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Um ano após anunciar saída do Brasil, Ford importa carros para vender aqui

Trabalhadores criticam governo Bolsonaro por não agir para impedir saída da montadora. Outras empresas estão saindo e desindustrialização preocupa

Publicado: 13 Janeiro, 2022 - 11h22 | Última modificação: 13 Janeiro, 2022 - 18h00

Escrito por: Redação RBA

Ford/Divulgação
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Há um ano, a Ford anunciou a saída definitiva de suas fábricas no Brasil. Mas, para trabalhadores e sindicalistas, a saída poderia ter sido evitada. Com o fechamento das três principais unidades da montadora, foram demitidos quase 8 mil trabalhadores diretos e pelo menos 100 mil indiretos. Em setembro, a Ford fechou também a fábrica da Troller, no Ceará, e mais 500 empregos foram extintos. Faltou responsabilidade social da empresa, consideram os representantes dos empregados da Ford.

“Se ela decidiu ir embora do Brasil, fechar uma planta é um direito da empresa: essa é a visão neoliberal grotesca que eles têm”, critica Rafael Marques, presidente do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento (TID-Brasil). “No mundo inteiro não é assim. A Ford também tentou fechar a unidade de motores na França. Levou 10 anos para fechar a fábrica. Porque o governo se envolveu fortemente”, afirma Marques, em reportagem do Seu Jornal, da TVT.

Para encerrar as atividades industriais no Brasil a Ford gastou R$ 24 bilhões entre indenizações de trabalhadores, concessionárias, devolver empréstimos, multas por rescindir contratos de incentivos fiscais. Para os empregados da montadora no Brasil, o governo Bolsonaro se omitiu, e outras indústrias devem deixar o país.
 
Desindustrialização

“Quando se analisa a irresponsabilidade da Ford não dá para deixar de fora a irresponsabilidade do governo federal e também do estadual”, afirma o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT), Paulo Cayres. “O estado de São Paulo vem perdendo empresas: a Ford em São Bernardo do Campo, a Ford e a LG em Taubaté. Então tem uma mescla aí. Não há ação em prol da indústria. O problema é maior do que simplesmente o fechamento da Ford”, observa Cayres.

Isso fica ainda mais claro quando se vê que, apesar de ter abandonado a fabricação no país, a Ford continua importando carros para vender no Brasil. Diante disso, os metalúrgicos denunciam o fechamento de fábricas, a desindustrialização, situação agravada após o golpe de 2016, que resultou no impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

“Várias cadeias industriais estão acompanhando a Ford. Estão desinvestindo: indústria farmacêutica, de bens de capital. Um cenário muito ruim”, relata Rafael Marques. “Estamos vivendo uma queda dos investimentos abrupta no país. E além dessa queda, o desinvestimento privado, público e de estatais.”

Destino incerto

A fábrica da Ford em São Bernardo foi comprada por uma empresa do setor imobiliário e está sendo demolida. Em Camaçari, na Bahia, existe a possibilidade de que outra montadora assuma as instalações, relata o repórter Jô Miyagui.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da cidade baiana, Júlio Bonfim, afirma que seguem as negociações com o governo estadual, com a federação das indústrias (Fieb) e o Sindipeças para viabilizar essa nova empresa. “Que possa assumir esse complexo automotivo aqui em Camaçari e com essa vinda a gente possa minimizar o impacto do desemprego na região metropolitana.”