Escrito por: CUT - RS
A defesa incondicional de Trump por Bolsonaro retira credibilidade do Brasil no mundo, observou o diplomata
As recentes vitórias populares nas eleições da Argentina e da Bolívia e a aprovação da constituinte em plebiscito no Chile, somadas à provável derrota de Trump no pleito dos Estados Unidos, mostram uma virada política no continente e podem impactar as eleições municipais de novembro e isolar o projeto genocida, autoritário e entreguista de Bolsonaro.
A avaliação foi feita pelo ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e pela professora de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestre em Relações Internacionais, Gisele Ricobom, durante a live sobre as eleições no Brasil e no mundo, realizada pela CUT-RS, no início da noite desta quarta-feira (28).
A mediação ficou por conta do presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci. A live foi transmitida nas páginas da CUT-RS e CUT Brasil no Facebook, com publicação cruzada em diversos sindicatos e parcerias.
Defesa incondicional de Trump retira credibilidade do Brasil
Para o ex-chanceler, a eleição norte-americana pode ser a mais importante no país nos últimos 100 anos. “É um momento positivo e que terá grande influência no Brasil. O governo terá que se adaptar a uma realidade muito diferente. Bolsonaro estava acostumado a estimular queimadas na Amazônia e se recusar a prestar esclarecimento em comissões internacionais de Direitos Humanos. Com a possível vitória de Joe Biden, não será assim.”
“Em um governo democrata, a atual postura de Bolsonaro não será bem vista e obrigará o presidente brasileiro a moderar suas atitudes e discursos. Mesmo o servilismo de Bolsonaro à Washington não terá a mesma acolhida por Biden”, disse Amorim.
A defesa incondicional de Trump por Bolsonaro retira credibilidade do Brasil no mundo, observou o diplomata. Somado a isso, está a influência do plebiscito chileno que optou pela realização de uma nova constituição para o país, após 39 anos de vigência da carta magna neoliberal do ditador Augusto Pinochet.
“O Chile possui uma influência desproporcional ao seu tamanho no continente latino-americano. Mais de um milhão de pessoas tomaram as ruas no ano passado. Isso não é pouca coisa, mas o processo não será fácil. Os dispositivos constitucionais terão de ser aprovados por mais de dois terços do parlamento. Caso isso não ocorra, não é certo o que poderá acontecer”, explicou Amorim.
Legado colonialista na América Latina ainda é muito forte
Gisele analisou que os ventos que sopram do Chile, Bolívia e Argentina são favoráveis, mas o legado colonialista na América Latina ainda é muito forte. Por isso, elites econômicas internacionais interviram em processos eleitorais e estimularam golpes e até conflitos armados, como os ocorridos na Bolívia e na Venezuela.
“Os países latino-americanos nunca foram realmente independentes porque a influência imperialista dos colonizadores foi substituída pelo poder de homens brancos cristãos que impuseram regimes capitalistas desiguais para as maiorias, que sempre foram subjugadas, como negros, índios e mulheres”, salientou a professora.
Ela destacou que dois eventos ocorreram nos últimos anos no continente e que alteraram essa matriz de poder: as constituições do Equador, em 2008, e da Bolívia, em 2009. “Pela primeira vez na história, os indígenas foram protagonistas do processo constitucional. Isso foi um movimento de descolonização do Direito. Essas mudanças profundas nunca foram bem aceitas pela elite branca, que perdeu o seu lugar de privilégio. A onda conservadora da extrema-direita latino-americana foi uma resposta a isso”, frisou.
Segundo Gisele, “por esses e outros motivos, as vitórias recentes no Chile, Argentina e Bolívia têm um valor ainda maior porque enquadram uma elite desonesta, que incentiva a destruição do meio ambiente, fala em defesa da soberania, mas vende o patrimônio nacional. A vitória do socialista Luís Arce, na Bolívia, representa bem isso”.
Esperança para as eleições no Brasil
Para o presidente da CUT-RS, esses resultados trazem ainda mais esperança para o processo eleitoral no Brasil. “As eleições norte-americanas já estão batendo recordes de votantes em um país onde o voto é facultativo. Na Bolívia, um golpe foi derrotado menos de um ano após sua instauração. No Uruguai, a direita ganhou as eleições presidenciais de 2018, mas a resposta vem logo em seguida com a vitória da Frente Ampla em Montevidéu. Isso pode muito bem acontecer por aqui nas eleições municipais. Os indícios de desgaste da extrema-direita estão aí”, enfatizou.
“Queremos retomar o Rio Grande do Sul e o Brasil para virar a página aberta com o golpe de 2016, que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, e com a prisão descabida do Lula para impedi-lo de vencer as eleições de 2018. Por isso, temos que seguir firmes na luta para acabar com o bolsonarismo e construir um país mais justo, solidário e menos desigual”, disse Amarildo.