Agricultores familiares cobram condições para alimentar país
Fetraf faz jornada nacional em Brasília pela manutenção de recursos e políticas para jovens e muheres
Publicado: 15 Maio, 2015 - 18h04 | Última modificação: 15 Maio, 2015 - 18h07
Escrito por: Luiz Carvalho

Agricultores familiares de todo o país estarão em Brasília entre os dias 18 e 20 de maio para a 11ª Jornada de Lutas da Fetraf (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar).
A expectativa é que os cerca de 2.500 trabalhadores que irão à capital federal sejam recebidos pela presidenta Dilma Rousseff no último dia.
Com mais de 800 sindicatos filiados e organizados em 18 estados, a Fetraf entregará ao governo federal uma pauta de reivindicações baseada em quatro eixos: manutenção de recursos para políticas públicas voltadas à agricultura familiar, linhas de crédito específicas para jovens e mulheres, retomada dos programas de regularização fundiária e a proteção aos trabalhadores que atuam pela preservação dos recursos naturais.
Como outros setores da economia, os produtores também sofrem com o corte no orçamento do governo federal, especialmente aqueles que não têm o mesmo lobby do agronegócio e dependem de iniciativas como o Programa de Aquisição de Alimentos, explica o coordenador-geral da Fetraf, Marcos Rochinski.
“Temos uma discussão que não se restringe a alguns ministérios, mas a um projeto de desenvolvimento. O governo sinalizou com cortes de 45% a 50% para pastas importantes como o MDA (Ministério de Desenvolvimento Agrário) e diminuir investimentos em um setor como esse é cortar verba para alimentar o povo brasileiro. Se somos responsáveis por 70% do que os brasileiros comem, restringir esse recurso é cortar possibilidade desses alimentos serem produzidos”, explicou.
Jovens e mulheres
Rochinski destaca que, neste ano, a Fetraf apresentará ao governo a proposta também de ampliar linhas de crédito específicas para jovens e mulheres para financiar atividades autônomas nas propriedades, como pequenas agroindústrias.
O dirigente aponta que a ausência de uma estrutura capaz de atender as expectativas desses dois grupos faz que o êxodo rural sempre aumente. “Tem muitos jovens que deixam propriedade porque não conseguem trabalhar na mesma perspectiva do pai, não conseguem ter autonomia para administrar o trabalho como desejam. Da mesma forma a mulher, porque, apesar dos avançados que temos nos movimentos sociais, vivemos numa sociedade machista e patriarcal onde a mulher e o jovem ficam em segundo plano.”
Assentamento e água
O coordenador da Fetraf rebate ainda argumentos de setores do governo que defenderam nos últimos anos a necessidade de investir na estrutura das famílias assentadas nas terras em detrimento da concessão de terras a quem ainda não tem onde produzir. Segundo ele, cerca de 120 mil famílias aguardam assentamento.
O que não diminui, pondera, a necessidade de pensar em tecnologias, especialmente ligadas aos recursos hídricos.
“Precisamos estabelecer políticas, condições e capacitação para que os agricultores possam utilizar tecnologias simples que permitam o armazenamento e reuso da água, especialmente na região do semiárido. Sabemos que isso não permitirá grandes lavouras, produção de culturas extensivas como milho, soja e feijão, mas é essencial para o consumo e produção de hortaliças”, exemplificou.
Ele defendeu ainda a necessidade de um modelo de incentivo às famílias que atuam pela manutenção dos mananciais. A lógica é que abrem mão de produzir em determinada área para preservar e precisam ter uma compensação para que consigam sobreviver. Uma espécie de fundo com políticas de incentivo como subsídio de crédito como a ampliação do acesso à assistência técnica e compras institucionais de produtos da agricultura familiar.