Escrito por: Redação RBA
Reitoria altera regime e cria condicionante que abre brecha para que alunos brancos ocupem as vagas
Há quase uma semana, estudantes ligados ao movimento negro ocupam a reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) contra o que consideram o início da destruição da política de cotas naquela instituição. Eles contestam decisão da reitoria, tomada no mês passado, de que vagas reservadas aos estudantes negros sejam ocupadas por quem comprovar ascendência negra até a geração dos avós. Segundo eles, isso significa que candidatos brancos possam ocupar as vagas, o que motivou o coletivo Balanta a fazer a ocupação.
A tensão aumentou desde a última sexta-feira (9), quando foi expedido mandado de reintegração de posse que autoriza o uso da Brigada Militar, da Polícia Federal e também do Exército para a retirada dos alunos.
Uma comissão especial criada no ano passado para avaliar denúncias de fraudes apontou que 239 alunos que ingressaram na universidade por meio de cotas não apresentaram características fenotípicas que os identificassem como negros.
"Antes de pensarmos na ocupação, tivemos duas reuniões com o reitor, em que nós colocamos as pautas do movimento, fizemos reclamações sobre as portarias, sobre a possibilidade jurídica de abrirmos jurisprudência que vai permitir que pessoas brancas ocupem as vagas de pessoas negras, e a reitoria sempre 'empurrou com a barriga'", relata o estudante Matheus Marçal ao repórter Guilherme Oliveira, em reportagem do Seu Jornal, da TVT.
O presidente da ONG Educafro, frei Davi, esteve na universidade para levar apoio aos estudantes e criticou a falta de rigor na aplicação da política de cotas. "A política de cotas foi muito mal trabalhada por todas as universidades. Deixaram solta e agora estamos dizendo: queremos que os reitores sejam sérios. Ou então vamos ter que começar a abrir a ação por improbidade administrativa contra os reitores, que estão deixando a cota ser ocupada por qualquer um."
Já o coordenador do Movimento Negro Unificado, Gleidson Dias, lembrou que essa é uma política que tem efeito de reparação histórica e também de justiça distributiva, já que os negros são maioria na população, mas não são representados em carreiras de nível superior, daí a importância das cotas.