A ideologia bélica branca do racismo brasileiro
Publicado: 19 Março, 2008 - 00h00
No dia 21 de março de 1960, homens e mulheres que lutavam contra o regime do apartheid foram massacrados pela polÃÂcia da ÃÂfrica do Sul. Foram 69 pessoas assassinadas e 186 feridas. Este episódio sangrento ficou conhecido como o "Massacre de Shaperville". A ONU (Organização das Nações Unidas), em memória das vitimas instituiu o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial.
No Brasil, na década de 1960, BrasÃÂlia era inaugurada, a bossa nova era o ritmo musical predominante na época - praia, futebol, musas, influência do jazz -, tudo isso contribuÃÂa para despertar um sentimento de patriotismo.
Em 64 ocorre o golpe, resultando em prisões e mortes dos que se opunham ao regime militar. Nos porões da ditadura a tortura e a violência que proibia qualquer manifestação pública. Na mÃÂdia como, resposta às conseqüências da repressão, estourava o fenômeno cultural conhecido como "flower power".
O "black is beautiful" foi a criação midiática para atenuar toda a pressão racial originária dos mais de 300 anos de escravidão no Brasil. Algumas iniciativas anteriores, como por exemplo, a Frente Negra nos anos 30, demonstravam explicitamente a indignação de negros e negras em relação ao racismo brasileiro. Diferentemente da ÃÂfrica do Sul, aqui no Brasil predominava o mito da democracia racial, que incentivava inclusive a miscigenação das raças como forma de “superar os problemas causados pelas diferenças raciais”. Na ÃÂfrica do Sul, as armas eram visÃÂveis: tanques, bazucas, granadas etc. No Brasil, as armas sempre foram mais discretas, porém tão letais e belicosas quanto as usadas no continente africano: a discriminação, o preconceito e o racismo.
Na áfrica do Sul houve uma guinada de 180 graus rumo àigualdade racial comandada por Mandela e Desmond Tutu. No Brasil ocorreram muitos avanços, frutos da luta do movimento negro, alavancada principalmente pelo movimento iniciado em 78 nas escadarias do Teatro Municipal em São Paulo. Estes avanços só não são mais significativos pelo conservadorismo de setores da sociedade brasileira que resistem àimplementação de iniciativas como o Estatuto da igualdade Racial, Lei das Cotas e o ensino da Cultura Africana nas escolas do ensino médio. Portanto, a ideologia bélica branca do racismo brasileiro acaba sendo tão eficaz quanto o uso das armas por aqueles que não aceitam abrir mão de seus privilégios.
Marcos Benedito
Coordenador da Comissão Nacional Contra a Discriminação Racial (CNCDR/CUT)
Presidente do Instituto Sindical Interamericano Pela Igualdade Racial (INSPIR)