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VW suspende produção mais uma vez por falta chips semicondutores

Abandono da política industrial nos governos Temer e Bolsonaro foi decisivo para dificuldades na indústria automotiva. Há falta de peças no mundo, mas Brasil poderia ter situação diferente, dirigente do SMABC

Publicado: 14 Fevereiro, 2023 - 16h37

Escrito por: Andre Accarini | Editado por: Marize Muniz

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A Volkswagen do Brasil suspendeu mais uma vez a produção em três de suas plantas no país por falta de chips semicondutores, essenciais para a tecnologia aplicada aos veículos.

A nova paralisação, de 22 de fevereiro a 3 de março, atingirá as unidades de São Bernardo do Campo (SP), São José dos Pinhais (PR) e São Carlos (SP).

E quanto mais tecnologia é usada na produção de veículos, maior é a necessidade dos chips, explica o coordenador da representação na Volks, o dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC) José Roberto Nogueira da Silva, o Bigodinho.

“De novo o problema se agrava pela falta dos semicondutores. A produção ainda não foi retomada por completo. Por isso, essas paradas que vêm agravando a produção nas plantas”, diz o dirigente.

Os efeitos da ‘parada’ são percebidos não somente no mercado e na economia, mas principalmente para os trabalhadores. Ainda que a suspensão tenha sido programada – de acordo com a montadora, essa estratégia estava prevista desde o ano passado – e os trabalhadores diretos da montadora estejam protegidos por acordo coletivo de trabalho, haverá um impacto na cadeia produtiva.

“Nossa categoria tem um acordo que prevê flexibilizações, como lay-off, banco de horas, férias coletivas, justamente para enfrentar essas crises, mas [a suspensão da produção] afeta a cadeia produtiva, para quem é mais fraco, que não está organizado por sindicatos”, diz Bigodinho se referindo a fornecedores de outros componentes e que fazem parte de outras categorias.

“Na cadeia produtiva, acaba gerando demissões”, ele reforça.

Na base dos metalúrgicos da VW de São Bernardo, são 3,2 mil trabalhadores envolvidos nessa suspensão. No entanto, de acordo com o dirigente, para cada emprego direto, outros 11 são gerados na cadeia produtiva.

“Esses fornecedores não têm as mesmas ferramentas de proteção ao emprego que nós temos. Somado a isso, eles sofrem também por causa da falta de políticas públicas de incentivo ao setor, além do retrocesso que tivemos nos governos passados que não discutiram o país para desenvolver a indústria”, afirma Bigodinho se referindo aos governos do ilegítimo Michel Temer (MDB) e de Jair Bolsonaro, que permitiram o sucateamento da indústria nacional.

O diretor do SMABC reforça que “enquanto não houver a retomada de produção dos semicondutores, o setor automotivo terá de conviver com essa situação”.

Ceitec

Nos tempos em que a indústria era uma das prioridades na política de desenvolvimento do país, a produção de semicondutores era parte importante dos planos de fortalecimento do setor industrial, por meio de investimentos, pesquisa e inovação.

A Ceitec, criada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2008, foi um marco no ingresso do Brasil na produção de semicondutores. Mas, como em outros diversos setores, houve um desmonte da estatal durante o governo Bolsonaro, e uma ameaça de extinção desta que poderia hoje ser uma empresa que, em muito, auxiliaria para suprir as necessidades do setor automotivo.

“Se a gente tivesse a Ceitec mantida ao longo dos anos com investimentos, com pesquisa e com inovação tecnológica, possivelmente estaríamos em uma outra realidade”, diz Bigodinho.

“Não seria a salvação, mas a dor seria menor”, ele diz.

Por isso, o dirigente ressalta a importância de o país retomar os debates sobre o desenvolvimento tecnológico e, principalmente, industrial para que o país entre em rota de pleno desenvolvimento.

“Qualquer nação desenvolvida, só se desenvolveu, de fato, pela indústria, com políticas voltadas ao setor”, ele afirma.

Bigodinho ainda reforça que o preço da falta de investimentos e políticas para o setor industrial, não somente o automotivo, mas também o aeroespacial, naval, eletroeletrônico, ao longo dos anos, “é um preço pago por toda a sociedade”.

Precisamos de uma indústria forte, desenvolvida, gerando empregos de qualidade em toda a sua cadeia produtiva para que não tenhamos mais o subemprego e pessoas na rua pedindo comida por passarem fome
- José Roberto Nogueira da Silva (Bigodinho)

O novo momento, de um governo que tem um olhar diferenciado para o setor, ele pontua, é o ideal para que pessoas qualificadas comecem a debater propostas para desenvolver a indústria.

“A gente precisa ter uma indústria forte e isso passa por empresas como a Ceitec”, finaliza o dirigente.

A boa notícia é que o presidente Lula já deu os primeiros passos no sentido de salvar a empresa. Um Grupo de Trabalho foi criado para reverter o fechamento da fábrica.

Leia mais: Lula cria GT para reverter fechamento da Ceitec, estatal fabricante de chips

O que são semicondutores?

Compostos por silício ou germânio, os semicondutores são materiais que conduzem correntes elétricas em um nível intermediário aos isolantes - que não conduzem bem a energia elétrica - e os condutores - que têm facilidade em conduzir energia. O grande diferencial é a capacidade de transmissão da corrente elétrica somente quando há estímulo.

Os semicondutores são matéria-prima usada na produção de chips usados na fabricação de uma variedade de dispositivos eletrônicos, como smartphones, notebooks, aparelhos de TV, videogames, calculadoras e assistentes virtuais, bem como carros.

Nos últimos anos, a utilização dos semicondutores em automóveis cresceu muito e em um único veículo podem ser usados até 1.100 destes componentes em toda a parte elétrica, como gerenciamento do motor, conectividade, direção autônoma e controle de emissão de poluentes.

Comunicado oficial da VW

A montadora informou por meio de nota, nesta terça-feira, a suspensão das atividades. Três das quatro plantas terão um período de paralisação. A única fábrica a manter as atividades é a de Taubaté, no Vale do Paraíba em São Paulo, onde era produzido o extinto Gol e, atualmente, tem como foco a produção do Polo Track

“A Volkswagen do Brasil concederá férias coletivas aos seus colaboradores da fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP), de 22 de fevereiro a 3 de março de 2023. Os dias de parada já estavam programados desde o ano passado e fazem parte da estratégia da montadora de flexibilização nos processos produtivos devido ao fornecimento de componentes”, diz o comunicado.

A montadora informou ainda os períodos de suspensão nas demais plantas:

  • Planta Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP): férias coletivas de 22 de fevereiro a 3 de março;
  • Planta de São José dos Pinhais (PR): de 22 de fevereiro a 3 de março;
  • Planta de São Carlos (SP): de 20 de fevereiro a 1° de março.