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"Petrobrás é vital para o futuro do país"

Secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre fala sobre conjuntura econômica e chama sociedade para atos em defesa da Petrobrás

Publicado: 10 Fevereiro, 2015 - 20h20 | Última modificação: 12 Fevereiro, 2015 - 09h24

Escrito por: Henri Chevalier

Roberto Parizotti
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Em entrevista ao Portal da CUT nesta terça-feira (10), o secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores nacional, Sérgio Nobre, ressaltou a necessidade de defender a Petrobrás dos ataques especulativos que tentam desconstruir a estatal.

"É claro que nós defendemos  a apuração dos desvios, das denúncias de corrupção. A corrupção é um câncer que precisa ser extirpado do nosso país. Agora, a empresa, por sua importância estratégica na soberania do país, tem que ser preservada. Ela é um patrimônio da sociedade brasileira, não podemos permitir, de maneira nenhuma, que em nome do combate à corrupção se inviabilize a empresa como estão fazendo", afirma Nobre.

No dia 24 de fevereiro, no Rio de Janeiro, os trabalhadores lançarão um manifesto em defesa da empresa. No dia 13 de março, estão sendo organizadas manifestações nas capitais do país em defesa da Petrobrás, dos direitos e da Reforma Política.

É preciso perceber que a Petrobrás não é um tema específico dos petroleiros, é um tema do conjunto da sociedade.É um tema dos petroleiros, claro, mas é também um tema dos metalúrgicos, porque todo setor naval, que estava morto, só foi reativado com a decisão da Petrobrás de fazer navio no Brasil e não em Cingapura. É um tema de todos os trabalhadores da indústria. É um tema dos profissionais da educação e da saúde. É do povo brasileiro.
Sérgio Nobre, secretário-geral da CUT nacional

Para Sérgio Nobre, a questão da Petrobrás aflige a todos os trabalhadores, desde os petroleiros que trabalham na empresa até professores e agentes de saúde, que recebem investimento com base nos royalties do petróleo. A defesa da empresa, portanto, deve ser encampada por toda a sociedade. "Acho que poucos trabalhadores sabem da importância do que está acontecendo na  Petrobrás".

O secretário falou ainda sobre as críticas da Central às Medidas Provisórias 664 e 665, a vigilância das Centrais sindicais sobre as pautas trabalhistas no Congresso Nacional e as negociações que se iniciam com o governo.

 

Confira trechos da entrevista:

A CUT vem se manifestando contrária à política econômica e de ajuste fiscal defendida pelo Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, baseada na ampliação das dificuldades de acesso a benefícios históricos dos trabalhadores. Como vê esta análise agora, após o Dia Nacional de Lutas e após serem apresentadas emendas às MPs?

A CUT tem se posicionado sobre as medidas econômicas desde o início do ano e não alteramos nosso ponto de vista: nós acreditamos que elas apontam para a recessão econômica, restringem recursos que deveriam ser destinados ao investimento e retiram direito dos trabalhadores. Se o país cresceu nos últimos 12 anos, ele cresceu exatamente pelo contrário do que está sendo feito agora. Cresceu porque apoiou-se a produção e ampliou a renda dos trabalhadores e os  programas sociais. Esse foi o caminho do crescimento. A agenda atual, de retirar recursos da economia e provocar recessão, é a que foi adotada na Europa e, se funcionasse, o continente já teria saído da crise há muito tempo. Em vez disso, o que vemos é que a crise lá só se aprofunda, justamente por causa desse receituário.

A política econômica e as medidas provisórias 664 e 665 estão equivocadas. Quanto à Economia, nosso caminho deve ser de redução dos juros, não de aumento. Deve ser investir cada vez mais na produção, ampliar crédito, criar empregos. E não restringir conquistas dos trabalhadores como fizeram as medidas provisórias. Em um país como o nosso, que ainda tem muito o  que fazer para proteger seus  trabalhadores - nós não somos uma Alemanha ou uma Dinamarca -,  a pouca proteção que se tem precisa ser preservada. Medidas como mexer no seguro-desemprego, nas pensões de viúvas, são medidas muito ruins em termos sociais. Nós temos denunciado isso e continuaremos denunciando.

 

Foto: Roberto ParizottiFoto: Roberto ParizottiA CUT vem defendendo também que é preciso interferir nas Medidas Provisórias, mas sem deixar de lado pautas históricas que podem ser tratadas no Congresso sem o conhecimento das centrais. Como nos preparar para essas frentes?

O  atual Congresso Nacional tem um perfil extremamente conservador, pior para os trabalhadores do que era o anterior. E, nele, existem dezenas de projetos que são prejudiciais à classe. O PL 4.330, que trata da terceirização, é um deles. Está pronto para votação, e sua aprovação é danosa para todas as categorias. Tem outros, como os que tratam do direito de greve, um direito sagrado dos trabalhadores. Tem  projeto até para aumentar a jornada de trabalho.

Diante desse cenário, as centrais definiram que nós tenhamos um monitoramento permanente no Congresso, porque, com esse perfil, ele pode, na calada da noite, pegar um desses projetos e aprovar sem que ninguém saiba. Nós monitoramos o que entra em votação com um plantão presencial e permanente no Congresso, uma alternância semanal das centrais sindicais, para que não corramos nenhum risco de que algo seja votado sem nosso conhecimento. Isso é uma estratégia. No momento, temos uma atenção especial com o PL 4.330, porque ele é um projeto que, se aprovado, pode promover retirada ainda maior de direitos do que se imagina.

 

Como está a negociação com o governo?

Nós conseguimos abrir uma agenda de negociação com o governo sobre três  temas importantes: Indústria, Medidas Provisórias e Plano Plurianual (PPA). A indústria está no centro das nossas preocupações agora, pelo seu enfraquecimento e as consequentes possibilidades de demissões. Quanto às MPs, nós queremos alterar significativamente o seu conteúdo, que atinge diretamente os trabalhadores, em especial os mais frágeis. E discutir as metas do governo no plano plurianual é importante para sabermos como está sendo traçado o futuro do país.

A abertura da pauta é uma vitória oriunda da mobilização que fizemos em 28 de janeiro. Agora, é preciso ter consciência de que essas negociações só andam se houver pressão nas ruas. Se as ruas estiverem indiferentes à negociação, ela não vai andar. Por isso nós temos que casar, como tem sido a estratégia da CUT, ser competente na negociação e ser mais competente ainda na mobilização de massa.

 

A mobilização de 28 de janeiro foi o Dia Nacional de Lutas por Emprego e Direito, que demonstrou a contrariedade das centrais sindicais às medidas anunciadas pelo governo.  Quais outras ações estão sendo pensadas?

Nós estamos convocando a população a se engajar em  manifestações importantes que merecem destaque. Uma delas é para enfrentar os ataques feitos contra a Petrobrás, e acontecerá em 13 de março, por todo o Brasil. No dia 24 de fevereiro, vamos lançar um manifesto em defesa da estatal, para chamar a atenção para o problema, e, no dia 13 de março, uma ampla mobilização em defesa da empresa. Também nesta quinta-feira (12) nós vamos ter uma reunião com todas as centrais sindicais para preparar a 9ª Marcha da Classe Trabalhadora, quando nós vamos apresentar um conjunto de reivindicações trabalhistas para que tenhamos um anúncio importante no 1º de maio. A marcha está prevista para final de março ou começo de abril, a depender da conjuntura. 

 

As ações em defesa da Petrobrás terão maior destaque nas próximas ações da CUT.

Nós temos consciência de que a Petrobrás é vital para o futuro do país. É ela quem vai explorar o pré-sal, e é de lá que sairão os recursos para melhorar a saúde e para melhorar a educação, como previsto na destinação dos royalties. Portanto, é preciso perceber que a Petrobrás não é um tema específico dos petroleiros, é um tema do conjunto da sociedade.


É um tema dos petroleiros, claro, mas é também um tema dos metalúrgicos, porque todo setor naval, que estava morto, só foi reativado com a decisão da Petrobrás de fazer navio no Brasil e não em Cingapura. É um tema de todos os trabalhadores da indústria, pela cadeia produtiva tanto do petróleo como das máquinas envolvidas com derivados dele. É um tema dos profissionais da educação e da saúde. É do povo brasileiro. O papel da CUT daqui até o dia 13 é mostrar que a Petrobrás, sozinha, representa 13% do PIB do país. E que se 13% do PIB do país forem retirados da economia, o país entra em crise.

É claro que nós defendemos  a apuração dos desvios, das denúncias de corrupção. A corrupção é um câncer que precisa ser extirpado do nosso país. Agora, a empresa, por sua importância estratégica na soberania do país, tem que ser preservada. Ela é um patrimônio da sociedade brasileira, não podemos permitir, de maneira nenhuma, que em nome do combate à corrupção se inviabilize a empresa como estão fazendo.

Veja só: os fornecedores brasileiros da Petrobrás, que são inúmeros, estão proibidos de participar de novas licitações da empresa. Há trabalhadores sem receber salário há meses, porque os fornecedores não recebem os pagamentos da Petrobrás. Esse bloqueio, além dos atrasos, está levando a milhares de demissões pelas empresas menores, e facilitando a entrada de empresas estrangeiras para fazer os trabalhos antes feitos por brasileiros. Isso tem que ser denunciado. Acho que poucos trabalhadores sabem da importância do que está acontecendo na  Petrobrás.

 

Há muita confusão em torno do tema, talvez por excesso de informação, talvez por distorção. Como dialogar com as nossas bases e esclarecer o que acontece?

Nós estamos vivendo um momento em que as redes sociais propiciam isso. Nós temos muita informação em todos os lugares, e tem informação que é verídica, tem informação que é plantada. Temos que, de alguma maneira - sei que isso não é fácil - selecionar essas coisas. Precisamos monitorar as informações que andam pelas redes, separar aquilo que nos interessa daquilo que não nos interessa, para não haver confusão.

Outra coisa é manter permanentemente nossos associados, nossos sindicatos, nossos ramos, interagindo com as decisões, análises e informações da CUT nacional. Com nossa análise e com aquilo que estamos produzindo. Nós estamos vivendo de fato uma conjuntura muito difícil, com possibilidade de uma crise econômica iminente que pode gerar demissões e esse ataque à Petrobrás, que é muito grave. Agora, o que nós não podemos é nos deixar levar por informações falsas. Devemos que aperfeiçoar nossos veículos de comunicação e estreitar as nossas  relações de comunicação com nossas bases. Isso é um enorme desafio, que na comunicação nós temos que vencer.