Violência e compra de armas sob Bolsonaro deixam a população com medo de ir às ruas
Pesquisa do IBGE mostra que população está com medo de sair às ruas por causa da violência. Número de atiradores pedindo registro de armas chega a 2 mil por dia
Publicado: 09 Dezembro, 2022 - 08h30 | Última modificação: 09 Dezembro, 2022 - 08h38
Escrito por: Redação CUT | Editado por: Rosely Rocha
Uma das promessas de Jair Bolsonaro (PL), na campanha eleitoral de 2018, quando venceu o professor e economista Fernando Haddad (PT), na disputa da Presidência da República, foi diminuir a violência nas ruas do país.
Bolsonaro, armamentista convicto, sempre disse que o povo armado poderia se defender de assaltantes e outros criminosos, uma teoria que nunca foi comprovada. Ao contrário, quem está nas ruas armado tem tendência maior a usar o revólver, seja para se defender, nem sempre com sucesso, seja para agredir num momento de cólera em acidentes de trânsito, por exemplo, dizem especialistas em segurança pública.
A política armamentista de Bolsonaro tem deixado um rastro de violência e ódio no campo e na cidade de tal forma que a população brasileira está com medo sair às ruas, principalmente a noite. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, divulgada na quarta-feira (7), pela primeira vez mapeou o retrato da violência e de crimes contra o patrimônio no Brasil, incluindo os que não são comunicados à polícia e o que sentem os brasileiros em relação à segurança pública.
Mais da metade dos brasileiros (51,7%) não se sentem seguros ao andarem sozinhos durante a noite. Durante o dia, o percentual de pessoas que se sentiam seguras ao andar sozinhas era maior: 79,7%. No total, somando os dois períodos do dia, os que se sentem seguros eram 71,2%. Confira abaixo outros dados da pesquisa do IBGE.
Registro de armas chega a 2 mil por dia
A sensação de insegurança pode sofrer influência com o número de armas que está sendo comercializada no país. Desde 2019, dez decretos e 14 portarias foram publicados pelo governo Bolsonaro, dando novos regramentos à aquisição de armas e munições para os CACs (categoria que reúne caçadores, atiradores e colecionadores).
“A política armamentista favorece organizações criminosas e milicianas que encontram no mercado doméstico mais alcance a esses equipamentos”, disseram em artigo, integrantes do Instituto Sou da Paz.
O consultor legislativo do Senado na área de direito penal vai mais além e disse à Agência Senado, que " os estudos científicos mostram que a maior disponibilidade de armas de fogo no mercado leva ao aumento das mortes violentas. Os suicídios crescem, a violência doméstica dispara, há acidentes em casa envolvendo crianças, a briga de bar ou de trânsito termina em fatalidade, a arma do cidadão muitas vezes vai parar na mão do crime organizado".
Dados do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma) fornecidos por meio da Lei de Acesso à Informação, fornecidos ao colunista Carlos Madeiro do UOL, mostram que nesse último período foram pelo menos 184 mil registros. Isso significa uma média mensal de 61,4 mil novas armas. Mais que o dobro da média mensal até agosto, que era de 26 mil. Com escalada nos registros, o total de armas registradas chegou a 391,3 mil de janeiro até novembro.
Mais de 2 mil armas foram registradas por CACs por dia, em média, entre setembro e novembro deste ano. O índice mais que dobrou na comparação com o período de janeiro a agosto, quando a média não chegava a 870 registros diários. Este aumento, provavelmente está ligado ao final do governo Bolsonaro, já que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), deve revogar a atual lei que flexibilizou o uso de armas por civis.
Insegurança pública
Os dados do IBGE mostram que no ano passado, 1,5 milhão de domicílios no país tiveram pelo menos um morador vítima de roubo nos 12 meses anteriores;
-1,7 milhão de residências foram alvo direto de furto, e 195 mil de roubo, minando a percepção de segurança dos brasileiros;
- 1,8 milhão de pessoas de 15 anos ou mais foram vítimas de roubo, o que corresponde a 1,1% da população. A maioria dos assaltos ocorreu em áreas urbanas (94% do total) e a maior parte das vítimas tinha entre 25 e 39 anos, faixa etária que costuma se expor mais;
- Por raça dos entrevistados: brancos se sentiam mais seguros (73,8%) que pretos e pardos (69,3%). A única região em que esse padrão não ocorre é no Nordeste, onde 65,7% dos brancos se sentiam seguros, ante 67,9% dos pretos e pardos;
- Por gênero, os homens se sentiam mais seguros que as mulheres nos três locais analisados: na cidade, por exemplo, o percentual de homens com sensação de segurança era de 58%, ante 51,6% das mulheres.
- A sensação de segurança é maior nos domicílios (89,5%); nos bairros (72,1%) e na cidade cai para 54,6%. Os percentuais variam nas regiões, entre homens e mulheres e em zonas rurais e urbanas;
- Por localidades, os moradores de zonas rurais (66,5%) se sentem mais seguros que os das zonas urbanas (52,8%);
- Por região: o Norte é onde os brasileiros se sentiam mais inseguros: 75,8% e a noite 48,3%. A região Sul, por sua vez, é onde os moradores se sentiam mais seguros: 88% pela manhã e 61,9% à noite.
- As vítimas de furto ou roubo são as mais inseguras (37,6%), e as não vítimas se sentiam mais seguras: 71,6%.