Trabalhadores protestam contra juros altos em todo o Brasil
Por mais emprego e crescimento da economia, categoria pressiona pela manutenção de política monetária de redução da taxa básica de juros brasileira
Publicado: 12 Dezembro, 2023 - 15h13 | Última modificação: 12 Dezembro, 2023 - 15h43
Escrito por: Lilian Milena / Contraf-CUT
Trabalhadores e trabalhadoras estiveram novamente nas ruas, nesta terça-feira (12), data da primeira reunião do Comitê de Políticas Monetárias (Copom) ,do Banco Central (BC), em que será definida a taxa de juros (Selic), da economia brasileira. São dois dias de reunião e, por isso o anúncio da Selic será feito na quarta-feira (13).
As concentrações dos atos do dia 12, ocorreram em frente aos prédios do BC (veja lista abaixo). Nas cidades onde a entidade não tem sede, os sindicatos convocaram a concentração para locais de grande circulação. Entre as 11h e as 12h, também ocorreram ações nas redes sociais, com a hashtag #JurosBaixosJá, com a marcação do Banco Central (@BancoCentralBR), nas postagens.
“Essas manifestações, tanto nas ruas quanto nas redes, e que vem acontecendo desde fevereiro, especialmente nos dias de encontro do Copom, são para chamar a atenção da sociedade e entidades que o Brasil não pode continuar praticado uma Selic tão elevada a ponto de o Brasil ser um dos países com a maior taxa de juro real”, explica a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira.
Comitê Popular de Luta dos Bancários de Pernambuco
A previsão do próprio BC, entidade da qual o Copom faz parte, é de uma nova redução da taxa de juros básica em 0,50%, que com isso deverá passar dos atuais 12,25% para 11,75%. Se confirmada a queda, será o menor nível desde maio de 2022, quando estava em 11,75% ao ano.
“Essa chamada política monetária anticíclica, ou seja [que promove a aceleração do PIB e do consumo] só começou após intensa pressão dos movimentos sociais e do governo federal”, observa o secretário de Assuntos Econômicos da Contraf-CUT, Walcir Previtale.
“De 2021 até agosto deste ano o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi elevando significativamente a Selic a ponto do chegar no patamar absurdo de 13,75% durante um ano. Por isso fomos às ruas e às redes sociais, para explicar à população o impacto negativo disso para nossas vidas, mostrando que a Selic pode ser uma arma para impedir o crescimento da economia como foi o que aconteceu”, completa.
Papel da Selic
A taxa básica de juros influencia todas as taxas de juros praticadas em um país, daí o seu papel fundamental na política monetária.
“Todos os anos, o governo gasta bilhões com o pagamento de juros da dívida pública. Só nos últimos 12 meses, esse pagamento ultrapassou os R$ 689 bilhões. Claro que os títulos de dívida pública têm uma razão de existir e fazem parte da política de estabilização da moeda, mas, por causa da Selic elevadíssima, o valor que o Estado brasileiro dispende com os títulos é muito grande, retirando recursos que deveriam ir para áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura”, completa a economista da subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na Contraf-CUT, Vivian Machado.
Economistas de tendência desenvolvimentista avaliam que uma taxa básica de juros razoável deveria estar no patamar de, pelo menos, um dígito, ou seja, abaixo de 10%. As nações membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne 38 países de economias mais avançadas) trabalham com juros básicos muito mais baixos que o brasileiro. Na União Europeia, por exemplo, o índice está em 4%. Entretanto, o Brasil não poderia reduzir a Selic para esse nível por ter moeda menos valorizada.
Entenda
- O Copom, entidade do BC, se reúne por dois dias, a cada 45 dias, para definir a taxa básica de juros do país (Selic). No encontro anterior, em 31 de outubro e 1º de novembro, o índice foi reduzido de 0,50 p.p. n, de 12,75% para 12,25% ao ano.
- Apesar do corte, que levou a Selic ao menor índice desde março de 2022, o Brasil segue com elevadíssima taxa básica de juros e com um dos maiores juros reais (Selic menos a inflação) do mundo.
- Em três anos, sob a presidência de Roberto Campos Neto no BC, a Selic passou de 2% ao ano, em janeiro de 2021, para 13,75% em agosto de 2022 – nível mantido até agosto deste ano quando, finalmente, o Copom deu iniciou ao ciclo de redução do índice.
- A Selic elevada torna empréstimos mais caros às famílias e empresas, desencoraja investimentos e aumenta a dívida do Estado brasileiro com o pagamento de juros dos títulos do Tesouro Nacional.
- Os principais beneficiados com a Selic elevada são os detentores dos títulos da dívida pública, que atualmente são as instituições financeiras.
- Sondagem realizada pelo Dieese mostrou que cada ponto percentual na taxa Selic significa um aumento anual do custo da dívida pública de cerca de R$38 bilhões – valor que deixa de ir para educação, saúde ou infraestrutura.
- Economistas de tendência desenvolvimentista avaliam que uma taxa básica de juros razoável deveria estar no patamar de, pelo menos, um dígito, ou seja, abaixo de 10%.
- Os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne 38 países de economias mais avançadas) trabalham com juros básicos muito mais baixos que. Na União Europeia, por exemplo, o índice está em 4%. Entretanto, o Brasil não poderia reduzir a Selic para esse nível por ter moeda menos valorizada.
- A expectativa do mercado, para a reunião do Copom que segue até esta quarta-feira (13), é de um novo corte de 0,50 p.p., que levaria a Selic a 11,75%. Mantida esse ritmo de cortes, a taxa alcançaria um dígito apenas no final de 2024.
Confira os endereços das sedes do BC, onde se concentram as manifestações:
– Brasília (DF): Setor Bancário Sul (SBS), Quadra 3 Bloco B – Ed. Sede. Brasília;
– Belém (PA): Boulevard Castilhos França, 708 – Campina;
– Belo Horizonte (MG): Av. Álvares Cabral, 1.605 – Santo Agostinho;
– Curitiba (PR): Av. Cândido de Abreu, 344 – Centro Cívico;
– Fortaleza (CE): Av. Heráclito Graça, 273 – Centro;
– Porto Alegre (RS): Rua 7 de Setembro, 586 – Centro;
– Rio de Janeiro (RJ): Av. Presidente Vargas, 730 – Centro;
– Salvador (BA): 1ª Avenida, 160 – Centro Administrativo da Bahia (CAB).
Veja o vídeo da Contraf-CUT sobre os juros altos: