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Vereadora de Sinop (MT) é ameaçada de morte por bolsonaristas

Crítica a Bolsonaro em outdoors na cidade ganhou adesão e provocou a ira de apoiadores do presidente, que passaram a ameaçar de morte Graciele dos Santos, uma das organizadoras do protesto

Publicado: 01 Junho, 2021 - 16h20

Escrito por: Andre Accarini

Câmara Municipal de Sinop
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Professora, mulher, vereadora, petista, uma lutadora das causas populares e da educação pública e de qualidade. Graciele Marques dos Santos, de Sinop, no interior do Mato Grosso, reúne as características que os apoiadores de Jair Bolsonaro (ex-PSL), um presidente antipovo e exterminador da educação, escolhem para destilar ódio e intolerância, perseguir, ameaçar.

No caso de Graciele, onde são evidentes os traços de machismo, tem desde ameaças de morte a xingamentos nas redes sociais e grupos de WhatsApp. Tudo começou quando ela liderou um movimento de protesto contra Bolsonaro, por meio de outdoors espalhados pela cidade, com frazes se referindo às ações e omissões do presidente no combate à pandemia do novo coronavírus, que já matou mais de 462 mil pessoas no país.

Assessoria/Ver. Graciele Marques dos SantosAssessoria/Ver. Graciele Marques dos Santos

 

“Esse tipo de gente, só matando”, ”vagabunda”, “defende bandido”, “associada ao diabo”, “contra as famílias” são apenas algumas das agressões sofridas por Graciele. A situação, por mais previsível que seja por parte dos bolsonaristas, assusta e ninguém sabe realmente do que eles são capazes. 

“Tenho sentido medo. Oscilo entre acreditar que pode acontecer o pior e entre pensar que são somente ameaças e que eles vão recuar”, diz a vereadora.

Até mesmo o filho de Graciele, “quase um homem de 20 anos”, como ela diz, ficou abalado com a situação. “Ele teve crises emocionais temendo que acontecesse comigo o mesmo que com a Mariele Franco”, relata, se referindo ao assassinato da vereadora carioca do Psol, que há mais de três anos ainda não foi elucidado.

E Graciele diz que esta é a pior parte. “Quando chega na família, o coração dói ainda mais”. A vereadora hoje mudou sua rotina. Ela não conta com a segurança nem do estado nem do município porque, segundo ela, a cidade não tem estrutura para isso, mas não anda mais sozinha e tem certos cuidados por onde passa e quando chega em casa.

Outra providência foi pedir à Câmara Municipal que adotasse um protocolo de revista na entrada dos visitantes, durante a sessão da última segunda-feira (31), temendo que os protestos do último sábado (29), que desgastaram ainda mais a imagem do líder-ídolo dos conservadores, insuflassem os ânimos tornando os apoiadores ainda mais violentos.

A vereadora conta ainda que já registrou o boletim e ocorrência na Delegacia de Polícia de Sinop, denunciando alguns dos agressores, identificados por meio de ‘prints’ (capturas de telas de celular) com as mensagens.  “Agora, o próximo passo é entrar com uma representação no Ministério Público para que o caso seja investigado e os agressores sejam punidos. E faremos isso”, diz a Professora Graciele.

Assessoria/Ver. Graciele Marques dos SantosAssessoria/Ver. Graciele Marques dos Santos

Quem são

De acordo coma vereadora, alguns nomes foram levantados já que as ameaças foram feitas via redes sociais e em grupos de WhatsApp, o que tornou possível identificar os agressores.

“Tivemos de relatos de que são pessoas ligadas a organizações como o sindicato patronais, também ao Movimento Conservador de Cristãos. Temos prints, mas temos que averiguar”.

Dominada pelo agronegócio e de perfil político predominantemente conservador, a cidade de Sinop tem a Professora Graciele como única mulher na Câmara e única representante de esquerda também.

Essa característica, segundo a vereadora, contribui para que grande parte da população tenha medo de se expressar, de mostrar seu descontentamento com os rumos que o Brasil tomou nos últimos tempos com Bolsonaro no poder.

Ela diz ainda que, a partir da campanha de outdoors criticando Bolsonaro, muitos cidadãos acabaram se sentindo amparados e representados, fato que incomodou ainda mais os apoiadores de Bolsonaro.

“Ficaram com raiva porque perceberam que a repercussão foi expressiva, tiraram fotos, divulgaram nas redes sociais. São pessoas que não tinham coragem de se expressar e sentiram que não estavam sozinhas e, então, começaram a divulgar os outdoors. Isso despertou a ira deles”, diz Graciele.

Ainda de acordo com ela, o Sindicato Rural de Sinop, que representa produtores rurais, chegou a circular uma carta de repúdio (não assinada) que ameaçava ao dono da empresa de outdoors.

Sentido-se pressionada pela elite do agronegócio da cidade, a empresa retirou as placas e devolveu o dinheiro aos movimentos organizadores do protesto.

Assessoria/Ver. Graciele Marques dos SantosAssessoria/Ver. Graciele Marques dos Santos

No fim das contas

Apesar do medo, a vereadora relata que situações desta natureza, reforçam o desejo de lutar. Sinop nunca teve um vereador de esquerda e, de acordo com Graciele, seu mandato conta com apoio diversificado, formado por pessoas que enxergam sem mandato como “algo que abre as portas para outras candidaturas desta natureza, no futuro”.

Dá esse medo, mas ao mesmo tempo, o fato de saber que eles estão se incomodando conosco é porque a gente está produzindo algum efeito. Então, dá também uma esperança que Sinop pode ser diferente do que é, com mais espaço democrático
- Professora Graciele


O recado a ser dado aos agressores, de acordo coma vereadora, é que todo cidadão deve respeitar a opinião contrária, entender que não são donos da cidade para “mandar dessa forma” e que é necessário ter limites baseados na civilidade.

“Espero que a Justiça trabalhe de fato em favor do lado correto – das pessoas que são agredidas e que isso acaba, senão até 2022 teremos muita tragédia”, diz vereadora, que finaliza dizendo que a militância deve, mais do que nunca, se unir para derrubar o governo Bolsonaro, “que ninguém aguenta mais”.

Para isso, a vereadora relata inclusive manifestações de apoio e solidariedade de muitos munícipes sobre o caso. “Aumentou, inclusive, meu número de seguidores”.

Outros casos

Sem limites, apoiadores do presidente Bolsonaro costumam se esconder nas redes sociais para praticar o ódio disseminado por seu líder (e os filhos dele também).

Mas por vezes, a violência extrapola o mundo virtual.

Todas as 28 vereadoras trans eleitas em 2020 já sofreram algum tipo de violência no exercício do mandato. Preconceito, homofobia e até ameaças de morte. Benny Briolly, do Psol de Niterói deixou país temendo ameaças.

O prefeito da cidade de Araraquara, Edinho Silva, também já foi ameaçado de morte pelas redes sociais após estabelecer um lockdown na cidade para conter o avanço da pandemia e proteger as vidas dos araraquarenses.

No Recife, durante as manifestações do último sábado, a vereadora Liana Cerni foi agredida pela polícia com spay de pimenta ao questionar a repressão ao direito de manifestação.

A PM de Goiás prendeu um dirigente estadual do Partido dos Trabalhadores (PT) no estado, por causa de uma faixa exibida no seu carro com os dizeres “Bolsonaro Genocida”.

 

  • Edição: Marize Muniz