Contra a barbeiragem na política econômica e social
Metalúrgicos do ABC protestam contra MPs e regras para financiamento de caminhões. Sérgio Nobre faz analogia com mau motorista
Publicado: 28 Janeiro, 2015 - 13h04 | Última modificação: 28 Janeiro, 2015 - 16h41
Escrito por: Isaías Dalle
As medidas provisórias 664 e 665, que vão subtrair direitos trabalhistas, não foram as únicas atacadas na manhã desta quarta-feira, durante manifestação de metalúrgicos em São Bernardo, no ABC paulista.
Com maioria de trabalhadores e trabalhadoras da fábrica de caminhões, ônibus e motores Scania, o ato mirou também alterações que o governo Dilma impôs às regras do Finame, linha de financiamento para aquisição de veículos pesados e tratores, tornando-as mais restritivas.
Antes da mudança, anunciada no final de dezembro, o BNDES, por intermédio do Finame, podia conceder financiamento de até 90% do valor do bem. Agora, uma empresa considerada de grande porte poderá tomar empréstimo de apenas 50% do valor do caminhão, ônibus ou trator. Empresas menores poderão financiar 70%.
“Isso é uma medida que vai contra a geração de empregos e que nos coloca em alerta”, comentou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques. “O sistema financeiro, do qual o ministro Levy (Joaquim Levy, da Fazenda) é egresso, é que está nos empurrando para essas medidas recessivas”, criticou, já sobre o caminhão de som.
A maioria dos 2 mil trabalhadores e trabalhadoras da Scania cujo turno teria início às 7h não entrou na fábrica, preferindo participar da mobilização. Eram quase oito horas quando outra delegação, composta por trabalhadores da Arteb e ZF, entre outras empresas, chegou em caminhada ao portão da sede fabricante sueca. O Sindicato calcula em 4 mil o número de participantes. Seguiram de lá para um viaduto sobre o km 21 da rodovia Anchieta, onde foi realizado o ato político.
Também metalúrgico, o secretário-geral da CUT Sérgio Nobre lembrou da necessidade de o governo adotar um plano de incentivo à renovação da frota brasileira de caminhões e ônibus, reivindicação antiga do movimento sindical. Nobre abordou também a proposta de criação de um sistema de proteção ao emprego.
Momento grave
As MPs 664 e 665, como não poderia deixar de ser, foram duramente criticadas pelos dirigentes. O secretário-geral cutista, para ilustrar os efeitos nocivos das medidas, destacou a questão do seguro-desemprego. “Há categorias cuja lógica de seus setores de atividade dificilmente dispõem de empregos que durem 18 meses ininterruptos. A construção civil e o comércio são dois exemplos. O que essas pessoas farão se a regra do seguro desemprego mudar?”, questionou. O governo Dilma quer exigir que o seguro só possa ser acessado, pela primeira vez, por quem comprovar um ano e meio de vínculo empregatício, ao contrário da obrigatoriedade atual de seis meses.
“Peço atenção à gravidade do momento que estamos vivendo. Tudo isso somado vai nos empurrar para a crise. O governo Dilma precisa suspender essas medidas. Se a gente fizer barbeiragem na economia agora, vamos perder muito do que conquistamos nos últimos 12 anos”, alertou Nobre.
Na próxima terça-feira, 3 de fevereiro, dirigentes sindicais da CUT e de outras centrais serão recebidos por ministros do governo Dilma, em São Paulo, durante audiência em que cobrarão a retirada das MPs.
O último encontro entre sindicalistas e o governo federal, como lembrado por Sérgio Nobre, ocorreu às vésperas do Natal, quando, segundo o dirigente, a presidenta Dilma foi instada a tomar medidas de proteção ao setor produtivo. “Mas eis que, para nossa surpresa, ela me solta um pacote no final do ano que nos prejudica”.