“A ocupação é a escola dos sonhos”
De um lado, alunos cobram merenda e ocupam Alesp. Do outro, Alckmin segue perdido e tirano
Publicado: 04 Maio, 2016 - 12h55 | Última modificação: 05 Maio, 2016 - 12h09
Escrito por: Igor Carvalho
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São Paulo amanheceu com onze ETECs e duas escolas estaduais ocupadas. O movimento protagonizado pelos secundaristas do estado ganha corpo e avança. Nas escolas, alunos celebram o avanço das ações, pedem uma escola democrática e exigem merendas de qualidade nos refeitórios.
“A ocupação é a escola dos sonhos. Aqui, é como pensamos que deve ser uma escola, com envolvimento dos alunos na escolha do conteúdo, sem uma relação autoritária com os professores, em que somos apenas submissos. Aqui, não precisamos aprender apenas o que o Estado entende que é importante”, afirma Marcelo Preto, 18 anos, um dos estudantes que ocupam a o Centro Paula Souza e a ETEC Santa Ifigênia, ambas no mesmo prédio, na região central de São Paulo.
Camila, de 16 anos, que ocupa o mesmo espaço, celebra os avanços conquistados pelos secundaristas. “A ocupação começou na quinta-feira passada. Nessa semana agora, tivemos a notícia de que as outras ETECs já receberam merenda, não de qualidade, merenda seca, biscoitos e sucos, mas receberam, já é uma vitória. Porém, não paramos aí. Queremos comida mesmo, arroz, feijão e mistura.”
A exigência por merenda encontra amparo na realidade dos estudantes. “As ETECs possibilitam que muitos estudantes de periferia possam se profissionalizar. Esses jovens, dependem das refeições durante o dia para ficar bem e saudável, para ter condições de estudar com tranquilidade. Normalmente, não recebemos nada”, afirma Marcelo. Lembrando que as ETECs não possuem cozinhas, Camila avisa que os secundaristas já propuseram uma solução. “Pedimos que o governo de São Paulo nos forneça um vale-refeição até que as obras para fazer novas cozinhas estejam prontas.”
Perdido e autoritário
Na outra ponta do dilema envolvendo secundaristas e governo paulista, está Geraldo Alckmin, completamente perdido e, mais uma vez, só tendo uma resposta para qualquer problema no estado: o envio da Polícia Militar.
Na última segunda-feira (2), a PM passou o dia inteiro dentro do Centro Paula Souza. Em posição de ataque, a corporação intimidava os estudantes, que não esmoreceram. Porém, uma resolução judicial determinou reconheceu a legitimidade da ocupação e obrigou a polícia a se retirar do local.
Na noite de terça-feira (3), os secundaristas aplicaram um novo golpe na gestão de Alckmin. Diante da inércia dos parlamentares da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), que resistem em instaurar uma CPI para apurar os desvios de dinheiro na compra de merenda para as escolas estaduais, os estudantes ocuparam a casa legislativa do estado.
Durante toda a noite e madrugada, emoções distintas tomaram conta do plenário da Alesp. Passava das 22h quando a PM tentou, à força, retirar os estudantes do plenário. Foram contidos por parlamentares da oposição, entre eles o deputado João Paulo Rillo (PT), que chegou a empurrar um dos militares.
Desde o princípio da ocupação da Alesp, o presidente da Casa, o deputado Fernando Capez (PSDB), proibiu a entrada de água e comida no local. A ordem foi quebrada pelo padre Julio Lancellotti, que entrou no local com água, suco e pães para alimentar os estudantes. “Esse alimento foi feito pelos moradores de rua de São Paulo para vocês”, afirmou o religioso.
Já na manhã desta quarta-feira (4), Capez voltou a proibir a entrada de água e alimentos. Porém, dessa vez, o tucano foi além e vetou a entrada da imprensa e funcionários, decretando ponto facultativo na Casa. O presidente da Alesp deve encaminhar à Justiça um pedido de reintegração de posse do prédio.
Investimento precário dá razão aos estudantes
Nesta quarta-feira (4), o jornal Estado de S. Paulo, informou que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) deixou de investir, em 2015, R$ 44 milhões nas ETECs e Fatecs, em relação ao ano de 2014.
Os dados comprovam a tese defendida pelos estudantes, que criticam a precarização das ETECs e falta de qualquer tipo de merenda em pelo menos 23 unidades.
Ao todo, o Centro Paula Souza, agora ocupado pelos estudantes, administra 219 unidades ETECs e 66 Fatecs em todo o estado.