Escrito por: Paulo Henrique Amorim / Conversa Afiada
Em entrevista ao Conversa Afiada, Vagner afirma que eles querem é rasgar a CLT
Faltando poucas horas para o início da Greve Geral, Vagner Freitas deu esta entrevista ao jornalista Paulo Henrique Amorim, do portal Conversa Afiada.
PHA: Eu converso com Vagner Freitas, presidente da CUT. Vagner, o que é que pára amanhã (28/04)?
Vagner Freitas: Tudo, Paulo. Nós vamos fazer a maior greve geral da história do Brasil. Nós estamos muito animados, ainda mais com a palhaçada feita pelos congressistas ontem. Isso colocou mais fogo na greve, ainda. Estou em contato com nossos sindicatos, com as demais centrais sindicais. A revolta pelo fim da CLT, ontem, potencializa mais a greve. Então, são todos os setores.
E não é verdade que é uma greve só do transporte, não. O Setor de transporte é essencial na greve, e vai parar junto. São Paulo, por exemplo, não vai acontecer amanhã. Os ônibus estarão em greve, os trens, os metrôs, aeroporto. Agora, as categorias estarão em greve, os trabalhadores estarão em greve, por conta do desmonte da CLT, da possibilidade de perder a aposentadoria... Eu acho que vai ser um movimento muito forte, com todas as centrais sindicais - é importante citar, não é só a CUT. Todas as centrais sindicais estão organizando a greve com muita fibra.
Acredito muito na força da greve. E isso já demonstra-se hoje pelo poder público tentando inibir a greve. O bufão do prefeito de São Paulo, tentando aparecer, porque ele só é um prefeitinho midiático. São Paulo está jogada às traças e tem um palhaço, um bufão, na cadeira de prefeito, que tenta aparecer criando factóides a todo momento - xingando o Lula, agora xingando a greve e o sindicalismo, tentando impedir a greve.
Não adianta: a greve em São Paulo vai acontecer com muita força. Há bom apoio à greve na sociedade, mais de 70% a 80% das pessoas que estamos ouvindo em pesquisas, até nos portais conservadores, têm demonstrado apoio em relação à greve. Líderes religiosos, líderes nacionais... Acho que vai ser a maior greve que já fizemos.
PHA: Quando você fala em todas as centrais sindicais, você inclui a central do Paulinho da Força - que aqui no Conversa Afiada chamamos de "Pauzinho do Dantas"?
Vagner Freitas: A Força Sindical estará na greve. Seus sindicatos estão convocando a greve. Tenho acompanhado, agora, inclusive o portal da Força e dos seus sindicatos, eles vão estar na greve, sim, estão convocando a greve. Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, que é ligado à Força, é muito forte. Outros sindicatos, como todo o setor químico de São Paulo, que é ligado à Força também - tem químicos de São Paulo ligados à Força e ligados à CUT - também estão chamando a greve. São grandes sindicatos da Força, e a Central também, enquanto Central, também está chamando a greve.
Não tem muito jeito: é por conta do desmonte da CLT. Independente da opinião da Central sobre a conjuntura, sobre o governo e tal, não dá pra suportar o desmonte da CLT e, obrigatoriamente, vai à greve, empurrada pelos trabalhadores.
PHA: E os petroleiros, Vagner?
Vagner Freitas: Estaremos em grande manifestação nos petroleiros. As refinarias estarão paralisadas, as principais delas, no Brasil inteiro. Fundamentalmente, no Rio de Janeiro, na Bahia, aqui em São Paulo, no Ceará, no Paraná... Vai ter até por conta do desmonte da Petrobras. Os petroleiros sabem que ao fim ao cabo significa o fim de seus empregos. Não tenho dúvida nenhuma que vai ter uma adesão muito forte no ramo petroleiro em todo o país.
PHA: O que você acha que foi mais decisivo para mobilizar a greve: esse fim da CLT, a reforma da previdência, ou o desemprego propriamente dito?
Vagner Freitas: O Temer! Acho que o que mobiliza a greve é o Temer! A desgraça que ele traz pro Brasil, com a paralisação da economia, a falta de esperança do povo brasileiro, a mentira que eles fizeram com o impeachment. Disseram que o impeachment - impeachment não! Golpe! - que o Golpe que deram contra a presidenta Dilma resolveria as questões econômicas, que o Brasil voltaria a crescer, que ia gerar empregos... Pelo contrário: o Brasil piorou, com a crise econômica, política e moral de legitimidade enorme que faz com que os brasileiros não tenham esperança e sabem que precisam acabar com esse governo, ter o Fora Temer, ter eleições diretas para Presidente da República, para o congresso, para poder sair dessa crise.
Isso é uma coisa que impulsiona muito para a greve, esse desencanto com a mentira golpista, as pessoas caíram na real. E as propostas de mudanças, as reformas, os desmontes. É um governo louco, que é corrupto, que não tem autoridade política, ética ou moral, e vem com a proposta de acabar com aposentadoria, com férias, décimo-terceiro salário... Acabar, enfim, com a CLT. A junção da mentira golpista com a proposta das reformas é o que faz a greve e constrói a mobilização junto com a capacidade que os sindicatos tiveram de ler esse momento e propôr a greve.
PHA: Qual o efeito do fim da CLT sobre a CUT e os filiados da CUT?
Vagner Freitas: A CUT surgiu questionando alguns pontos importantes da organização trabalhista e sindical brasileira. Nós acreditamos que a CLT é extremamente importante pro Brasil hoje, até por conta de ter um governo golpista, um congresso eleito pelos empresários - e que estão aí apenas para atender aos interesses dos empresários. A CLT, embora tenha que ser modernizada, ela é um arcabouço de defesa importante dos trabalhadores no momento de Golpe contra os trabalhadores. Então temos que defender a CLT neste momento.
A CUT nem quer fazer debate neste momento sobre as coisas que têm de ser alteradas positivamente na CLT, porque não cabe debate com golpista. Debate de mudanças sérias, não só na CLT, como em qualquer outra questão da política nacional, só deve ser feito com quem foi eleito e com um congresso que não seja corrupto e eleito pelos banqueiros, empreiteiros, como é esse aí.
Pra CUT, o que muda em relação à CLT é que, se os trabalhadores perdem sua carteira assinada, perdem os vínculos com sua empresa, eles também perdem os vínculos com seu sindicato. E, por trás disso, tem a questão do desmonte da CUT, do movimento sindical. O que Temer e os golpistas querem fazer é que os trabalhadores não tenham carteira assinada e, logo, eles não tem uma categoria profissional nítida, legal e, consequentemente, ficam com dificuldade de ter um sindicato que os proteja, onde ele possa estar engajado.
Acho que esse é um dos principais motivos dessa reforma: o enfraquecimento do movimento sindical. O enfraquecimento, fundamentalmente, da CUT - se eles desmontam os principais sindicatos organizados e transformam, por exemplo, os metalúrgicos, bancários, químicos, os petroleiros, os professores em pessoas jurídicas, com a terceirização, obviamente vamos ter uma reformulação na atuação da CUT pra representar esses trabalhadores numa outra esfera.
Não tem nada a ver com dinheiro, Paulo. Gostaria de dizer claramente isso. A CUT não está preocupada com o fim do imposto sindical. Sabemos que nós temos que ter uma sustentação financeira além da associação, porque o Brasil tem política antissindical, os trabalhadores são impedidos de se associar livremente, os sindicatos são impedidos de entrar no local de trabalho, consequentemente ele não tem a condição de representar todos os trabalhadores porque a lei antissindical brasileira impede. Agora, a CUT pode suportar o fim do imposto sindical, porque ela tem capacidade de filiar trabalhadores, ela tem fonte de receita por conta do trabalho de seus sindicatos.
O problema não é só esse. O grande problema é que muda a base de representação dos trabalhadores. Deixam de estar nos sindicatos que estão para entrar em outros sindicatos. E isso pode, sem dúvida nenhuma, enfraquecer a CUT.