Escrito por: Vitor Nuzzi, da RBA

Trabalhadores na GM em São José aceitam proposta que altera direitos

Contrário à flexibilização, Sindicato dos Metalúrgicos lembra que acordo preserva a fábrica e garante investimentos de pelo menos R$ 5 bilhões

DIVULGAÇÃO/SINDMETALSJC

Assembleia que reuniu trabalhadores dos dois turnos da General Motors em São José dos Campos, interior paulista, aprovou na tarde desta quinta-feira (7) proposta da GM apresentada, segundo lembram os metalúrgicos, como condição para a garantia de manutenção da unidade e de pelo menos R$ 5 bilhões em investimentos. O "pacote" da montadora inclui abono em lugar de reajuste salarial neste ano.

"Com isso, fica selado o acordo em que a empresa se compromete a manter o complexo na cidade", afirma o Sindicato dos Metalúrgicos de São José, filiado à CSP-Conlutas, que participou de seis reuniões com a GM nas duas últimas semanas. A entidade lembra que a montadora desistiu de aumentar a jornada de 40 para 44 horas semanais e adotar um processo de terceirização irrestrita.

O acordo em São José prevê que, neste ano, a empresa pagará em setembro (data-base) um abono de R$ 2.500, não incorporado aos salários. Em 2020, os funcionários terão 60% do INPC e novo abono, desta vez de R$ 1.500. O reajuste com base no INPC integral voltará no ano seguinte. O valor da participação nos lucros ou resultados (PLR) será menor.

"O sindicato é contra qualquer medida que penalize os trabalhadores, mas respeitamos a decisão da assembleia, que é soberana", afirmou o vice-presidente do sindicato, Renato Almeida, funcionário da empresa desde o final de 2007. Segundo ele, a montadora fez pressões entre os empregados para que a proposta fosse aprovada, espalhando internamente que em caso de rejeição "provavelmente iria encerrar atividades em São José dos Campos".

O próximo passo é cobrar a GM para efetivar os investimentos. "Também vamos lutar pela manutenção dos postos de trabalho e estabilidade no emprego. Queremos que a empresa invista aqui, traga veículos novos, plataformas", acrescentou o dirigente. Na unidade, com 4.800 funcionários, são produzidos o modelos S10 e Trailblazer.

Ele lembrou que a proposta original da montadora tinha 28 itens, reduzidos para 10 ao final das negociações, na última segunda-feira (4). "Conseguimos tirar todos os itens da 'reforma' trabalhista", disse Renato. Alguns pontos aprovados, no entanto, eram considerados "caros" para os metalúrgicos, o piso salarial, que para futuros contratados será de R$ 1.700, ante os atuais R$ 2.300.

A negociação chegou "ao limite", avaliou Renato, observando que se trata de uma situação que não se restringe ao Brasil. "É um processo violento por parte do capital industrial em cima dos trabalhadores da GM no mundo", afirmou. Ele lembrou ainda que a empresa já anunciou 4 mil demissões em unidades na América do Norte. Também hoje, durante reunião em Brasília, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (CUT), Wagner Santana, entregou carta ao vice-presidente, Hamilton Mourão, falando da situação da GM e da Ford.