Diretor da CUT conquista anistia política
Julio Turra, preso pela ditadura e impedido de lecionar, teve seus direitos reconhecidos
Publicado: 13 Março, 2017 - 17h27 | Última modificação: 14 Março, 2017 - 10h39
Escrito por: Isaías Dalle
No último dia 8 de março, o professor Júlio Turra, atual dirigente executivo da Central Única dos Trabalhadores, classificado pelos arquivos da ditadura militar como “perigoso agitador”, entre outros adjetivos descritos em fichas amareladas preenchidas por policiais e agentes do regime de exceção inaugurado em 1964, foi reconhecido pelo Estado brasileiro como anistiado político.
“A pequena reparação”, como Julio define, é resultado da lei 10559/ 2002, que regulamentou princípio estipulado pela Constituição de 1988 que, como tantos outros constantes da chamada Carta Magna, não funcionaram até que as lutas populares os sacramentaram e lhe deram valor jurídico prático.
Júlio foi preso duas vezes, em 1974 e 1977, e depois disso nunca mais conseguiu desempenhar suas atividades profissionais. “Fiquei marcado e só conseguia dar aulas na mesma escola por no máximo três meses, por fazer parte de uma lista suja do regime”, conta ele.
Além disso, sempre havia algum bedel – como eram conhecidos os inspetores de alunos naquelas priscas eras – espionando o conteúdo das aulas que professores como Julio ministravam. “As minhas fichas nos arquivos do aparelho repressor também mostram que minha vida era monitorada em congressos e encontros políticos”, lembra Julio. O dossiê do dirigente cutista é composto por mais de 200 páginas.
Finalmente, no dia 8 de março, ele foi chamado a Brasília para receber sua anistia. Aproveitou seus dez minutos de fala para mandar uma mensagem: “Hoje é Dia Internacional de Luta da Mulher Trabalhadora, o que me deixa muito orgulhoso. Foi neste dia, há 100 anos, que uma greve de mulheres em Petrogrado funcionava como detonador de uma revolução contra uma autocracia, a chamada Revolução de Fevereiro (o calendário em vigor na Rússia era o Juliano), um regime ditatorial como o que combati e combato no Brasil de hoje”.
Desde que entrou com o pedido de anistia, por insistência de outro sindicalista perseguido, há sete anos, Julio enfrentou uma audiência adiada pelo ex-comunista e atual tucano Alberto Goldman. Mas, enfim, saiu a sentença favorável, que inclui uma reparação financeira pelos prejuízos profissionais sofridos por Julio.