Escrito por: Carolina Servio

Veto ao marco temporal representa ataque aos indígenas e à floresta

Secretário de Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio, diz que Congresso Nacional vai na contramão do mundo; Ministério dos Povos indígenas entrará com pedido de Ação Direta de Inconstitucionalidade na AGU

Lula Marques/ Agência Brasil
Ministra dos Povos Indígenas pretende pedir novamente a inconstitucionalidade do marco temporal

Após a derrubada do veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo Congresso Nacional na última quinta-feira (14), agora o marco temporal passa a ser uma lei. 

O veto foi derrubado após intensa articulação da bancada ruralista. A tese do marco temporal determina que devem ser demarcados aqueles territórios considerando a ocupação indígena em 1988, na data da promulgação da Constituição.

Indígenas, ONGs e ativistas não defendem essa tese. Eles apontam a inconstitucionalidade do dispositivo e argumentam que o direito às terras é anterior à criação do Estado brasileiro e, portanto, não pode estar restrito a um corte temporal e, sim, deve ser determinado por meio de estudos antropológicos.

Para o secretário de Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio, o marco temporal representa um ataque explícito ao direito dos povos indígenas sob seus territórios. “Num momento de crise climática e aquecimento global, os povos indígenas são nossos aliados na busca de soluções”, afirma, e critica ainda a postura contrária da Câmara dos Deputados e do Senado à preservação das florestas brasileiras. 

A questão já havia sido debatida na Suprema Corte. Em setembro, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu, por 9 votos a 21, contra o marco temporal. Como reação, o Congresso aprovou o projeto que criou oficialmente o marco com força de lei. 

O projeto agora está nas mãos do presidente Lula para promulgação. Se isso não acontecer, o presidente do Senado Rodrigo Pacheco poderá fazer. No entanto, a tendência é que o caso volte para a justiça. 

A ministra dos Povos Originários, Sônia Guajajara, disse em suas redes sociais que “é um absurdo que enquanto mundo já reconhece os povos indígenas e seus territórios, como uma das últimas alternativas para conter a crise climática, o Congresso Nacional aqui age totalmente na contramão daquilo que precisa ser feito para conter essa crise global.”

Sônia disse ainda que o ministério irá acionar a Advocacia Geral da União (AGU) para entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no STF reafirmando a posição de inconstitucionalidade. “Nós seguimos firmes acreditando na Justiça brasileira, e com a força dos nossos ancestrais, não abriremos mão de nossos direitos.”,  disse a ministra. 

O jornal Folha de S. Paulo fez uma lista mostrando como fica o marco temporal a partir de agora. Veja. 

VETOS DERRUBADOS, QUE PASSAM A SER LEI

JÁ HAVIA SIDO SANCIONADO

VETOS MANTIDOS