Escrito por: Redação CUT
Entidades de movimentos sociais e sindicais protestaram na noite de quinta-feira (3) em frente à sede da Secretaria de Segurança Pública de SP, na capital, contra a chacina da PM que matou 16 pessoas no Guarujá
A violenta reação da Polícia Militar de São Paulo ao assassinato do policial das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Patrick Bastos Reis, atingido por um tiro no peito, no dia 27 de julho, na Vila Zilda, bairro pobre de Guarujá, litoral de São Paulo, foi alvo de protestos de diversos movimentos sociais, em frente à sede da Secretaria de Segurança Pública do estado, no centro da capital, na noite de quinta-feira (3).
Os manifestantes oriundos do movimento negro, do Sindicato dos Bancários de São Paulo e do PT do estado querem o fim da operação policial; o fim de intervenções policias por vingança e acertos de conta e pediram “Fora Tarcísio, Genocida”. Nos cartazes a PM é acusada de promover uma chacina e não simplesmente uma operação, que teve início na mesma noite da morte de Patrick pela polícia de Guarujá.
“A gente é muito solidário aos familiares da vítima do policial que foi executado no dia 27, mas a gente acha desproporcional que os territórios periféricos convivam com esse medo diante dessa operação que já vitimou mais de dez pessoas. Então essa manifestação é pra que acabe essa operação, que o Ministério Público possa investigar essa operação”, resumiu a coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado (MNU), Simone Nascimento, ao Brasil de Fato.
Para Regina Lúcia dos Santos, coordenadora estadual do MNU, a polícia de São Paulo está “importando o modelo de milícia”. “Com o escuso nome de 'Operação Escudo', na verdade, o que está acontecendo lá são execuções sumárias. O estado brasileiro não pode ter esse direito sobre a vida dos seres humanos”, protestou.
O caso
A Operação Escudo que deve ir até o dia 28 deste mês, tem o apoio de mais 600 policiais do estado enviados pelo governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos). O resultado, ao longo de uma semana, foi o de 16 mortos, 84 presos e denúncias de tortura e execuções feitas pela PM.
Segundo os parentes dos mortos na operação, pessoas inocentes foram retiradas de suas casas e executados, sem que houvesse troca de tiros como alega o governo do estado ao justificar o massacre. Os moradores de denunciaram ainda que os policiais prometeram matar ao menos 60 pessoas em comunidades.
O suspeito do crime Erickson David da Silva, o Deivinho, se entregou no domingo (30) à corregedoria da Polícia Militar de São Paulo, mas alegou inocência. Em vídeo ele pediu para que a PM parasse de matar nas comunidades. Outros dois suspeitos de participar do assassinato do policial foram presos.
Reações
A alta letalidade da operação, a terceira maior do estado, perdendo apenas o massacre do Carandiru com 111 mortos, em 1992 e a de 2006 com a morte de 108 pessoas quando ocorreram os ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC), fez a Defensoria Pública de São Paulo pedir ao governador de São Paulo o fim da operação, o uso de câmeras corporais nos uniformes de todos os policiais militares e civis envolvidos na operação, para que as abordagens sejam registradas e o afastamento de agentes envolvidos nas mortes.
A diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck lamentou "a pressa do governador de São Paulo em responder se houve excesso ou não. Tarcísio de Freitas, quatro dias depois do início da operação, defendeu a ação policial. Werneck, no entanto, ressaltou que quem deve responder se houve excessos são "a Corregedoria, a Ouvidoria das Polícias e o Ministério Público de São Paulo, que é quem tem obrigação de fazer o controle externo da atividade policial", disse ao Brasil de Fato.
O ministro da Justiça, Flávio Dino lamentou a morte de Patrick, mas que a reação da polícia foi desproporcional e que o governo federal só se manifestará após o resultado da apuração dos fatos.
O ministro dos Direitos Humanos, Silvio de Almeida disse, no dia 31 de julho, que acionou Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos para acompanhar mortes em operação da PM.
“Foi cometido um crime bárbaro contra um trabalhador que precisa ser apurado, mas nós não podemos usar isso como uma forma de agredir e violar os direitos humanos de outras pessoas", afirmou.