Escrito por: FUP
Privatização feita por Bolsonaro causou a demissão de 300 trabalhadores até agora. Total deve chegar a 1.250 postos de trabalho perdidos. Venda dos ativos faz com que Petrobras não tenha mais presença no estado
No Rio Grande do Norte, as 27 plataformas de águas rasas, os 20 campos produtores de petróleo em terra, assim como a refinaria Clara Camarão pertencem agora à empresa 3R Petroleum. O quadro é resultado do processo de compra, assinado no início de 2022 ainda no governo Bolsonaro, que foi concluído na quarta-feira (7).
A privatização desses ativos da Petrobras, de acordo com a direção do Sindicato dos Petroleiros do RN (Sindipetro-RN), já causou a demissão de 300 pessoas. Outras 950 estão em aviso prévio.
“Enfrentamos situação inédita para o Rio Grande do Norte, que é a ausência da Petrobras na cadeia de petróleo e seus derivados. Já temos efeitos imediatos, com o desligamento de 1.250 postos de trabalho ligados diretamente à atividade de produção. Além disso, também temos uma preocupação com a segurança de abastecimento, porque a Petrobras possuía um sistema integrado de produção, quando faltava algum componente aqui, recebíamos da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, do petróleo do pré-sal, das refinarias de São Paulo”, alerta Ivis Corsino, coordenador-geral do Sindipetro-RN.
O Polo Potiguar tem cerca de 2.400 funcionários, contando com aqueles que são concursados. Durante as tratativas com o Sindicato, a promessa foi de recontratar os demitidos.
“Nossa preocupação era que garantissem a manutenção dos postos de trabalho, a promessa é que em prazo de dois a três meses os trabalhadores fossem recontratados. Mas não há garantia, é uma empresa privada que não tem obrigação de contratar”, destaca Marcos Brasil, diretor do Sindicato.
Na avaliação da direção da entiade, a venda do Polo Potiguar também representa uma volta da paridade de preços com base no mercado internacional, mais volátil e com valores fixados com base no dólar norte-americano. De acordo com Ivis Corsino, a nova operadora, a 3R Petroleum, não possui refinaria própria e ainda não se sabe se ela vai refinar o petróleo extraído das terras potiguares por aqui ou se ele será vendido em estado bruto, para ser refinado em outro local.
“A nova operadora não possui refinaria própria e ficará limitada à sua produção e a comprar no mercado internacional para garantir o abastecimento. Ontem ela já aumentou o preço dos derivados gasolina e diesel. O gás também deve sofrer aumento. Essa oneração é o retorno à política de preços com base na paridade de importação, internacional. Então além da insegurança no abastecimento, temos também a questão do aumento”, critica o coordenador-geral.
Atualmente, toda produção de petróleo extraída no polo potiguar é processada na refinaria Clara Camarão, em Guamaré. Os resíduos que não são aproveitados no RN por falta de laboratórios com mais tecnologia, são enviados para outras unidades, o que resulta na produção de outros derivados, como o diesel S10, por exemplo.
“Estávamos num caminho de aumentar o processamento de petróleo na nossa refinaria o que, consequentemente, estava no caminho de baixar preço. Agora, podemos estar no caminho contrário. Eles [a empresa] querem retorno em menor prazo e não há preocupação em aproveitar os polos”, acrescenta Corsino.
Em nota, a representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobrás, Rosangela Buzanelli, afirmou que a conclusão da venda do Polo Potigar, “além de uma perda lastimável para a Petrobrás e, principalmente, para a população da região que já começou a sofrer os efeitos da privatização. Uma das primeiras medidas da gestão privada foi aumentar o preço dos combustíveis. Um dia depois de ser privatizada, de acordo com divulgações da imprensa, a refinaria passou a vender o litro da gasolina R$ 0,23 mais caro e o diesel subiu R$ 0,51”.
Veja a íntegra da nota da conselheira eleita:
O Polo Potiguar, infelizmente, não é mais da Petrobrás. O processo de compra, assinado no início do ano passado pelo governo Bolsonaro, foi encerrado nesta quarta-feira (7), após autorização da ANP (Agência Nacional do Petróleo) de transferência de 100% da participação da estatal no polo para a 3R Potiguar. Só temos que lamentar mais esse triste episódio, que representa a saída da Petrobrás do estado do Rio Grande do Norte.
Com a venda do Polo Potiguar, a companhia deixa de operar 22 campos de óleo e gás, toda a infraestrutura e sistemas de dutos que dão suporte à operação e as instalações do Ativo Industrial de Guamaré, que inclui as unidades de processamento de gás natural, a Refinaria Clara Camarão e o Terminal Aquaviário.
A venda do polo é uma perda lastimável para a Petrobrás e, principalmente, para a população da região que já começou a sofrer os efeitos da privatização. Uma das primeiras medidas da gestão privada foi aumentar o preço dos combustíveis. Um dia depois de ser privatizada, de acordo com divulgações da imprensa, a refinaria passou a vender o litro da gasolina R$ 0,23 mais caro e o diesel subiu R$ 0,51.
Outra triste consequência da venda do Polo Potiguar é o número de trabalhadores demitidos. Segundo dados do Sindipetro-RN, já houve 300 dispensas e mais 950 empregados receberam aviso prévio. Em declarações nas redes sociais, noticiadas pela mídia, o presidente da estatal, Jean Paul Prates, afirma que a Petrobrás vai reinaugurar a sede de Natal no dia 19 de junho e “se revitalizará fortemente em breve”, permanecendo no estado. Sobre as demissões, ele disse que a companhia já busca soluções para alocar os empregados da região, com a previsão de abertura de vagas administrativas em Natal e offshore para quem quiser embarcar.
São louváveis as preocupações da nova diretoria em adequar os trabalhadores – temos que reconhecer que, após vivenciarmos vários anos de descaso com os trabalhadores, essa nova gestão trata a força de trabalho com outros olhos, valorizando e respeitando os empregados. Mas, dependendo da realidade de cada trabalhador, as opções oferecidas poderão não atender às necessidades. A verdade é que com a privatização sempre haverá muita gente prejudicada.
A venda do Polo Potiguar já é questionada no âmbito da Justiça Federal do Rio de Janeiro. No mês passado, o escritório de advocacia que representa a FUP entrou com uma Ação Popular contra a negociação, alegando potencial conflito de interesses. Na época da compra, o presidente da Petrobrás era Roberto Castello Branco, que atualmente exerce o cargo de presidente do Conselho de Administração da 3R Petroleum. A ação alega que a empresa “adquiriu uma parte significativa dos ativos vendidos pela Petrobrás”. O fato de as vendas terem sido realizadas sob a liderança do então presidente da Petrobrás que, após sair da empresa, assumiu a presidência do CA da compradora é, no mínimo, intrigante. Digamos que há um evidente conflito de interesses nesse trânsito gerencial. E ele não é o único ex-gestor da Petrobrás que assumiu cargos na 3R, a famosa “porta giratória” virou ventilador.
“Essa conexão entre a antiga gestão da Petrobrás e a atual posição ocupada por Castello Branco aponta sérios indícios de conflito de interesses na gestão da Petrobras em favorecimento à 3R Petroleum”, relata a ação.
Durante a gestão de Castello Branco na Petrobrás, a 3R Petroleum comprou mais de R$3 bilhões de ativos da estatal, dentre eles, todo o polo petroquímico de Areia Branca, Pescada, Arabaiana, Macau e Potiguar, no Rio Grande do Norte.
Reforço que, na minha visão, é necessário que os processos de privatização de ativos da estatal implementados entre 2016 e 2022 sejam analisados e avaliados pelo novo governo e seus agentes, evitando-se o risco de serem acusados de omissos pela história. O desmonte e a desverticalização da Petrobrás promovidos nesses últimos sete anos são inquestionáveis, assim como as consequências lesivas para a empresa e o país. O fato é que a Petrobrás foi criada pelo povo brasileiro para servir a ele e à nação.
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Com informações do Sindipetro RN, da Agência Saiba Mais e do Blog da Rosângela