Passeata atrai apoio da população
Muita gente que não vestia vermelho juntou-se ao Dia Nacional de Luta
Publicado: 13 Março, 2015 - 22h53 | Última modificação: 14 Março, 2015 - 01h03
Escrito por: Isaías Dalle
Um grupo de cinco amigos, em pé sobre o canteiro central da Paulista, diante do Conjunto Nacional, aplaudia a passagem dos manifestantes. Sem camisetas vermelhas nem bonés de sindicatos. “Eu achava que ia ser importante, mas não imaginava que ia ser tão grande, ter tanta gente”, comentou o médico Aytan Sipahi, morador do bairro do Campo Belo.
“Eu queria estar marchando junto, mas minha coluna não permite mais”, gracejou, ao explicar que havia reservado o dia para apoiar a manifestação. Ao seu lado, o professor aposentado Geraldo Moreira Prado completou: “Eu imaginava uma coisa diferente. Mas, com chuva e tudo, foi um sucesso absoluto”, referindo-se ao grande número de participantes.
Visivelmente entusiasmada, a amiga Cleusa Maria da Cunha Bettoni, também professora aposentada, contou que saíram de casa nesta tarde exclusivamente para apoiar a defesa da democracia e marcar posição contra as intenções golpistas de setores da oposição e da mídia tradicional. “Tem mais amigos nossos por aí, mas estão na caminhada. Eu estou achando isso lindo, uma demonstração de unidade e organização”.
Brasiliense na Paulista
Na esquina da rua Augusta com a Paulista,o estudante de Direito Alexandre Azevedo, morador de Brasília, aproveitou a visita ao pai na capital paulista para acompanhar o ato, do qual soubera pelas redes sociais. “Olha, eu estou aqui há mais de uma hora e não para de passar gente. Está muito grande mesmo”.
De fato, nossa reportagem checou com o efetivo da Polícia Militar que segurava o trânsito na Augusta o horário em que as primeiras fileiras da passeata, que partira do prédio da Petrobrás em direção à rua da Consolação, atravessaram aquele ponto: 16h20. A última coluna de manifestantes, compacta como as anteriores, passou por ali às 17h40.
"Temos de preservar a Constituição como nossa regra normativa. A progressão democrática deve ser preservada como nosso maior patrimônio”.
Alexandre, que fez questão de dizer não ser filiado a qualquer partido, afirmou ser contra a ideia de impeachment. “Eu não concordo com a quebra do movimento democrático. Temos de preservar a Constituição como nossa regra normativa. A progressão democrática deve ser preservada como nosso maior patrimônio”.
Não longe dali, o segurança Nivaldo José aguardava, na porta do edifício em que trabalha, a chegada de visitantes. Enquanto recepcionava duas pessoas que acabavam de chegar de carro, falou conosco. “Pelo que estou vendo, estão defendendo a Dilma, né? A passeata está boa, bem organizada, pacífica. Olha, eu acho que se saísse a Dilma ia entrar uns caras aí que não são nada bons”.
Reforma política
Perguntado se acha que proibir doações de empresas e bancos para candidatos seria uma mudança importante, disse que sim. “Se o empresário patrocina a candidatura, depois de eleito o cara vai ter de fazer o que o empresário pedir, praticamente”. E aproveitou para criticar um traço do comportamento dos deputados e senadores: “Acho um absurdo eles poderem aumentar o próprio salário”.
Postada sob uma marquise, protegendo-se da forte chuva que caía naquele momento, a professora aposentada Heloísa Rios comentou que estava divulgando imagens e informações da manifestação para seus amigos no WhatsApp. “Não esperava que ia ser tão grande. Vim nessa, mas jamais iria à de domingo”, comentou. “Votei na Dilma na esperança de um bom governo. Acho que não está bom neste momento, mas temos de apoiar, pois as outras opções seriam piores”. Sobre a necessidade de reforma política, afirmou: “Tem de fazer, mas é preciso que parem de ficar empurrando com a barriga”.
Atento ao visor de sua máquina Nikon, o fotógrafo francês Didier Lavialle captava imagens que pretende oferecer à mídia de seu país. “Tem que defender o que tem de melhor, que é a democracia. Não vamos defender fascistas, reacionários, preconceituosos. A manifestação está sensacional”, comentou.
O temor de que ocorressem confrontos ou hostilidades não se confirmou. A grande presença da Polícia Militar é uma das explicações, mas não a única. Faixas e bandeiras nas janelas confirmaram o apoio das pessoas. Na rua da Consolação, quando um dos carros de som puxou o tema “Quem não pula é tucano”, vários trabalhadores e trabalhadoras à espera dos ônibus atenderam ao chamado e pularam sorridentes.
Layoff, mas sem desânimo
Operadora de máquinas na Mercedes-Benz, Genúsia de Araújo veio à Paulista usando o tempo livre de seu layoff (licença remunerada quando a produção de determinada empresa decai). Essa situação a deixa preocupada. “Eu me sinto pressionada. Não trabalho nem durmo tranquila, com receio de perder o emprego”, conta.
Mas esse momento de incerteza não a deixa furiosa com o governo federal? “Quem está no chão de fábrica sabe dos esforços que o governo tem feito nos últimos anos para defender o trabalhador e os salários e também para defender a própria indústria. Então valoriza. O que a mídia e a direita querem é privatizar, terceirizar. E isso não é bom para o trabalhador. Respeito o PT, respeito a CUT”, disse.
Zizia Oliveira, assessora sindical, entrevistada pela Rádio CUT, comentou, dirigindo-se aos jovens: “Nós temos uma Constituição desde 1988. É uma das melhores do mundo. Eu sugiro que a gente a leia, para saber a responsabilidade de cada esfera da administração do País. Seria muito bom para melhorar nosso Brasil”.
Já Ana Paula Melli, assessora de formação da CUT Nacional, mandou um recado à presidenta Dilma: “Como gesto de reconhecimento a essa nossa mobilização, ela poderia retirar as MP’s que reduzem direitos trabalhistas e anunciar a taxação das grandes fortunas”.