Escrito por: Leonardo Wexell Severo

Vídeo mostra como foi construído o golpe no Paraguai

CUT disponibiliza “Desconstruindo Curuguaty” em português

Serpaj-PY
Documentário desmonta a versão oficial da grande mídia sobre os assassinatos em Curuguaty

Produzido pelo Serviço de Justiça e Paz do Paraguai (Serpaj), “Desconstruindo Curuguaty” é um documentário que traz vários elementos imprescindíveis para compreender o grau de manipulação a que a opinião pública é submetida pelos grandes conglomerados de comunicação.

Como comprova o vídeo, a confrontação foi pré-fabricada para justificar a deposição do presidente Fernando Lugo e redundou na morte de 17 pessoas, seis policiais e 11 camponeses. Para o governo paraguaio, os latifundiários e sua mídia, que utilizaram o confronto ocorrido no dia 15 de junho de 2012 para justificar o impeachment de Lugo, a meta é penalizar os trabalhadores sem-terra com até 30 anos de prisão. O julgamento foi reiniciado nesta semana, com grande pressão pela condenação dos inocentes.

Os fatos falam por si:

1. As terras fazem parte da empresa Finca 30, da Industrial Paraguaya SA, que em agosto de 2007 doou dois mil hectares para a Armada Paraguaia. O fato é que até o momento da agressão policial as terras não pertenciam à empresa Campos Morumbi – como alegado - nem poderia ter sido emitido documento para o violento despejo. O primeiro vício do processo é que o juiz José Benitez, de Curuguaty, havia aprovado uma investigação do local, não a retirada das famílias. O juiz determinou uma medida e a polícia executou outra. Do ponto de vista militar, declarou José Almada, soldado da GEO, “era bastante precisa a ordem: ir da mesma forma que para um combate”.

2. A versão de que os camponeses teriam preparado uma “emboscada”, divulgada pelo promotor Jalil Rachid - vinculado à família que se diz “proprietária” das terras - é inteiramente fantasiosa. Para o advogado Vicente Morales, “35 camponeses com seus filhos e mulheres emboscarem 324 policiais com helicópteros, metralhadoras, coletes, capacetes, escudos e granadas me parece absurdo”. Ainda que seja, esta é a versão que a “justiça” acolheu.

3. Um helicóptero sobrevoou desde cedo o acampamento filmando e tirando fotos. Conforme gravação do comissário Roque Fleitas, chefe da Agrupação Aeroespacial, a aeronave estava equipada com sofisticada tecnologia e gravava todos os detalhes da operação. Ao mesmo tempo em que filmava, o helicóptero transmitia automaticamente para uma base de dados da polícia. A filmagem nunca apareceu. Semanas depois, o fiscal Rachid disse que o equipamento não estava funcionando. Recentemente, dias antes de depor, o piloto morreu em um “acidente” de aviação.

4. Armados em situação de ataque, inclusive com fuzis automáticos, a polícia invade o assentamento em duas colunas. Os camponeses ficam cercados. Se ouvem inicialmente tiros isolados e, logo depois, nove segundos de disparos de armas semi-automáticas que, conforme admitiu o próprio promotor, não foram encontradas com os camponeses.

5. Entre as “escandalosas irregularidades” apontadas pelos advogados estão as escopetas velhas e até uma arma de ar comprimido dos camponeses que não foram utilizadas, além de foices e facões. Entre o pacote de falsificações está o fato de que muitos objetos mudaram de lugar entre uma foto e outra, sempre para incriminar os sem-terra, vários deles já mortos. No dia 25 de junho se incorporou como “evidência” uma escopeta calibre 12 achada próxima a Curuguaty e que, segundo o próprio dono, havia sido roubada no dia 22 de junho. Ou seja, uma arma pretensamente usada pelos camponeses jamais esteve com eles.

6. O promotor notifica a defesa no dia 16 de outubro de 2012 para que participe de uma “perícia fundamental” para o processo. Detalhe: dita “perícia” havia ocorrido quatro dias antes, no dia 12 de outubro. Portanto, sem que os advogados pudessem sequer ter acesso.

7. “Não há conexão entre as supostas armas que dispararam com as balas que encontraram dentro dos corpos. Este nexo causal não existe”, enfatiza o advogado Vicente Morales. “O fiscal monta um cenário e sustenta uma tese onde a polícia é simplesmente vítima de um ataque”, concluiu.

Da finalização do vídeo até o presente momento foram encontradas novas evidências que apontam para a completa manipulação do processo. Ver o vídeo e compartilhá-lo nas redes sociais é fundamental para fazer com que a verdade triunfe e os camponeses ganhem a liberdade.