Trabalhadores querem sua pauta no centro do...
Encontro estadual do Macrossetor da Indústria da CUT no Amazonas debate intervenção nos fóruns de debate do desenvolvimento regional e nacional
Publicado: 25 Abril, 2014 - 13h13
Escrito por: Solange do Espírito Santo - CNM/CUT
Mais de 100 trabalhadores estão participando do Encontro Estadual do Macrossetor da Indústria da CUT no Amazonas. O evento, que começou nesta quinta-feira (24) e acontece em Manaus, é organizado pela CUT e suas cinco confederações de trabalhadores na indústria, em parceria com as entidades sindicais do Estado.
O encontro, que segue até esta sexta-feira (25), discute as demandas comuns dos mais de 180 mil trabalhadores e trabalhadoras do ramo no Amazonas e como viabilizar o Macrossetor da Indústria da CUT (MSI) no estado. O debate foi subsidiado por meio de painéis com lideranças sindicais, representação da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e técnicos do Dieese.
A partir dos relatos dos participantes, constatou-se que – apesar de haver uma política industrial específica para a região desde a criação da Zona Franca de Manaus, em 1967, e do estado ter um polo dinâmico e vigoroso – os problemas enfrentados pelos trabalhadores das cinco categorias do MSI são os mesmos que os do restante do país: alta rotatividade, terceirização predatória e incidência significativa de doenças profissionais, sem falar na dificuldade de se garantir o direito de organização no local de trabalho.
A mesa de abertura contou com a presença do presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, e dos presidentes da CUT do Amazonas, Valdemir Santana, e da CUT do Rio Grande do Sul, Claudir Nespolo. Na sequência, foi a vez dos representantes da coordenação do MSI: os presidentes da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT), Paulo Cayres, e da Confederação Nacional dos Químicos (CNQ/CUT), Lu Varjão, do secretário de política sindical da Confederação dos Trabalhadores na Alimentação (Contac), Nelson Morelli, e do secretário de Organização da Confederação dos Trabalhadores na Construção (Conticom), Benony Mamede.
Na sequência, o representante da Suframa, Adilson Vieira, apresentou um histórico da Zona Franca de Manaus e a sua importância para o estado. Ele avaliou que é preciso que os trabalhadores participem mais dos debates sobre os critérios do desenvolvimento regional e industrial da Zona Franca, lembrando que os empresários pressionam (e muito) o governo. “Os trabalhadores também devem fazer isso, até mais do que os empresários”, disse.
No período da tarde, o economista André Cardoso, da Subseção do Dieese da CNM/CUT, falou sobre o Plano Brasil Maior (a política industrial do governo federal), trazendo um histórico sobre a evolução histórica do ramo industrial nacional e os resultados das medidas de desoneração e incentivos fiscais na produção e emprego industrial. Ele apresentou ainda um rápido levantamento sobre o perfil das cinco categorias do Macrossetor no Amazonas. "Também no Amazonas, as mulheres ganham menos que os homens; em média seus salários são 27,1% menores que dos homens nas cinco categorias", mostrou, lembrando que a realidade nacional é reproduzida no estado.
A CUT e o desenvolvimento
Em sua intervenção, o presidente nacional da CUT destacou o papel do movimento sindical na defesa do modelo de desenvolvimento que os trabalhadores querem para o país. “Nossa responsabilidade é muito grande. Temos de ter propostas efetivas que garantam, além da manutenção dos direitos adquiridos até aqui, o aprofundamento das mudanças no país. Precisamos ter clareza de que crescimento econômico não gera desenvolvimento, não distribui renda”, assinalou Vagner Freitas.
O dirigente cutista lembrou que a classe trabalhadora hoje é protagonista na definição de políticas públicas para o país e que vive um período de disputa acirrada com a elite econômica sobre o modelo de desenvolvimento que se quer para o país. “Sabemos que não há economia consistente se não houver um desenvolvimento industrial consistente. Mas vemos que medidas paliativas – como desoneração fiscal – não foram suficientes para alavancar setores da indústria, nem para qualificar e manter os empregos. Por isso, temos de discutir com a sociedade, com a academia, quais propostas vamos defender junto ao governo. E aqui, o Macrossetor é fundamental para garantir este debate no país”, afirmou Freitas.
O presidente da CUT-RS, por sua vez, recordou a importância da CUT e seu modelo de sindicalismo para garantir os avanços nos direitos dos trabalhadores e a democracia no país. E avaliou que cabe às entidades cutistas participarem da formulação do modelo de desenvolvimento econômico e industrial para o país. “Temos condição de continuar fazendo história e o Macrossetor da Indústria é um mecanismo fundamental para a intervenção do sindicalismo nesse processo”, disse Claudir.
Emprego decente e jornada
Já o presidente da CUT-AM lembrou que apesar de o país viver uma situação de pleno emprego, o tipo de emprego existente não é de qualidade. “Nós continuamos a ser cobaias das indústrias e seus métodos produtivos. Aqui no Amazonas, as doenças profissionais são uma prova concreta disso. O volume de trabalhadores afastados por este motivo é imenso e nós temos de agir para acabar com isso”, afirmou Valdemir, que também preside o Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas.
O sindicalista defendeu que a CUT e o MSI devem brigar por contrapartidas trabalhistas nas concessões de incentivos públicos ao ramo industrial. “Queremos que as empresas produzam de fato, que não sejam só maquiladoras (montadoras de produtos). Mas queremos emprego de qualidade e jornada de trabalho decente para contribuir com a redução das doenças profissionais”, completou.
Macrossetor e a defesa dos trabalhadores
As lideranças nacionais do Macrossetor da Indústria apresentaram um rápido diagnóstico da situação das cinco categorias do ramo industrial. O maior problema apontado pelos sindicalistas é a alta rotatividade da mão de obra.
“Em segmentos da indústria química, as maiores vítimas da rotatividade são as mulheres e os jovens”, assinalou Lu Varjão, ao defender que é preciso garantir mecanismos para coibir esta prática empresarial.
Bonany Mamede também destacou a importância de combater a dispensa imotivada e também a precarização no trabalho, presente por meio da terceirização e das doenças profissionais, também dois graves problemas na construção.
Já Nelson Morelli assinalou que, embora o Brasil seja o maior produtor de cana, de suco de laranja, de carne bovina e de aves, os trabalhadores na indústria de alimentação também padecem destes problemas. “Por isso, o Macrossetor da Indústria é importante. Com a solidariedade de classe e a unificação de lutas e reivindicações, temos mais condições de reverter esta situação”, considerou.
Política industrial em foco
O presidente da CNM/CUT ressaltou a importância da indústria para o desenvolvimento de qualquer nação, lembrando que o Macrossetor é um instrumento poderoso para garantir a pauta dos trabalhadores nos debates nos fóruns públicos sobre o ramo. “Somos os porta-vozes de nossas próprias demandas. Por isso, não podemos terceirizar nossa representação”, avaliou Paulo Cayres.
O líder metalúrgico informou aos participantes as ações já empreendidas pelo Macrossetor – entre elas, a realização de outros quatro encontros estaduais (RS, BA, PE e PB), para articular demandas comuns nas regiões. “Também, pela primeira vez na história, as cinco confederações de trabalhadores na indústria se reuniram com o ministro da Indústria e Comércio para começar a debater suas propostas com o governo”, afirmou Paulo Cayres.
A audiência com o ministro Mauro Borges aconteceu em março e nela ficou acertada a realização de encontros bimestrais para garantir que a pauta dos trabalhadores seja assegurada.
“Precisamos lembrar que política de isenções e de desoneração não é política industrial. O que queremos é uma política de estado, que contemple os interesses dos trabalhadores. Por isso precisamos fazer enfrentamento e nos unir. Os empresários não estão unidos na CNI (Confederação Nacional da Indústria)? O Macrossetor nos torna muito mais fortes e dá uma nova perspectiva à ação das entidades cutistas”, disse Paulo Cayres.
Por estar envolvida em outras atividades, a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Vestuário (CNTV) não pode estar presente no encontro.