Escrito por: Sindsep

Trabalhadores, sindicatos e coletivos exigem proteção e denunciam negligência em SP

Os manifestantes denunciaram a precarização de trabalho, mortes de trabalhadores e defendem testagem, EPI e contratação urgente de pessoal.

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Em frente ao prédio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (Smads) de São Paulo, dirigentes do Sindsep, Sindicato dos Trabalhadores em Entidades de Assistência e Educação à Criança, ao Adolescente e a Família do Estado de São Paulo (Sitraemfa), do Coletivo dos Trabalhadores Terceirizados das Políticas Públicas, Coletivo de Servidores em Defesa do SUAS, Coletivo de Servidores em Luta, Uneafro e Coalizão Negra por Direitos protestaram nesta terça-feira (26) contra as violações de direitos dos trabalhadores públicos e terceirizados no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus.  “Tivemos mortes e vários trabalhadores infectados do serviço público, que são servidores terceirizados e contratados pelas organizações da sociedade civil [OSC] e, infelizmente, a Secretaria de Assistência Social é a única secretaria entre os serviços considerados essenciais que se recusa a divulgar o número de pessoas adoecidas, mortes e dados epidemiológicos. Ao mesmo tempo que não garante equipamentos de proteção, orientação e estrutura mínima de atendimento à população”, denunciou o vice-presidente do Sindsep, João Gabriel Buonavita. O dirigente acrescentou que a Smads tenta inviabilizar a atuação e a vida dos trabalhadores da Assistência Social. Há uma recusa permanente da pasta no diálogo, negociação com os representantes sindicais e melhoria das condições dos trabalhadores. As respostas da pasta são insuficientes. “Viemos aqui para homenagear os trabalhadores que se foram, dos que adoeceram e estão adoecendo pela negligência nas condições de trabalho. É fundamental a política de assistência social no combate ao coronavírus, para que as pessoas que dependem dessas políticas de assistência, proteção social e segurança alimentar, consigam permanecer em casa”, reiterou. Faltam equipamentos de proteção individual, testagem dos trabalhadores que atuam nos serviços da assistência e até higienização dos equipamentos, como o Sindsep mostrou na semana passada no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) Sé, que estava há sete dias sem o serviço de limpeza. O Sindsep também criticou a transferência de responsabilidade para as organizações sociais com a vida dos trabalhadores de OSC e empresas terceirizadas que gerenciam serviços da assistência. O presidente do Sindsep, Sérgio Antiqueira, disse que o tratamento do governo Covas não é muito distinto da postura do ministro da Economia, Paulo Guedes, que vem fazendo seguidos ataques contra os servidores públicos. Para ele, uma política de destruição do Estado, que vem sendo reforçada pelo governo genocida de Bolsonaro. “E aqui em São Paulo, o governo Covas/Doria não defende trabalhador da mesma forma, não atende nossas reivindicações. Por isso fomos ao Ministério Público. Sem informação, não há como fazer combate à pandemia. Bruno Covas está tentando fazer com que a periferia sofra ainda mais. Está fazendo mais investimentos em abertura de covas do que abertura de leitos e garantia do atendimento”, pontuou. Vários trabalhadores e representantes de coletivos também denunciaram exemplos de descaso que vêm enfrentando. “Desde o começo da pandemia temos solicitado à secretaria, por meio de documentos e reuniões, medidas de proteção, testagem, epi e isolamento, mas nada saiu do papel. O governo Covas tenta se diferenciar do governo Bolsonaro, mas a cada dia que passa vemos que não há distinção. Por isso, viemos cobrar isolamento nas áreas não essenciais, testagem, valorização dos servidores públicos, revezamento em áreas essenciais e reposição dos afastados e aposentados. Bonus não salva as nossas vidas”, afirmou Fernanda, representante sindical no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) Sé. Maria Aparecida, representante do Sindicato dos Trabalhadores em Entidades de Assistência e Educação à Criança, ao Adolescente e a Família do Estado de São Paulo (Sitraemfa) também cobrou mais diálogo por parte da Smads com os trabalhadores. Ela acrescentou que além da falta de proteção nos ambientes de trabalho, os trabalhadores vêm enfrentando pressão e assédio moral. Na avaliação de Manoel Norberto, o governo Covas, da mesma forma que Bolsonaro, são irresponsáveis e demonstram total insensibilidade e descompromisso com a vida dos trabalhadores da Assistência Social, Serviço Funerário, Saúde e Segurança Pública.  No epicentro da pandemia, a cidade de São Paulo não garante transparência de informações e compromisso com a saúde dos trabalhadores. “Senhores prefeito e secretário, olhem para seus trabalhadores que estão adoecendo, morrendo nos Cras, nos Creas, necessitam de um olhar especial nesse momento de pandemia. Não deixem nossos trabalhadores adoecerem e morrerem”, cobrou a dirigente Luba Melo, ao lembrar que a decretação de feriados não mitigou o avanço da doença e da situação de precariedade social, demandando o fortalecimento das políticas sociais.  “Estamos na linha de frente do enfrentamento à pandemia, mas sem EPI, limpeza, em péssimas condições de trabalho. Sou trabalhadora do SUAS e a nossa situação está muito mais precarizada após a pandemia. Já perdemos vários trabalhadores e não sabemos sobre o adoecimento de nossos colegas, quem está morrendo... Nós temos direito a um boletim epidemiológico, e queremos sim atender, mas as nossas vidas importam”, ressaltou outra trabalhadora, que pediu para não ser identificada. Segundo Kanansue Gomes, do Coletivo dos Trabalhadores Terceirizados, o que está ocorrendo na pandemia é resultado da destruição do Estado. “Queremos mais contratações nos serviços de saúde já. Todos os trabalhadores que foram terceirizados no serviço público sejam contratados imediatamente, de forma direta. Enquanto temos serviços paralisados, o governo aproveita para demitir, como ocorreu no Museu Afro. Estamos exigindo nossa vida”. Na mesma linha, o representante da Uneafro e Coalizão Negra por Direitos, Júlio César, acrescentou que a política de assistência social atende majoritariamente a população preta periférica e há um racismo institucional caracterizado, quando se vê sua destruição. “O projeto de genocídio do Estado, que quando não mata na bala a população preta, como ocorreu com os assassinatos do Joãos pela PM do Rio de Janeiro, mata pela ausência de serviços de proteção. É impossível realizar uma política de qualidade, sem condições”, disse, ao defender concursos públicos e reforçar apoio ao movimento “Fora Bolsonaro”, “Fora Covas/Doria”.O protesto unitário, que reuniu servidores, trabalhadores terceirizados das OSC, sindicatos, coletivos e ativistas da assistência social foi finalizado com homenagem à memória de Antonio Edmar Alves Fagundes, Geraldo Alecrídio Filho e Edinei Gonçalves Costa, trabalhadores terceirizados que morreram. Em seguida, cada ativista depositou flores brancas nas cruzes colocadas na entrada do prédio da Smads.  “O senhor Geraldo, trabalhador da segurança terceirizada do Cras Iguatemi, estava contaminado há dias e escondeu porque tinha medo de ser demitido. Ele deixou a esposa e duas filhas”, resgatou João Gabriel, ao lembrar que os trabalhadores terceirizados são trabalhadores do SUAS, os mais precarizados neste cenário de pandemia e que não existe barreira na classe trabalhadora.