Troca no comando da Caixa não muda gestão, diz conselheira
Representante dos bancários destaca que nova presidenta da Caixa, Daniella Marques, tem o mesmo perfil de “desmantelamento das estatais” de Pedro Guimarães, que deixou o banco após denúncias de assédio sexual
Publicado: 30 Junho, 2022 - 16h49 | Última modificação: 30 Junho, 2022 - 17h03
Escrito por: RBA
A troca no comando da presidência da Caixa Econômica Federal, com a nomeação de Daniella Marques Consentino, não representa nenhuma mudança para a gestão do banco público. É o que destaca a representante dos bancários no Conselho de Administração da Caixa (CA), Maria Rita Serrano, funcionária da instituição há 33 anos, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (30).
De acordo com a sindicalista, o objetivo da nova presidenta não será diferente da direção anterior, de Pedro Guimarães. Ele foi indicado ao cargo pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2019, mas pediu demissão na quarta-feira (29), após a divulgação de denúncias de assédio sexual feitas por várias funcionárias da Caixa. A escolha do novo nome foi confirmada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) publicada na tarde de ontem. Então secretária especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia (Sepec), antes de ingressar no governo Daniella Marques atuou por 20 anos no mercado financeiro e foi sócia-fundadora e diretora de uma empresa de fundos de investimento.
A escolhida é também considerada um braço direito do ministro da Economia, Paulo Guedes. Na prática, é o ministro quem controla o comando da Caixa. Por isso, a representante dos bancários no CA avalia que o interesse em privatizar o banco estatal, amplamente divulgado por Guedes, segue sob a nova presidência.
Problema é o governo
“O problema da direção do banco é a gestão do governo (federal)”, observa Maria Rita. “Então do ponto de vista da gestão interna do banco não acho que vai haver nenhuma grande mudança. A situação já estava complicada porque o objetivo é privatizar a instituição. E eles (do governo Bolsonaro) vão continuar com o mesmo objetivo. Isso só muda se você mudar o governo para um que tenha a preocupação com o país, com o desenvolvimento e com o crescimento. É isso que de fato muda porque se colocará as estatais para contribuir com um projeto de desenvolvimento. Mas não é isso que está colocado neste momento”, ressalta.
O nome de Daniella Marques, contudo, ainda precisará ser aprovado pelo Comitê de Elegibilidade da Caixa, segundo a funcionária. Além de seguir com os objetivos do governo do ponto de vista de gestão, a escolhida para assumir a presidência da Caixa também responde a uma tentativa do governo Bolsonaro de conter o desprestígio do presidente, que tenta a reeleição, com o eleitorado feminino. A imagem de Bolsonaro está ainda mais abalada após virem à tona as denúncias de assédio sexual contra funcionárias do banco por Guimarães, seu apoiador e amigo.
As denúncias de assédio vêm desde 2019. Apesar de o ex-presidente da Caixa negar, em carta de demissão, as acusações, os relatos das funcionárias são contundentes. “Ele me chamou para ir para sauna com ele. Perguntou: ‘Você gosta de sauna?’. Eu disse: ‘Presidente, eu não gosto’. Se eu tivesse respondido que gosto, ele daria prosseguimento à conversa”, relatou uma das vítimas, na condição de anonimato.
Investigação
A representante dos bancários vem exigindo o envolvimento intensivo do CA nas apurações das denúncias de assédio sexual. Ela apresentou ao conselho pedido de seleção e contratação de entidade externa, independente, como forma de assegurar agilidade e segurança de que nem as investigações, nem as denunciantes, sofram algum tipo de cerceamento. Além disso, Maria Rita também questiona o fato das acusações nunca terem chegado ao Conselho de Administração, composto por oito membros, sete deles, incluindo o presidente, indicados pelo governo.
“Elas (denúncias) não foram relatadas ao CA que tem o papel de fiscalizar e inclusive tratar desses casos que envolvem dirigentes da empresa”, contesta a única representante dos trabalhadores no órgão. Em nota divulgada na noite desta quarta, a Caixa assumiu que tinha conhecimento das acusações. A instituição alegou que a investigação corre em sigilo, no âmbito da Corregedoria, motivo pelo qual não era de conhecimento de outras áreas do banco, justificou.
Ainda ontem, o Ministério Público do Trabalho (MPT) notificou e deu o prazo de 10 dias para que Pedro Guimarães e a Caixa se manifestem sobre as denúncias de assédio sexual. Se comprovadas, Maria Rita destaca que o ex-presidente do banco deve responder pelo crime. “O assédio sexual, constatado como crime, principalmente no ambiente corporativo envolve uma relação de poder. A pessoa acima de você, que tem um cargo superior, utiliza desse poder de te demitir, de tirar sua função e te perseguir do ponto de vista do ambiente de trabalho. E utiliza desse poder para assediar e ter favores sexuais. Então é algo absurdo ainda mais se pensarmos em uma empresa do tamanho da Caixa, que tem regulamento de pessoal e uma governança instituída. É um absurdo pensar que isso está ocorrendo”, lamenta.
Saiba mais na entrevista