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Enquanto o 4330 não for a nocaute, CUT baterá no projeto

Em todas as 27 capitais brasileiras houve atos e paralisações como um recado ao Congresso

Publicado: 15 Abril, 2015 - 23h43 | Última modificação: 16 Abril, 2015 - 17h29

Escrito por: Vanessa Ramos e Walber Pinto

Sergio Silva
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Trabalhadores tomaram a Paulista nesta quarta (15)

Na foto, Nelson Canesin, trabalhador que ateou fogo no boneco de Eduardo CunhaNa foto, Nelson Canesin, trabalhador que ateou fogo no boneco de Eduardo CunhaVagner Freitas também disse que se for preciso a classe trabalhadora cruzará os braços (Fotos: Sérgio Silva)Vagner Freitas também disse que se for preciso a classe trabalhadora cruzará os braços (Fotos: Sérgio Silva)
A Avenida Paulista mais uma vez foi palco da mobilização da classe trabalhadora nesta quarta-feira (15), Dia Nacional de Paralisação contra o PL 4330, projeto que amplia a terceirização para todas as áreas da empresa e retira direitos trabalhistas.

O ato, que reuniu milhares de pessoas, começou em frente à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), por volta das 15h30. Bonecos representando o presidente da Câmara federal, Eduardo Cunha, o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SDD-SP), e o empresário Paulo Skaf sofreram a ‘malhação de Judas’ e foram queimados em seguida. Um dos protagonistas da mística foi o bancário Nelson Canesin, ferido na última semana, em Brasília.

Nada mais lúdico do que usar do simbolismo para dar o recado direto ao Congresso e aos patrões de que os trabalhadores não aceitarão o retrocesso. Foi assim que os militantes saíram em caminhada para formar um bloco ainda maior com os movimentos sociais, como o de moradia. Enquanto isso, um terceiro bloco partiu do Largo da Batata rumo à unidade na luta pela democracia.

O ponto de encontro foi a Caixa Econômica Federal, que teve sua frente ocupada no instante da chegada dos sindicalistas. A bandeira mesclava o fim do PL da “precarização da mão de obra”, como chamavam alguns, com o direito à moradia digna.

Foi neste momento, embaixo de uma chuva fortíssima, que o presidente da CUT Nacional, Vagner Freitas destacou que as paralisações e atos ocorreram nas 27 capitais brasileiras. “Os parlamentares estão reunidos pensando o que vão fazer com relação ao 4330. Eles achavam que iriam passar o trator em cima da classe operária e que iríamos ficar apenas ouvindo. Mas estamos e continuaremos nas ruas fazendo o enfrentamento”, alertou.

Informações chegavam até os militantes de que, muito provavelmente, a sessão seria adiada na Câmara. E foi o que aconteceu. “Até o PSDB está revendo a sua opinião com relação ao projeto. Não porque eles querem defender o trabalhador, mas porque eles sabem que nós podemos derrotá-los nas ruas”, afirmou Vagner.

O presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Felício, alerta que o ataque do empresariado acontece no Brasil, mas também faz parte de uma prática dos empresários latino-americanos. “Cada país tem uma legislação que garante direitos. Mas aqui querem reformar a CLT [Consolidação das Leis do Trabalho] o que é péssimo porque sabemos o papel de liderança que o país tem aqui no Continente. Mas acredito na nossa capacidade de força para impedir que isso avance”.

Coordenador Estadual da CMP (Central de Movimentos Populares), Raimundo Bonfim explicou que a luta contra o PL 4330 está na pauta da Jornada Nacional de Luta por Moradia Digna, o chamado Abril Vermelho, realizado neste período pelos movimentos sem-teto que cobram direitos sociais.

“Hoje vários estados estão se dirigindo até a capital federal. Amanhã terá um ato da reforma urbana em Brasília e, com essa força e pressão dos movimentos populares urbanos, vamos cobrar uma reunião com a presidenta Dilma. Queremos dizer que não aceitaremos o PL 4330, nem a privatização da Caixa e nem o corte de verbas para programas de regularização fundiária e de saneamento básico".

Enfrentamento permanente

Os petroleiros, uma das categorias em que a terceirização se faz presente em forma de acidentes fatais, também esteve no ato e alertou que o crescimento desse modelo de contratação é sinônimo de péssimas condições de trabalho, conforme apontou a coordenadora do Sindicato dos Petroleiros Unificado de São Paulo, Cibele Vieira.

“A Petrobrás tem hoje 300 mil trabalhadores terceirizados e esse número, caso o PL 4330 não caia, só vai aumentar e piorar muito a vida desses trabalhadores e trabalhadoras”, explicou.

Secretária de Imprensa da CUT São Paulo, Adriana Oliveira Magalhães avalia que com as manobras do Congresso Nacional em relação ao 4330, os trabalhadores que elegeram a composição atual percebem que muitos são os parlamentares que não os representam.

Também bancária, a dirigente aponta quais prejuízos a lei representa para a categoria. “Significa que os bancos podem terceirizar caixa, central de atendimento e tecnologia da informação. O acordo coletivo de vinte anos que representa todos os bancários do país e garante uma elevação salarial e negociações a cada ano será rasgado”, disse.

Representante da Consulta Popular, Paola Strada avaliou que é urgente uma mudança do sistema político. “Com esse Congresso não dá, ele não fará a reforma política. Esse Congresso coloca o PL 4330 e daqui a alguns semanas vai votar o financiamento privado de campanhas eleitoral e vai querer impor, através dessa figura do Eduardo Cunha, mais uma derrota do povo brasileiro. Precisamos estar juntos, mobilizados”, finalizou.

No final da tarde, outra parte dos movimentos sociais e sindical chegou à Avenida Paulista com rojões. A Polícia Militar intensificou sua frota neste momento. Às 20h30 todas as organizações se encontraram para o encerramento final do intenso dia de mobilizações