Greve em defesa da PLR continua na Eletrobras
Nesta terça, mobilização entra no nono dia. Trabalhadores querem definição de regras para participação nos resultados
Publicado: 08 Junho, 2015 - 19h04 | Última modificação: 08 Junho, 2015 - 19h16
Escrito por: Isaías Dalle
A greve no sistema Eletrobrás entrou nesta segunda-feira, 8, em seu oitavo dia. Os trabalhadores e trabalhadoras querem a definição do pagamento da PLR (participação nos lucros e resultados) relativa a 2014.
As empresas que compõem o grupo, que somam 22 mil trabalhadores, tiveram resultados operacionais positivos no ano passado. Resultados operacionais referem-se ao aumento da produção, transmissão e distribuição de energia elétrica.
Porém, o conjunto dos resultados financeiros (lucros e dividendos) foi negativo, em grande parte, segundo a FNU-CUT (Federação Nacional dos Urbanitários), que representa a categoria, por causa da redução das tarifas decidida em 2012 e a posterior diminuição da quantidade de águas nas represas.
“A diminuição dos resultados financeiros não é responsabilidade dos trabalhadores. A produtividade cresceu, então precisamos discutir uma forma de remuneração extra pelo nosso trabalho”, explica Fernando Pereira, coordenador de Energia na FNU.
Outro ponto destacado pelo dirigente é que os resultados operacionais aumentaram apesar de o número de trabalhadores do sistema ter diminuído. Entre 2013 e 2014, 5 mil funcionários foram desligados através de um programa de demissão voluntária.
Reunião de 10 horas
No último dia 2, representantes da FNU e do sistema Eletrobrás realizaram reunião de negociação que durou 10 horas, em Brasília. Além da PLR deste ano, os trabalhadores querem que seja firmado termo para uma regra de transição que defina como ela será paga entre 2015 e 2017. Tal regra deve considerar cenários diferentes: quando houver aumento das três variáveis – lucros, dividendos e resultados operacionais – ou quando houver aumento em apenas duas ou uma das variáveis.
O pior cenário, que seria a queda das três variáveis, representaria o “apagão”, explica Pereira. “Se não houver aumento dos resultados operacionais, a produção de energia teria caído, o que produziria o caos”, explica o dirigente da FNU. “Então, esse cenário nem consideramos”, completa ele.
Em 2018, haveria uma regra definitiva. Atualmente, a PLR precisa ser discutida ano a ano, e sempre em cima da hora.
Repasse de R$ 18 bilhões
Além disso, o governo federal tem R$ 18 bilhões, em recursos do Tesouro Nacional, a repassar para as empresas do sistema Eletrobrás como forma de cobrir perdas causadas por contratos deficitários ou pela redução das tarifas.
“Reivindicamos que esses R$ 18 bilhões, mesmo que não possam ser repassados de uma única vez, sejam injetados nas empresas aos poucos. Enquanto isso, é importante que as empresas tenham novos planos de operação para melhorar os resultados financeiros”, diz Pereira.
Esse mecanismo de repasse já estava previsto no momento em que foi decidida a redução das tarifas. É também utilizado quando certos leilões, que não interessam à iniciativa privada por não serem lucrativos, são assumidos pelas companhias energéticas do sistema para que certas regiões do País não fiquem desassistidas. Neste caso, trata-se da aplicação do conceito do Estado como cumpridor de função social.
A FNU aguarda uma proposta da Eletrobrás e do Ministério das Minas e Energia até o final desta semana, como ficou acertado ao final da reunião do último dia 2.
Como é a greve na Eletrobrás
A greve no sistema Eletrobrás funciona com a ampliação dos turnos de trabalho de quem atua nas áreas operacionais. Normalmente, os turnos são trocados de seis em seis horas. No início desta greve, dia 1º de junho, o turno foi elevado para 24 horas. Desde o dia 8, o turno passou a ser de 12 horas.
“A ampliação dos turnos coloca a empresa em alerta, pois o pessoal operacional, permanecendo mais tempo no local de trabalho, fica cansado. Então, no caso de necessitar de um reparo numa linha, por exemplo, o serviço pode ser mais lento e então a reposição do sistema demoraria mais tempo que o normal em determinada localidade”, explica Pereira.
Portanto, é uma greve em que os trabalhadores acabam trabalhando mais que o cotidiano. Isso porque, explica a FNU, o serviço não pode simplesmente ser abandonado, uma vez que não pode haver falta total de energia elétrica para o setor produtivo nem para as residências. “Isso demonstra a responsabilidade que os dirigentes e os trabalhadores têm para com o País”, encerra Pereira.