Escrito por: Andre Accarini
Categoria está mobilizada em todo o estado, realizando atos e paralisações todas as quartas-feiras em unidades de saúde. Mobilização é para pressionar o governo do estado a abrir negociação com o sindicato
Desde o dia 28 de junho, trabalhadores e trabalhadoras da saúde de São Paulo têm feito paralisações e atos em todas unidades do estado para pressionar o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) a atender às reivindicações da categoria que incluem um reajuste de 50% nos salários. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores Públicos na Saúde do Estado de São Paulo (Sindsaúde-SP), hoje, muitos auxiliares de enfermagem têm salários de cerca de R$ 700 para jornadas de 30 horas.
As paralisações foram decididas em assembleias realizadas pelo sindicato com os trabalhadores no dia 16 do mês passado. Em cada unidade a mobilização acontece de uma forma. Algumas tem horário reduzido de atendimento; em outras as atividades são paralisadas durante o dia todo e há ainda locais em que somente atos e diálogo com a população têm sido feitos.
“Nem toda unidade tem condição de parar o dia todo. Algumas param mais tempo, outras menos, mas a mobilização está presente em todas as unidades do estado”, diz o diretor regional do Sindsaúde-SP, João Luís Bento.
Ele explica que a categoria, antes de qualquer decisão sobre uma greve geral por tempo indeterminado, decidiu por fazer as paralisações como forma de sensibilizar o governador do estado sobre as reivindicações.
A pauta da categoria, cuja data-base é março, já foi entregue ao governo, no entanto, até agora não foi respeitada. Segundo o dirigente, as paralisações têm chamado a atenção de Tarcísio e do secretário de Saúde do estado, Eleuses Paiva, “mas ainda não há um canal definitivo de negociação aberto”.
“Apesar de o secretário não ter posição sobre nossa campanha, deixou uma porta aberta para negociação. Há um mínimo de diálogo, mas não efetivo porque ele só recebeu a pauta e não se comprometeu com nada”, diz João Luís.
O sindicalista ainda cita que o Sindsaúde-SP fez um ato durante um evento de lançamento de um mutirão de cirurgias cardíacas, no dia 3 de julho, no hospital Dante Pazzanese, na capital paulista, em que os trabalhadores além de entregar a pauta diretamente ao governador, cobraram dele uma posição sobre suas reivindicações.
“Ele foi receptivo conosco, mas fez questão de dizer que já tinha dado um aumento de 6%. Nós questionamos, mas ele desconversou, ou seja, ao mesmo tempo em que se mostra aberto a conversar, deixa claro que os 6% é o máximo que teremos”, diz o dirigente.
Próximos passos
“Esperamos que o governo do estado de SP tenha um olhar mais atento para o nosso movimento e caso não aconteça isso, faremos uma nova assembleia para que a categoria decida se entraremos em greve. A previsão é até o fim do mês de julho para que um novo direcionamento seja tomado”, diz o dirigente.
“Queremos que nossa data-base seja respeitada e que as reivindicações sejam negociadas. Nunca, desde que foi criada, há mais de 20 anos, a data-base foi respeitada – por nenhum governo. Desde março estamos tentando um canal de negociação, mas por enquanto o que temos é apenas um canal de ‘enrolação’”, complementa a secretária de Igualdade de Oportunidades do Sindsaúde-SP, Renata Scaquetti.
“Vimos algum efeito, mas é mínimo e o governo não se compromete com nada”, ela pontua.
Campanha
Além do reajuste de 50% nos salários para todas as categorias da saúde no estado de São Paulo, fazem parte da pauta de reivindicações a abertura de concursos públicos e consequente contratação de mais trabalhadores; a valorização do ticket-refeição dos atuais R$ 12 para R$ 43,540 por dia; valorização do prêmio de incentivo com incorporação para os aposentados, cuja maioria recebe somente 50% do valor. Veja abaixo:
“Não temos reajustes reais há pelo menos 30 anos. Os 6% concedidos são sobre parte do salário e não cobrem sequer a inflação do período. Os auxiliares de enfermagem, maior da categoria ganha, R$ 500, R$ 600 para 30 horas. Eles têm que juntar outras jornadas, prêmios e gratificações para poderem chegar a um salário mínimo”, diz Renata Scaquetti.
Porque 50%
O percentual de 50% se refere à perda inflacionária nos últimos 10 anos. Além disso, é o mesmo índice que foi concedido ao governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ao vice-governador e aos secretários de estado.
A categoria avalia que aplicar o mesmo índice “é mais do que justo”, para recompor o poder de compra daqueles que colocaram suas próprias vidas e de suas famílias em risco durante a crise sanitária da Covid-19, e que se dedicam durante toda a trajetória profissional ao cuidado do próximo e a salvar vidas.
Piso da enfermagem
Além da pauta de reivindicações, o sindicato cobra ainda um posicionamento do governo do estado em relação ao cumprimento do piso da enfermagem.
Aprovado em 2022, o piso ainda não foi pago. Desde então o Sindsaúde-SP cobra a aplicação do novo valor. Segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o estado mais rico do país tem verba para o custeio e não carece de repasse do governo federal.
“A falta é de vontade política para pagar”, dizem os dirigentes do sindicato.