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Os crimes antissindicais do narcoestado peruano

Direitistas disputam quem é mais submisso aos interesses externos

Publicado: 12 Dezembro, 2016 - 12h09 | Última modificação: 12 Dezembro, 2016 - 13h53

Escrito por: Leonardo Wexell Severo

CGTP
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Peruanos nas ruas em defesa do patrimônio público

Diante da crescente contaminação pelas multinacionais, luta em defesa da água está entre as prioridadesDiante da crescente contaminação pelas multinacionais, luta em defesa da água está entre as prioridadesPassada a sangrenta ditadura de Alberto Fujimori e o estelionato eleitoral de Ollanta Humala, o povo peruano enfrenta agora o desgoverno de Pedro Pablo Kuczynski (PPK) e um parlamento corrupto, controlado pelo narco-fascismo fujimorista. Uma feroz disputa entre direitistas para ver quem é mais submisso ao sistema financeiro e aos cartéis estrangeiros; que se empenham na implantação da política neoliberal de desmonte do Estado, via ajuste fiscal, concessões-privatizações e reformas trabalhista e previdenciária.

A convite de movimentos sociais, estivemos no país andino debatendo com lideranças sindicais, estudantis e partidárias sobre a luta anti-imperialista que nos irmana. De viva voz, colhemos denúncias de assédios, perseguições e crimes contra os direitos humanos que vêm sendo praticados, o que - entre outros retrocessos - implicou na redução do índice de sindicalização a míseros 6%. Somente a Federação dos Trabalhadores da Construção Civil reportou o assassinato de 16 dirigentes desde 2011.

A cidade portuária de Callao, na região metropolitana de Lima, merece atenção pela íntima relação com o pó branco – já que o país seria atualmente, de acordo com a ONU, o segundo maior produtor mundial de cocaína - e pelo risco de vida que tem corrido os sindicalistas. Ali, em 2013, em um armazém de Kenji Fujimori, filho de Alberto, irmão de Keiko e também deputado fujimorista, foram encontrados 100 quilos de cocaína. Descoberto, Kenji culpou a companhia de navegação a quem alugava a propriedade. Casualmente, no local, apenas em 2016, foram massacradas a tiros três lideranças sindicais. O cuidado com a nossa segurança refletia os riscos diante da impunidade reinante.

Juan Sotomayor, prefeito de Callao, carimba este tsunami, mantendo sob seu tacão o judiciário e a mídia. Conforme denunciou o programa “Panorama”, do Canal 5, nos últimos três anos, Sotomayor desviou US$ 15 milhões de recursos públicos da empresa de limpeza da cidade para o pagamento de funcionários fantasmas. Sua “planilha secreta” contém mais de 400 pessoas, que se alternam em “afazeres” mercenários. O principal é ser tropa de choque na luta contra os trabalhadores, em particular contra o Sindicato representativo do setor da limpeza, categoria cujos empregados recebem pouco mais de um salário mínimo (cerca de US$ 240) e são forçados a suar nos sábados e domingos sem qualquer compensação.

Debate com lideranças dos movimentos sindical e social em Lima Debate com lideranças dos movimentos sindical e social em Lima A fim de garantir que a opinião pública se mantenha distante dos fatos, o prefeito distribui a jornalistas e radialistas um “cala-boca” mensal variável entre US$ 1.500 e US$ 3.000. Para sustentar as viagens internacionais e as festas nababescas do chefe, conforme denunciou o jornal Maretazo Chalaco, os fiscais da prefeitura não poupam ninguém, atuando até mesmo como cafetões nos prostíbulos.

“Ao mesmo tempo em que em Callao os salários estão congelados e as condições de trabalho são deploráveis, o clima é de permanente amedrontamento”, assinala a secretária-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Rosa Carpio Palma. “Somos vítimas de pacientes, ameaçados e agredidos porque os centros de saúde estão desabastecidos e não há como atender a população. Além disso, companheiros têm sido assassinados por exercerem suas atividades de representação”, sublinhou.

DELINQUÊNCIA - “O fato é que a política econômica neoliberal reproduz um modelo que, amparado na delinquência, reforça a desigualdade e o terror na sociedade”, afirmou Max del Maso, dirigente nacional da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP), frisando que “quem dirige politicamente o governo peruano é o narcotráfico”. “Os congressistas são financiados pela droga, pela lavagem de dinheiro das mais de 50 universidades privadas que controlam e pelos meios de comunicação com os quais contaminam a sociedade. O que temos hoje no país é um lixo televisivo que atua para alienar, para tornar nossa população presa fácil das receitas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional”, acrescentou Max.

A Federação Nacional de Trabalhadores Administrativos do Setor Educacional (Fentase) esclarece que “primeiro veio o fujishock, com que Fujimori aplicou sua política nefasta de destruição do país e do sindicalismo classista, fechando 2.530 entidades, acabando com o sistema de pensões e com a remuneração de 30% para a preparação das aulas; depois, a promulgação da neoliberal Lei Servir, por Ollanta Humala, em 2013, quando os direitos sociais e trabalhistas dos servidores viraram letra morta”. “A Lei Servir não poupou ninguém de seus abusos: viúvas, órfãos, gestantes, doentes terminais”, sublinhou.

Na avaliação de Verónica Mendoza, líder da oposição, e do recém-criado Movimento Novo Peru, uma questão chave para quem deseja ser governo é perceber que as coisas não passam somente pela tomada do poder, mas pelo fortalecimento e ampliação de instrumentos de pressão social. “É muito importante que as pessoas estejam organizadas, conscientes, mobilizadas, que estendam seus laços de solidariedade, como começa a ocorrer no sul do país”, explicou, apontando exemplos como a defesa de uma política integral e sustentável da água, confrontando a odiosa contaminação provocada pelas transnacionais mineiras. Ao mesmo tempo, assinalou Verónica, “temos que garantir o prosseguimento do projeto do gasoduto e do polo petroquímico, para desenvolver nossa indústria e gerar emprego e renda”. “Para construir nosso Movimento, convocamos os cidadãos, as organizações sociais, sindicais e a outras forças políticas para que somem forças. Basta de indiferença e violência! É hora de fazermos escutar nossa voz!”, concluiu.