Três PMs participaram da tortura a suspeitos de furtar carne em Canoas, no RS
Dos sete envolvidos na tortura aos dois homens, um deles negro, que entrou em coma por causa das fortes agressões, a Polícia Civil já identificou três PMs, o gerente, o subgerente e 2 seguranças terceirizados
Publicado: 06 Dezembro, 2022 - 15h54 | Última modificação: 06 Dezembro, 2022 - 16h04
Escrito por: CUT-RS | Editado por: Marize Muniz
Dos sete envolvidos na tortura de dois homens, um deles negro, no supermercado Unisuper, em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, três são policiais militares, de acordo com a Polícia Civil. Dois trabalhavam no local nos dias de folga e atuam em Porto Alegre e um está na reserva da Brigada Militar
Os homens estariam tentando furtar duas bandejas de picanha, cada uma no valor de R$ 100. Foram agredidos pelos PMs, pelo gerente, pelo subgerente e dois seguranças terceirizados do supermercado, contratados por meio da Glock Segurança. O homem negro, que ficou mais machucado, chegou a ficar em coma induzido no hospital durante alguns dias.
O gerente e o subgerente foram demitidos pelo Unisuper, que cancelou o contrato da Glock.
Antes disso, após as agressões, o grupo pareceu comemorar a ação. Eles voltaram ao local da tortura e tiraram uma foto, supostamente a pedido do gerente.
reproduçãoUm dos três PMs envolvidos é o homem de moletom rosa e boné que aparece na foto e o outro é o de camiseta cinza e calça jeans. O policial militar aposentado é o homem que aprece de óculos e roupa azul, na última posição da direita pra esquerda. O outro é segurança terceirizado.
Após essa identificação, a Polícia Civil informa que já sabe quem são todos os torturadores, mas os nomes não foram divulgados.
Os dois PMs da ativa se apresentaram, acompanhados de advogados, para depor na Delegacia de Homicídios da cidade. A polícia está em contato com o ex-brigadiano para agendar o depoimento.
A Delegacia de Homicídios informou que não tem prazo para concluir o inquérito, destacando que a prioridade é concluir os depoimentos.
Todos foram identificados por meio das imagens de câmeras de segurança, que teriam sido apagadas, mas foram recuperadas pela perícia.
Crimes apurados
Os crimes apurados são tortura com finalidade de obtenção de informações e para aplicar castigo pessoal, omissão de socorro e ocultação de provas (pela suposta exclusão das imagens), além de danos (por quebrarem celulares das vítimas) e possível extorsão, já que teriam exigido dinheiro para liberar os dois homens agredidos.
Policiais estariam fazendo “bico”
A participação dos policiais no caso também é apurada em inquérito instaurado pelo Comando de Policiamento Metropolitano da Brigada Militar. A suspeita é de que eles estariam fazendo um "bico" — serviço paralelo — na segurança privada e foram reconhecidos pelas vítimas porque falavam em códigos — praxe dos policiais ao se referirem a determinados tipos de delitos.
O crime aconteceu no dia 12 de outubro no Unisuper e as imagens foram mostradas na noite do último domingo (4), durante o Fantástico exibido pela RBS TV, afiliada à Rede Globo.
Os dois homens, conforme o vídeo divulgado pela polícia, foram abordados por seguranças do estabelecimento após pegarem dois pacotes de picanha. Eles foram encaminhados para o depósito do supermercado, onde passaram a ser agredidos e torturados.
Eles foram espancados por cerca de 45 minutos e o fato só foi descoberto porque um dos homens que sofreu as agressões foi encaminhado para o Hospital de Pronto Socorro (HPS), em Porto Alegre, com ferimentos graves. Ele precisou ser colocado em coma induzido. O crime de omissão de socorro é imputado a alguns dos suspeitos por causa desta situação.
O Unisuper publicou uma nova nota na madrugada de segunda-feira (5), após a exibição da reportagem, alegando que demitiu os funcionários e encerrou o contrato com a empresa de segurança, além de pedir desculpas à comunidade de uma forma geral. A empresa Glock disse que só vai se manifestar em juízo.
Entidades entram com ação e pedem R$ 40 milhões de indenização
A Educafro e o Centro Santos Dias de Direitos Humanos protocolaram uma ação civil pública, nesta terça-feira (6), contra a rede de supermercados Unisuper e a Glock Segurança pela prática de racismo e aporofobia (termo utilizado para designar aversão aos pobres).
As associações pedem uma indenização de R$ 40 milhões e reparação de dano moral coletivo e dano social "infligidos à população pobre e à população negra do Brasil, em razão do espancamento, tortura e extorsão cometidos pelas empresas rés, por seus prepostos, contra dois cidadãos brasileiros pobres, sendo um deles negro".
Com informações da GZH e do G1.