Desemprego na RM de SP já pode ser comparado ao da era FHC
Os números revelam, ainda, que tempo por busca de emprego formal aumentou vertiginosamente no último ano
Publicado: 27 Julho, 2017 - 17h18 | Última modificação: 29 Julho, 2017 - 14h02
Escrito por: Luciana Waclawovsky
Em pouco mais de um ano a taxa de desemprego na Região Metropolitana de São Paulo alcançou os mesmos números recordes do início dos anos 2000. Em abril de 2002, a taxa de desemprego era de 20,6% contra os 18,6% apurados em abril de 2017.
Os números, revelados pela Pesquisa de Emprego e Desemprego do Dieese, também apontam que aumentou o tempo de procura por emprego. Na prática, hoje o trabalhador leva, em média, mais de quatro meses para conseguir um novo emprego com carteira assinada. Já quando se trata de emprego oculto pelo trabalho precário ou desalento – quando o trabalhador não procura mais emprego porque muitas vezes não tem mais dinheiro para sair em busca, o tempo ultrapassa 12 meses.
Taxa de desemprego oculto/Contribuição para desemprego total PED/DIEESE
Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, a tendência é o quadro piorar quando a Lei 13.467, de 2017 – que trata do maior desastre para a classe trabalhadora e que o Congresso Nacional chama de “Reforma Trabalhista”, entrar em vigor, a partir de novembro deste ano.
Vagner alerta que o fim da CLT prejudicará também quem já está com carteira assinada. Ele lembra que itens da nova lei como a negociação individual entre trabalhador e patrão, sem a intervenção do sindicato, em casos de demissão, férias e jornada, entre outros, valem para quem está no mercado formal de trabalho. “Se assinar o acordo de demissão, por exemplo, além da redução dos valores que tem a receber de FGTS, inclusive o da multa e aviso prévio, o trabalhador perderá o direito de receber Seguro-Desemprego”.
Quanto às novas modalidades de contratação, como o contrato intermitente que prevê que o trabalhador pode ficar à disposição da empresa e receber por hora trabalhada quando a empresa precisar, Freitas afirma que a reforma de Temer legaliza o bico, prejudica o mercado interno e as aposentadorias futuras. “Os trabalhadores ficarão sem comprovação de renda, sem saber sequer se terão algum rendimento naquele mês e não poderão fazer financiamentos para comprar casa, carro nem sequer uma geladeira. A institucionalização do bico tem potencial também para inviabilizar a Previdência como política pública, a partir do momento em que desregulamenta o mercado de trabalho e deixa o trabalhador sem sequer a certeza de receber um salário mínimo no fim do mês”.
Tempo de procura por emprego PED/DIEESE
Moradora da Zona Norte de São Paulo, Yasmin Sangermano se encaixa perfeitamente na estatística dos mais de 14 milhões de desempregados em busca de um emprego formal. O maior desejo dela hoje, é trabalhar em um escritório, nove horas por dia com direito a uma hora de almoço, férias remuneradas e 13º salário. Porém, a atual realidade da jovem de 23 anos é totalmente diferente. Sem tempo para quase nada, conforme relatou, Yasmin vive de bico: faz faxina duas vezes por semana e presta serviços de manicure e pedicure para um salão de beleza.
“Como faz para pagar uma faculdade disputando com pessoas que não precisam trabalhar o dia todo? A gente corre de um lado pra outro pra pegar ônibus e metrô e ainda tem que concorrer com quem tem um pai ou uma mãe que banca os estudos”, desabafa.
De acordo com o técnico do Dieese Alexandre Ferraz, o desemprego acelerou depois do processo de impeachment. Para ele, que é economista e doutor em ciência política, o país caminha para uma situação trágica como no final dos anos 1990 e início de dois mil. “De abril de 1999 a março de 2004 o Brasil amargou os piores índices de desemprego desde a redemocratização. Quem vai querer investir num país em que a presidenta foi destituída com duvidoso amparo legal e que é administrado por um governo provisório que ninguém sabe se chegará ao final do mandato?”, questionou.
Segundo Ferraz, grande parte do problema que enfrentamos vem da insegurança, “mesmo com a queda dos juros o investimento não tem se restaurado devido ao cenário de incertezas. Isso indica que ainda estamos longe de uma recuperação econômica consistente”, avaliou.
Neste sentido, com o objetivo de retomar o emprego decente e a economia brasileira, a Executiva da CUT Nacional decidiu, em reunião do último dia 25 de julho, intensificar a luta contra as Reformas Trabalhista, já aprovada e sancionada, e a da Previdência, que está em tramitação na Câmara dos Deputados. A Central irá construir uma greve geral para os próximos meses, além de iniciar uma campanha de revogação da nova lei trabalhista.
Para os dirigentes, a principal tarefa sindical do momento é combater a Reforma Trabalhista para evitar a precarização e o desmonte de direitos da classe trabalhadora que vem sendo negociados com o empresariado em troca de sustentação de um governo agonizante.
“A nova lei trabalhista acaba com a segurança jurídica para a classe trabalhadora. A CUT não aceitará essa nova regra, que só beneficia os patrões", concluiu o presidente da Central.