Escrito por: Redação CUT
Para alertar sobre a gravidade da ordem de despejo de 450 famílias, João Pedro Stedile relembra a morte de 19 trabalhadores rurais pela PM no episódio que ficou conhecido como Massacre de Eldorado dos Carajás
"Todos vocês devem estar lembrados do que aconteceu em [Eldorado do] Carajás em 1996, pois bem, uma nova tragédia está anunciada". É com essas palavras que João Pedro Stedile, liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), alerta sobre um possível despejo do acampamento Quilombo do Meio, em Minas Gerais, onde 450 famílias vivem e produzem há mais de 20 anos.
A decisão do juiz Walter Zwicker Esbaille Junior, proferida na última quarta-feira (7), estabelece que as famílias têm o prazo de sete dias para desfazer a ocupação e deixar o local. Com essa decisão, além do fato de centenas de pessoas ficarem desabrigadas do dia para a noite, serão destruídos 1.200 hectares de lavoura de milho, feijão, mandioca e abóbora, 40 hectares de horta agroecológica e 520 hectares de café. Diversas casas, currais e quilômetros de cerca também serão derrubados.
A área ocupada, segundo Stédile, é de uma usina de cana que foi à falência há décadas atrás. “E a usina deve aos cofres públicos e aos trabalhadores e trabalhadoras que trabalharam e não receberam mais de R$ 300 milhões, sendo que a área vale R$ 90 milhões”.
O líder do MST explica que, ao longo dos anos, dezenas de audiências foram realizadas e o governo do estado de Minas Gerais fez um acordo, comprometendo-se a pagar pela área R$ 90 milhões, divididas em parcelas. “A ação de despejo pelo juiz da Vara Agrária de Belo Horizonte é uma vergonha. E a nossa causa é tão justa que o Ministério Público Estadual já se manifestou ao Tribunal de Justiça, contestando essa decisão”.
Essa ordem, que só pode ter interesses por trás, pode destruir tudo o que as pessoas construíram em duas décadas de trabalho- João Pedro StédileDe acordo com os advogados de defesa das famílias, a decisão é arbitrária e fere os princípios constitucionais ao não reconhecer valores da dignidade humana. Segundo os defensores, a audiência aconteceu de maneira atípica. Houve restrição para a entrada da representação das famílias acampadas e impedimento de autoridades que se deslocaram para acompanhar a audiência.
“Durante a condução do rito, o juiz solicitou a presença da tropa de choque dentro da sala. O juiz sequer leu a sentença, apenas informou rapidamente a decisão”, diz trecho do documento divulgado pelo MST, que está recorrendo da decisão.
Na tarde desta sexta-feira (9), a CUT e o MST foram recebidos pela delegação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para denunciar ao órgão casos de violações aos direitos humanos no Brasil. Na ocasião, o MST levou para a discussão o caso do despejo do acampamento Quilombo do Meio.
Confira a íntegra da fala de João Pedro Stédile, do MST:
*Com informações MST