Escrito por: André Accarini
'Orgulho americano' deve fazer Temer rever desejo de submissão aos EUA
Protestos, manifestações, repúdio. A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos causou grande repulsa em todo o mundo. Mas, possivelmente, ninguém sofreu um tombo maior do que o governo golpista.
Foram anos de articulação no Brasil para estabelecer relacionamentos com países do hemisfério sul, China e América Latina, política que estabeleceu acordos comerciais promissores. Mas a nova política internacional prometida por Temer e seus aliados prioriza afunilar acordos com os EUA, com a volta da subserviência ao governo estadunidense, como era até o início dos anos 2000.
A previsão de mudança na rota ocorre porque o futuro presidente dos Estados Unidos tem um perfil extremamente protecionista. E isso significa o fortalecimento tanto da indústria quanto do mercado interno (deles, não o nosso).
Com a globalização, a indústria americana ficou comprometida já que várias empresas migraram para outros países com mão de obra mais barata. Efeito cascata, o desemprego aumentou, o poder de compra diminuiu e a economia dos Estados Unidos decaiu. Trump quer reverter isso. Como republicano, declarou ser contra tratados de livre comércio e prometeu rever a política externa.
Para o Brasil os planos de Trump não são nada bons. Antonio Lisboa, Secretário de Relações Internacionais da CUT afirma que a turma do governo terá de “se render às relações diversificadas, estabelecidas durante os governos Lula e Dilma, com América do Sul, Africa, China e outros países”.
O dirigente alerta também para a questão do emprego no Brasil. “Se há dificuldade de comércio, de exportação, você prejudica o emprego por aqui. As commodities são destaque das relações comerciais com os Estados Unidos. Isso, por si só, já é indutor de geração de emprego na agroindústria, mas ainda assim, com os Estados Unidos fechando o cerco, fica prejudicada a demanda de produção em outros setores”, explica Lisboa.
O mundo à direita
A exemplo dos Estados Unidos, cuja economia ficou comprometida graças aos efeitos da globalização econômica, a desilusão com o sistema influenciou o mundo todo a pender para o conservadorismo. O discurso de direita quase sempre é acompanhado de radicalismo, com tendências fascistas. Perigo iminente do crescimento da xenofobia, do racismo, extremismo e preconceito à vista.
João Felício, presidente da CSI, Confederação Sindical Internacional, entidade que representa mais de 180 milhões de trabalhadores em todo o mundo, alerta para discurso de ódio de Donald Trump nos Estados Unidos que pode se tornar um exemplo para outros países.
Hillary Clinton, candidata democrata, saiu vitoriosa no voto popular, mas Trump levou a presidência porque teve mais votos em estados com maior número de delegados (entenda como funcionam as eleições nos Estados Unidos).
O voto de protesto pode ser observado já que grande parte dos trabalhadores demonstrou insatisfação com a política adotada até então. E vale lembrar que essa mesma política já vinha sendo praticada tanto por democratas como republicanos. Não foi muito diferente a condução do país pelos “Georges” Bush (pai e filho), Bill Clinton e Barack Obama. A classe operária “comprou” o discurso de fortalecimento interno de Trump, mesmo com as barbáries ditas durante a campanha.
O perigo mora aí. Se até mesmo parte da classe trabalhadora foi ludibriada pelo discurso duro de Trump, o que esperar de uma onda conservadora mundo afora? Já vem acontecendo em países como Itália, França e Holanda. Movimentos sociais, de defesa direitos humanos, terão muita luta a fazer daqui para frente, caso Trump mantenha sua postura intolerante.
Mas João Felício questiona se ele cumprirá mesmo as suas promessas. Por exemplo, um dos argumentos durante o período pré-eleição, usado pelo candidato, foi de que os Estados Unidos gastam muito com armamento e com organismos internacionais. Ele prometeu acabar com a “farra da guerra”, mas, segundo Felício, será difícil conter o lobby da indústria bélica no Congresso americano. Em seu discurso de vitória, a retórica mudou um tanto. Saiu do ataque e foi para o viés da união de forças. Mas foi só um discurso. As ações é que determinarão os próximos tempos e a previsão não pode, nem de longe, ser considerada boa.
O que muda?
Para João Felício, nada vai mudar muito. Nos últimos anos houve um aumento do fosso entre as camadas sociais nos Estados Unidos e ele acredita que o presidente não fará muita coisa para reverter isso. O secretário aponta que o discurso de Trump é machista, racista, contra as minorias e, numa caricatura típica de um conservador, a arrogância do chamado “orgulho amercano” para demonstrar supremacia.