Violência, educação, emprego: jovens discutem seus problemas
Em evento dos jovens da CUT, o ex-prefeito Fernando Haddad diz que "dá-se pouca atenção aos jovens não escolarizados".
Publicado: 30 Novembro, 2017 - 14h30 | Última modificação: 24 Fevereiro, 2018 - 11h14
Escrito por: Redação RBA
Com um ato na manhã desta quinta-feira (30), na Praça da Sé, região central de São Paulo, termina o OcupaCUT, que durante três dias reuniu jovens de todas as regiões para discutir seus problemas e apontar propostas para a central e à sociedade, que serão reunidas em carta-compromisso. No penúltimo dia, eles se reuniram em rodas, na sede da central, no Brás, também no centro paulistano, para conversar sobre assuntos como comunicação, acesso a educação e cultura, violência, diversidade, direitos e mercado de trabalho. E lembram que já os jovens, que já sofrem mais com a falta de emprego, deverão ser os mais atingidos pelas recentes mudanças na legislação trabalhista.
Uma das conversas na tarde desta quarta (29), sobre os desafios enfrentados pela juventude rural e urbana, teve a presença do ex-prefeito paulistano e ex-ministro da Educação Fernando Haddad e da professora e socióloga Elisa Guaraná de Castro, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). "O nosso desafio ainda é o que a gente entende de um projeto para o país", comentou a professora ao final da reunião.
Segundo ela, o momento é difícil, mas houve avanços no período recente, com acesso dos jovens a políticas públicas. Elisa avalia que foi mal sucedida a tentativa de conciliar dois projetos tão diferentes como a agricultura familiar e o agronegócio. A situação piorou após o golpe, com extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário, redução de orçamento, diminuição do combate ao trabalho escravo e possibilidade de acesso a terras por estrangeiros.
Sobre a questão urbana, Haddad, que mais tarde iria participar, tocando guitarra, de um show com a cantora Ana Cañas e outros artistas, disse que "o êxito de uma cidade depende muito da sua capacidade de atrair ou de reter (pessoas)". Ele avaliou que a elevada concentração populacional em poucas áreas afeta a administração. "Não é funcional você ter 40% da população morando em metrópole", afirmou.
Para ele, a grande questão da juventude, hoje, é a violência. Haddad comentou que o poder público olha muito para a juventude universitária e pouco para os não universitários e não escolarizados em geral. O problema se concentra, acrescentou, no "jovem metropolitano, que não atingiu determinado nível de ensino e está à mercê de uma sociedade extremamente violenta, muitas vezes por parte do Estado".
Uma das presentes comentou: "A questão é que a gente está perdendo mais jovem do que país em guerra". Ela acredita que os sindicatos devem ir muito além da pauta corporativa e discutir questões dessa natureza. Um jovem de Colombo, na região metropolitana de Curitiba, atestou: "Vários amigos meus de infância estão mortos. Mortos ou presos".
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Uma das rodas de conversa na CUT teve o ex-prefeito Fernando Haddad e a professora Elisa Guaraná de Castro(Roberto Parizotti/CUT)