Escrito por: CUT - RS

Velas iluminam ato em Porto Alegre em memória aos 500 mil mortos na pandemia

A manifestação foi organizada pela Associação de Vítimas e Familiares da Covid-19 (Avico), e por entidades religiosas

Reprodução / Facebook

Os 500 mil mortos na pandemia do coronavírus no Brasil foram recordados e homenageados no início da noite desta terça-feira (22), durante ato inter-religioso realizado nos Arcos da Redenção, em Porto Alegre. Para tanto, 500 velas foram acesas e colocadas no chão, lembrando a memória das vidas perdidas e iluminando a luta por vacinação em massa, auxílio emergencial de R$ 600 e impeachment de Bolsonaro.

A manifestação foi organizada pela Associação de Vítimas e Familiares da Covid-19 (Avico), e por entidades religiosas, como o Fórum Inter-religioso e Ecumênico do Rio Grande do Sul, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), o Conselho Estadual do Povo de Terreiro do RS, a Fundação Luterana de Diaconia (FLD) e a Caritas Porto Alegre, com a participação da CUT-RS e movimentos sociais.

O ato foi acompanhado por dezenas de pessoas, todas usando máscaras, como familiares de vítimas e frequentados do parque. Nomes de vítimas da covid-19, alguns escritos em cartazes, foram declarados em voz alta pelos presentes. Teve várias falas de indignação diante da tragédia da pandemia e pelos crimes contra a vida de pessoas negras e indígenas no país. E não faltaram gritos de “Fora Bolsonaro”. 

“É um ato de solidariedade com os mortos e com famílias enlutadas, muitas das quais não puderam se despedir, por não haver sequer velório ou enterro decente. Esse momento é de memória e de justiça, para lembrarmos de todo o descaso e irresponsabilidade que gerou o descontrole da pandemia e essas mortes”, disse o presidente da Associação de Vítimas e Familiares da Covid-19 (Avico), Gustavo Bernardes. Enquanto o Brasil passou a marca de 500 mil mortes, o RS já registrou mais de 30 mil vidas perdidas.

Negligência do governo

“Todas as diferentes crenças que estão aqui hoje são afirmadoras da vida. É um ato que chama atenção para a negligência de um governo que tem provocado muito sofrimento às pessoas”, ressaltou a pastora luterana Cibele Kuss, que presidiu o ato. Também participaram católicos, budistas e religiosos de matriz africana.

Para ela, “são vidas interrompidas pela negligência e pela violência deste governo”. Cibele destacou que “a política do SUS é fundamental, porém não foi potencializada. Conseguiu fazer muita coisa, mas temos meio milhão de pessoas que deixaram suas famílias”.

“É um momento de solidariedade, de amorosidade e de denúncia. Temos que pensar um projeto de país e respirar de novo a democracia", enfatizou a pastora, ressaltando que essa manifestação integra o movimento Respira Brasil, que reúne várias organizações da sociedade “por vacina no braço, comida no prato, auxílio emergencial de R$ 600 e fora Bolsonaro”.

De luto, mas também na luta com esperança

“Estamos de luto, mas estamos também na luta. São vidas perdidas, mas que ficarão na nossa memória e não nos esqueceremos disso, que é fruto de uma política de morte e genocida, que não cuida da vida, da saúde e do bem-estar das pessoas, que não cuidado com a humanidade e os seres vivos”, afirmou o ex-deputado estadual Selvino Heck, que integra o Movimento Fé e Política. “Estamos aqui para esperançar, fazer acontecer a esperança com a boa luta”.

“Com a participação de religiões de todas as matizes, estamos afirmando que estamos de luto, mas afirmando a vida e a luta, para que os genocidas que produziram todas essas mortes sejam responsabilizados e criminalizados. Nós continuaremos com esperança na trilha por um país com direitos e socialmente justo. Fora Bolsonaro”, afirmou o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, que acompanhou o ato com as suas filhas.

“Mais de meio milhão de pessoas mortas por conta da negligência de um governo genocida, sem compromisso com a manutenção da vida. Todas as religiões do mundo devem se manifestar porque primam pela vida. Os nossos corações estão de luto e estamos revoltados com o descaso de governantes com a saúde pública”, afirmou o babalorixá Baba Diba. Ele aproveitou para denunciar as precárias condições de atendimento nos hospitais para o povo negro e da periferia, “o que vai evidenciando o racismo estrutural e religioso e o desrespeito com a vida e a saúde do povo brasileiro”.

Histórias interrompidas

Dentre os nomes lembrados pelos participantes, estavam os de Nereu e Maristela Knauth, casal morto pela doença em março deste ano. Ao ouvi-los, Daniela Knauth entoou “o meu pai” e “a minha mãe”, fazendo com que os presentes soubessem do tamanho da sua perda. 

Nereu faleceu aos 80 anos, onze dias antes da esposa. A filha cuidou deles no hospital durante um período, mas teve de se afastar quando também foi contaminada pelo vírus. Por causa disso, não estava ao lado deles quando partiram.   

“O mais difícil é não poder ter estado com eles quando tudo aconteceu. Me causa muita revolta, pois eles não teriam morrido se tivessem sido vacinados. O pai morreu um dia antes de poder receber a vacina. A minha vida foi destruída em questão de um mês”, contou Daniela, que segurava um cartaz em homenagem a todas as vítimas.

A menina de 10 anos Eloísa Hoff recebia o conforto dos braços da mãe, Caroline Hoff, enquanto chorava pelo pai Henrique Hoff, que morreu aos 47 anos, em abril, numa UTI em Porto Alegre. “Foi meu companheiro por 22 anos, um pai incrível e um professor apaixonado pelo que fazia. O sentimento é de indignação por uma morte que poderia ter sido evitada, como a da minha mãe”, salientou Caroline.  

Após o final do ato, cada participante levou uma das velas acesas para casa, como forma de continuar a luta contra o genocídio e pela vida.