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Trabalhadores da Nestlé e da Garoto lutam contra retirada de direitos

A maior empresa de alimentos do mundo tem sido alvo de mobilizações na América Latina por querer tirar alimentos da mesa dos trabalhadores. Na BA e no ES, trabalhadores resistem e ameaçam greve!

Publicado: 28 Outubro, 2020 - 17h25 | Última modificação: 28 Outubro, 2020 - 17h34

Escrito por: Érica Aragão

Sindicato dos Trabalhadores em Alimentação e Afins do Espírito Santo
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Os trabalhadores e as trabalhadoras da Nestlé, em Feira de Santana, na Bahia, e da Garoto, no Espírito Santo, estão se mobilizado cada vez mais para defender direitos básicos, conquistados com muita luta, que a empresa multinacional, a maior do mundo em alimentação, quer tirar.

Na Bahia, a categoria luta contra a redução de quase 50% do valor do ticket-alimentação, dos atuais R$ 675 para R$ 350, e se recusa a aceitar o fim da Participação nos Lucros e Resultados (PLR), benefício conquistado há mais de duas décadas.

No Espírito Santos os trabalhadores e as trabalhadoras da Garoto, que desde 2002 integra o rol de empresas da multinacional, também protestam contra a redução dos recursos da alimentação que a empresa insiste em fazer e levantaram um faixa com os dizeres: “A Nestlé quer cortar 50% do Ticket Alimentação, a família diz não”.

A multinacional começou a retaliar os baianos, mas os trabalhadores não recuaram. Muito pelo contrário. A forte mobilização, iniciada em fevereiro, tem incomodado a Nestlé e seus gestores, que passaram a madrugada desta quarta-feira (28) pressionando e constrangendo os trabalhadores com ameaças de demissão e terceirização para desmobilizar a luta e tirar o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins do Estado da Bahia (Sindalimentação) da negociação, afirma o diretor de Formação do Sindalimentação e secretário de Políticas Sociais e Direitos Humanos da CUT Bahia, Francisco Teixeira de Araújo Neto, conhecido como Cowboy.

“Eles estão chamando de três em três trabalhadoras para dizer que não é para votar sim para a contraproposta do sindicato, aprovada pelos próprios trabalhadores, para dizer qual é o ponto que desagrada nessa proposta e que façam um abaixo-assinado solicitando o que precisa ser feito e digam ao sindicato que a empresa não vai mais negociar o Acordo Coletivo. Essa pressão é uma retaliação direta, criando medo e prejudicando os trabalhadores”, denuncia o dirigente.

De acordo com ele, a gota d água foi a assembleia dos trabalhadores e das trabalhadoras de repúdio à Nestlé, que aconteceu nesta terça-feira (27). É que na assembleia, a empresa recusou a proposta dos trabalhadores para manter o benefício. Incomodada, a direção da fábrica orientou as chefias diretas a ameaçar os trabalhadores.

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Assembleia de repúdio dos trabalhadores na Nestlé Feira de Santana

“Isso se já não bastasse, o valor de R$ 5.200 oferecido pela Nestlé como forma de ‘indenização’ para que o trabalhador e a trabalhadora da Nestlé aceitem a retirada de quase 50% do seu direito de se alimentar”, afirmou o Cowboy.

Empresa recuou ou se prepara para outro ataque?

Francisco também fala que outro resultado da assembleia foi uma resposta da empresa para voltar ás mesas de negociação no próximo dia 9, mas os dirigentes do sindicato estão desconfiados.

“Estamos dispostos a sentar para negociar, o que não vamos permitir é esta redução brusca do poder de compra na alimentação da categoria neste momento tão difícil do país”.

Trabalhadores da Nestlé da Bahia recusam proposta da empresa durante campanha salarial

“E eu nem estou falando isso só em nome do sindicato, os trabalhadores estão juntos na luta porque já perderam rendimentos nos últimos anos e reduzir agora o que a gente come não tem como não reagir”.

Se insistirem em tirar direitos em mais um ataque aos trabalhadores, terá greve
- Cowboy


“Estamos precisando da ajuda do movimento sindical CUTista para mostrarmos para a categoria que eles não estão desassistidos e precisamos tomar uma decisão mais do que urgente. Isso é uma medida da Nestlé de cima para baixo, só com muita unidade que poderemos mudar os rumos dos trabalhadores da Nestlé. Se persistirem na retirada de direito iremos encaminhar o edital para o estado de greve o mais rápido possível”, concluiu o dirigente.

Unidade na luta, que não acontece só na Bahia

Enquanto na Bahia o ato teve formato de uma "assembleia de repúdio" e começou às 5h, se estendendo até à tarde, com a participação dos sindicatos de petroleiros, celulose e telecomunicações, numa "solidariedade de classe", no Espírito Santo a mobilização aconteceu no centro de Vitória e teve faixa de apoio aos companheiros baianos.

Em pesquisa técnica, 99% dos trabalhadores capixabas afirmaram não aceitar a redução do auxílio-alimentação e 97,32% e ficar sem o pagamento da PLR.

“Em pauta, nos dois estados, duas questões essenciais à dignidade das famílias trabalhadoras: o pagamento integral da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) e a manutenção do valor do tíquete-alimentação, com correção dele e dos salários segundo a inflação do período”, diz trecho da matéria publicada no site Século Diário.

De acordo com o secretário de Organização do Sindialimentação Bahia, Eduardo Sodré, também diretor da Confederação Brasileira Democrática dos trabalhadores nas Indústrias da Alimentação da CUT (Contac-CUT), foi criada uma frente para reagirem juntos na Bahia e no Espírito Santo. Segundo ele, a luta não é só baiana e capixaba, é continental, e só juntos conseguirão derrotar esta proposta tão prejudicial para a classe trabalhadora.

Segundo Sodré, a empresa teve muito mais lucro em 2020, mesmo com a pandemia, e isso foi informado pela própria Nestlé neste ano, com relação aos dados do primeiro semestre de 2020. A multinacional obteve lucro líquido de 18,9 bilhões de francos suíços, o que equivale a R$ 114,345 bilhões, uma alta de 18,3% com relação a 2019.

“Estamos juntos nesta luta e conseguimos o apoio dos trabalhadores da Colômbia, que também não descarta, um ato articulado conosco, e que tem conseguido apoio de outros países como Peru e Chile. A ofensiva da Nestlé tem acontecido em toda América latina. A empresa está dizendo que é devido a pandemia e com o isolamento social eles se aproveitam para esfolar o trabalhador. Nós já estamos nos articulando para uma grande mobilização entre os trabalhadores da Nestlé nos países afetados”, disse Sodré.

*Edição: Marize Muniz