Escrito por: Érica Aragão
Empresa lucrou bilhões no primeiro semestre do ano e sindicato diz que só volta à mesa de negociação se a Nestlé voltar atrás sobre redução no Ticket Alimentação e na Participação dos Lucros e Resultados (PLR)
Trabalhadores e trabalhadoras da Nestlé, de Feira de Santana, na Bahia, estão indignados com a atitude da empresa que, mesmo sendo a maior do setor de alimentos e bebidas do mundo, cujos lucros cresceram 30% durante a pandemia do novo coronavírus, quer tirar direitos históricos da categoria. Uma greve não está descartada.
Na manhã desta terça-feira (27), representantes do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins do Estado da Bahia (Sindalimentação) fizeram uma assembleia de repúdio à empresa com os trabalhadores e trabalhadoras da Nestlé que, segundo a entidade, foi uma preparação para formalizar a paralisação da categoria.
Segundo o diretor de Formação do Sindalimentação e secretário de Políticas Sociais e Direitos Humanos da CUT Bahia, Francisco Teixeira de Araújo Neto, a categoria, mesmo debaixo de chuva, mostrou que está disposta a parar porque além do descaso com os direitos garantido, os trabalhadores têm sofrido assédio moral e ameaças para aceitar o que foi proposto pela empresa.
A Nestlé quer cortar quase 50% do valor do ticket-alimentação, dos atuais R$ 675 para R$ 350, e se recusa a pagar a Participação nos Lucros e Resultados (PLR), benefício que sempre foi garantido há mais de duas décadas. A justificativa da Nestlé é a de que não tem condição de manter este valor de ticket a nível nacional.
A empresa também quer mexer nos valores do adicional noturno, que atualmente é de 70% e ela quer estabelecer um valor em R$350,00, e do piso salarial que hoje é R$1.500,00 e ela quer diminuir para R$1.250,00.
“A categoria já rejeitou a proposta da empresa no último dia 16, quando fizemos uma assembleia de Acordo Coletivo de Trabalho na Nestlé, em Feira de Santana. E com a vinda do diretor de RH da empresa de São Paulo para pressionar os trabalhadores e até ameaçar com demissão e terceirização, o clima ficou ainda mais forte para a greve. Não podemos aceitar retirada de direitos pela goela abaixo. Como pode uma empresa de alimentos querer tirar alimentos da vida de seus trabalhadores?”, questionou o dirigente.
Ele também conta que a empresa "está oferencendo o valor de R$ 5.200 para que o trabalhador e a trabalhadora da Nestlé aceite a retirada de quase 50% do seu benefício para se alimentar, e ainda chama de indenização".
De acordo com Francisco, a Nestlé tem mais de 20 empresas pelo país e esta medida de retirada de direitos tem acontecido debaixo para cima e em muitas das filiais o acordo já está até valendo. As últimas negociações estão acontecendo na Bahia e no Espírito Santo, que também tem sindicato CUTista e está fazendo resistência.
“Além dos dois estados brasileiros, a Nestlé tem operado da mesma forma em outros países. Os companheiros da Colômbia começaram a negociar desta mesma maneira, com retirada de direitos e têm conversado conosco. A nossa proposta é nos juntarmos para conseguirmos resistir e avançar com estes direitos para a categoria”, explicou Francisco.
“O próximo passo agora é notificar a empresa para mais uma etapa da negociação da Campanha Salarial e se a empresa continuar retaliando e pressionando os trabalhadores iremos encaminhar com a próxima assembleia para aprovar a greve na Bahia”, completou.
Deyvid Bacelar, diretor do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro) também participou da assembleia do dia 16, com o intuito de prestar solidariedade.
“A meu ver é inconcebível, uma empresa gigante como a Nestlé, estamos falando da maior empresa de alimentação do mundo, que lucrou durante a pandemia, no primeiro semestre de 2020, R$114 bilhões. Aparecer com uma proposta de retirar direitos, justamente na alimentação dos trabalhadores deles, é inconcebível.” disse o dirigente em reportagem publicada no site do De olho na cidade. .
A Nestlé também tem uma empresa em Itabuna, mas está com o fechamento das portas marcado para início de novembro. No site, a empresa disse que vai investir R$ 1 Bilhão no Estado de São Paulo para abertura de novas empresas.
Covid-19 e Nestlé
Francisco também ressalta a negligência da empresa em relação ao rastreamento dos trabalhadores que foram contaminados e também sobre o isolamento social que as pessoas deveriam fazer ao comprovar a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
Segundo o diretor, a empresa tem feito bem o marketing de respeito a doença e que está tomando todas as ações necessárias para evitar a contaminação dos trabalhadores, mas não é bem isso que acontece.
“A gestora de qualidade da empresa, na semana passada, testou positivo para doença e não foi feito o rastreamento das pessoas que tiveram contato, não afastaram os trabalhadores que podem ter sido contaminados e nem testaram ninguém, conforme orienta a Organização Mundial da Saúde. Só na Van que leva os trabalhadores para empresa e que vão junto com ela podem ter pegado a doença e estar transmitindo sem saber”, destacou Francisco.
O diretor disse que na empresa, desde o começo da pandemia, já teve mais de 60 casos.
*Edição: Marize Muniz