vida dele sem o emprego. O plano de saúde também é uma preocupação.
“Agora que a pandemia piorou e a gente tá vendo as mortes e os casos da doença aumentarem todos os dias, a gente pode ficar desamparado. Sei que o SUS é importante, mas ele não tem capacidade para atender todo mundo, se ficarmos todos doentes. O jeito é lutar e rezar para que a gente reverta tudo isso e que não sejamos contaminados. O risco existe já que teremos que manter a resistência e a defesa dos empregos”, afirmou o metalúrgico.
Luta pela manutenção dos empregos
Além dos sindicatos dos metalúrgicos de Camaçari e de Taubaté, junto com a CUT e demais centrais, a categoria busca apoio dos governos federal, estaduais e municipais, dos parlamentares de todas as esferas e da justiça para tentar reverter a situação. Para manter a pressão, uma parte dos trabalhadores da Ford permanece em vigília e acampado em frentes as plantas. Não há previsão de saída.
Bolsonaro incompetente
A trabalhadora na Ford Camaçari e diretora da Federação dos Metalúrgicos e Metalúrgicas da Bahia (FetimBahia), Sônia Cristina de Souza Santos, fez um desabafo e uma fala emocionante no ato da manhã desta quarta-feira (13) em frente o centro administrativo do estado.
Ela disse que nunca imaginou que ia viver isso, e que o presidente da República, Jair Bolsonaro (ex-PSL) é um incompetente. A dirigente ressaltou ainda o aumento da pobreza nas regiões afetadas pela saída da Ford do país.
“Acho que nenhum de nós esperávamos viver o que estamos vivendo e qualquer um de nós faríamos melhor, como gestores, do que Bolsonaro, aquele incompetente. O que a gente não pode fazer é deixar de lutar. Sem luta não há liberdade. Precisamos reverter essa situação, porque daqui a pouco não precisaremos ficar com medo de roubar nosso celular, vão começar a roubar comida. A fome e a violência vão crescer, não podemos permitir”, defendeu Sônia.
Mobilização
Uma agenda de mobilização já foi aprovada pelos trabalhadores da Ford, tanto de Taubaté, quanto em Camaçari, para tentar reverter a situação, com protestos, audiências públicas, plenárias, diálogo com a sociedade e com parlamentares.
A CUT e demais centrais s vão realizar protesto em frente às revendas Ford, no próximo dia 21.
Na próxima terça-feira (19), o governador da Bahia, Rui Costa (PT), vai até Brasília para se reunir com os embaixadores da Índia, Japão e Coreia do Sul para apresentar oportunidades de investimento no estado.
Reforço
O Ministério Público do Trabalho (MPT) vai acompanhar de perto os desdobramentos do encerramento das atividades da Ford no Brasil. Após reunião com representantes da multinacional na manhã desta quinta-feira, 14, o órgão criou um Grupo Especial de Atuação Finalística (Geaf) para monitorar os impactos do fechamento de três fábricas da companhia norte-americana, que podem afetar até 5 mil trabalhadores.
Por meio de nota, o procurador-geral do MPT, Alberto Balazeiro, demonstrou preocupação com os reflexos sociais e com a empregabilidade dos trabalhadores da empresa após o fim das atividades nas três unidades. Ele ressaltou que existe toda uma cadeia produtiva do entorno da empresa que também será atingida.
Solidariedade
Nesta quinta, trabalhadores da General Motors em São José dos Campos se manifestaram contra o fechamento da Ford e em solidariedade aos funcionários das três fábricas
*Edição: Rosely Rocha