Vereadora bolsonarista de Montenegro (RS) compara mulheres de esquerda a cadelas
Com as galerias do plenário lotadas, os vereadores decidiram abrir um processo de cassação da vereadora por oito votos a favor e um contra
Publicado: 24 Outubro, 2022 - 08h39 | Última modificação: 24 Outubro, 2022 - 08h47
Escrito por: CUT-RS
Por oito votos a favor e um contra, a Câmara Municipal de Montenegro, na Região Metropolitana de Porto Alegre, decidiu abrir um processo de cassação contra a vereadora Camila Oliveira (Republicanos), que gravou dois vídeos em seu gabinete, junto a duas adolescentes, comparando mulheres de esquerda a cadelas.
Os vídeos foram divulgados nas redes sociais na sexta-feira (14) e causaram indignação nas mulheres, que foram apoiadas por representantes de vários partidos, inclusive de centro e da direita.
Na noite da quinta-feita (20), as mulheres de Montenegro organizaram um protesto na Câmara Municipal e depois lotaram as galerias para acompanhar a votação do pedido de abertura do processo de cassação.
As mulheres seguravam cartazes de repúdio contra a vereadora. “Todo ato de ódio e preconceito aumenta a violência contra as mulheres, como os feminicídios”, afirmou a secretária-geral da CUT-RS, Vitalina Gonçalves, que participou da mobilização.
Espalhar preconceito não é brincadeira
A vereadora, que deu o único voto contrário, leu um pronunciamento na tribuna e se defendeu das acusações, dizendo ser vítima de perseguição em razão da defesa intransigente das pautas do governo Bolsonaro.
Nos vídeos, Camila aparece segurando uma bandeira do Brasil. Ao lado de duas jovens e dentro do gabinete, ela dubla o funk “O proibidão”, de MC Reaça, artista que morreu em 2019.
"As mina de direita são as top, mais bela. Enquanto as de esquerda tem mais pelo que cadela. Bolsonaro salta de paraquedas", diz a letra do funk. A vereadora disse que apenas participou do vídeo, que teria sido idealizado pelas adolescentes.
"Minha participação no vídeo elaborado pelas duas adolescentes que são eleitoras e, portanto, possuem discernimento suficiente para definir politicamente suas convicções. Se traduz, a meu ver, em uma brincadeira, visto tratar de uma música paródia existente desde 2018", falou Camila.
As mulheres acompanharam de costas o discurso da vereadora, manifestando a sua contrariedade com as explicações fajutas apresentadas.
“Espalhar preconceitos contra as mulheres não é brincadeira, mas atenta contra a nossa dignidade. E mexeu com uma, mexeu com todas”, comentou a dirigente da CUT-RS.
Para a professora Márcia Martiny Roehe, a vereadora “não reconhece seu desrespeito e desatino. Pensa e diz que não fez nada. Que não ofendeu ninguém. A plenária que a ouvia ficou de costas. Não se aceita mais falas de ódio, de discriminação, contra qualquer grupo”.
Processo de cassação
O PDT é o autor do pedido de cassação, que tem prazo de 90 dias para ser analisado. Uma comissão processante foi formada, através de um sorteio, e terá como presidente o vereador Felipe Kinn (MDB). O relator será o vereador Valdeci Alves de Castro (Republicanos) e o outro integrante será o vereador Ari Müller (PP).
O presidente da Câmara, vereador Talis Ferreira (PP), garantiu que Camila terá ampla defesa durante o andamento do processo.
Também terá prosseguimento a denúncia protocolada no Conselho de Ética da Câmara contra a parlamentar. “Os dois processos vão andar na casa, cada um respeitando os seus trâmites legais”, explicou Talis.
Confira no site da CUT-RS fotos e vídeos do ato, sobre o caso e a votação.