A paridade na CONTAG é mais uma conquista, mas não encerra a luta das mulheres rurais por igualdade
Publicado: 10 Março, 2017 - 00h00 | Última modificação: 10 Março, 2017 - 18h52
A implementação da paridade de gênero no 12º Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais da CONTAG (CNTTR), que começa nesta segunda (13) em Brasília, é uma conquista de muitas lutas das mulheres do campo, das florestas e das águas.
Pela primeira vez em mais de 53 anos de história a CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) terá em sua direção 50% de homens e 50% de mulheres. A paridade de gênero foi resultado de um processo histórico, ninguém ofereceu os espaços, nós lutamos por eles.
A paridade representa mais que do que metade de homens e mulheres na direção da Contag, a Paridade, representa o exercício da igualdade de direitos e oportunidades de vivenciar e fazer ação sindical.
Na década de 70 só os chefes de famílias participavam dos sindicatos. Com a chegada do feminismo no Brasil e a maior participação política das mulheres em organizações sociais perceberam o sindicato como instrumento de luta e conquistaram o direito de se sindicalizar nos anos 80.
O debate sobre a participação das mulheres no MSTTR ganhou peso no 4º Congresso, em 1985, no qual a participação feminina era em torno de 3%, neste ano as mulheres conseguiram a aprovação da tese que foi defendida na Comissão de Sindicalismo - “PROPOSTA PARA AUMENTAR A PARTICIPAÇÃO DE NÓS MULHERES, TRABALHADORAS RURAIS, NO NOSSO MOVIMENTO SINDICAL” que propunha o compromisso da Confederação em criar estratégias para ampliar e estimular a participação das mulheres em toda estrutura sindical.
O IV Congresso é um marco para as trabalhadoras rurais. Ele representou a esperança de que, uma vez aprovada a tese nacionalmente, haveria um processo de maior pressão nas federações para instituírem caminhos para a participação feminina.
Em 1989 as trabalhadoras rurais da CONTAG conquistaram a criação da Comissão Nacional Provisória da Trabalhadora Rural e em 1990 a organização das mulheres do campo, das florestas e das águas cresceu, ampliando para municipais e estaduais.No 7º Congresso em 1998 acrescenta um T em sua sigla CNTTR, aprova a política afirmativa de cota de no mínimo 30% de mulheres na executiva e tem a participação histórica de 42% de mulheres na delegação.
Em 2000 a Marcha das Margaridas contra a fome, a pobreza e a violência sexista, reuniu mais de 20 mil mulheres e foi o marco do crescimento do protagonismo político das mulheres. Sua dimensão política e simbólica deu visibilidade às trabalhadoras do campo, da floresta e das águas com toda a sua diversidade criando plataformas e pautas de reivindicação por mais políticas públicas para as mulheres rurais.
A conquista da aprovação da paridade que aconteceu no 11º Congresso, em 2013 foi fundamental para o fortalecimento da participação da mulher nas federações e sindicatos e nos trabalhos de base.
A paridade significa reconhecer a importância social, econômica e política das mulheres trabalhadoras rurais da base do movimento sindical, uma vez que as mulheres hoje somam mais de 51% da população brasileira, dado que se repete na participação produtiva das mulheres no meio rural.
Mas a luta das trabalhadoras rurais por igualdade não se encerra com a conquista da paridade, apenas dá mais força pra continuar lutando. A paridade não é número é uma política de superação da desigualdade entre homens e mulheres. As mulheres não podem estar só nas secretarias de mulheres, elas devem estar em todos os espaços de poder também.
Um mundo justo e igualitário não é aquilo que simplesmente divide ao meio, mas sim um mundo em que haja igualdade de oportunidades. A paridade é um passo importante para construir políticas que alterem as condições de participação política e sindical das mulheres e consolidar um sindicalismo com liberdade e autonomia.