Escrito por: Karin Villatore
Uma das causas do acidente da Gol foi a conclusão errada dos pilotos do avião da empresa norte-americana ExcelAire, Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, que poderiam voar em RVSM (Reduced Vertical Separation Minimum), que significa, basicamente, voar com um espaço vertical reduzido de uma aeronave para outra. A tragédia ocorreu em 2006, quando um jato Legacy colidiu com o Boeing da Gol, deixando 154 mortos.
Para que o voo seja feito em RVSM, a aeronave precisa de uma carta de autorização, chamada LOA. Lepore, o comandante da aeronave, no depoimento dado à justiça no dia 31 de março, afirmou ter ligado para a empresa dona do jato, para verificar se eles tinham essa autorização. “Liguei para a empresa perguntando se, de fato, a aeronave tinha essa permissão para voar e meu chefe disse que sim, que a documentação estava toda regular. Meu chefe disse que eu, como piloto, tinha que confiar na informação que a empresa fornece”, declarou o piloto.
O perito em aviação Roberto Peterka afirma que não é procedimento normal o comandante da aeronave ligar para a empresa para pegar uma autorização. “O piloto não deveria ligar para a ExcelAire, ele deveria ter a carta de autorização para voar em espaço reduzido em mãos. O fato de ele falar que ligou foi apenas uma desculpa para o erro que cometeu”, declarou.
O juiz Murilo Mendes, magistrado que interrogava no processo criminal o réu, perguntou a Lepore se ele poderia citar o nome da pessoa com quem falou. O piloto disse que não sabia soletrar e referiu-se ao chefe como Rariaco. A ExcelAire, em seu site, dispõe de uma lista de executivos. O responsável por esse tipo de autorização, segundo a empresa, é George Kyriacou, diretor de segurança e treinamento em terra.
Após a audiência na qual Lepore citou o chefe como responsável, nada foi feito para averiguar quem era efetivamente a pessoa para quem ele alegou ter telefonado pedindo a informação se havia ou não a autorização para o voo. Mas o perito Peterka lembra que o piloto é a autoridade maior em comando e que, portanto, não caberia a Lepore pedir esta autorização. “Pelas regras da aviação, não há ninguém hierarquicamente acima do piloto na responsabilidade pelo avião. Isso significa que, mais uma vez, Lepore mostrou tentar arranjar uma desculpa para o erro que cometeu”, declara o especialista.
A ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) autuou os pilotos do Legacy e a empresa ExcelAire em abril deste ano por Lepore e Paladino não terem em mãos a carta de autorização. O processo administrativo da Agência ainda está em andamento na segunda instância.
Rosane Gutjahr, diretora da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907, reforça que a declaração de Lepore no depoimento é mais uma prova cabal de um dos tantos erros cometidos pelos pilotos norte-americanos no acidente da Gol. Na primeira instância do processo criminal, Joseph Lepore e Jan Paul Paladino receberam pena revertida em serviços comunitários. "Espero que agora, na segunda instância, a sentença seja condizente com as 154 mortes que eles provocaram, dentre elas de meu marido, Rolf Gutjahr", declara Rosane.
Perfil Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907
A Associação foi fundada em 18 de novembro de 2006, na cidade de Brasília, no Distrito Federal, com o objetivo de reunir e organizar os familiares e amigos das vítimas do acidente aéreo voo 1907, da empresa Gol Linhas Aéreas Inteligentes S/A, para lutar pela defesa de todos os direitos e interesses dos que sofreram com a morte de entes queridos. Além disso, a Associação exige a apuração em todas as esferas administrativas e judiciais (cível e criminal) das causas que levaram à queda do avião, ocorrida no dia 29 de setembro de 2006, da mesma maneira que auxilia os familiares das vítimas a obter junto ao poder público e aos responsáveis pelo evento, todas as informações pertinentes sobre o sinistro, bem como obter o reconhecimento de seus direitos. Mais informações pelo site http://www.associacaovoo1907.com/?l=que e adesão ao abaixo-assinado pelo site www.190milhoesdevitimas.com.br